sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Laura

– Quem está aí?

– Sou eu.

– Eu, quem?

– Uma mulher.

Ele entreabriu a porta e reparou que eu estava nua. Afastou a tranca; escorreguei quarto adentro.

– A recepcionista?

– Não, a irmã dela.

– O que houve?

– Nada, ela me mandou em seu lugar – respondi quase envergonhada, sem saber onde colocar as mãos.

– Por que a máscara?

– Hoje é carnaval, lembra?

– Você não vai me roubar, vai?

– Só uma música – disse enquanto o abraçava.

– Música?

– O baile. Estão todos na cidade, vamos fazer o nosso.

Ele demorou mas, enfim, entendeu.

Quando o homem chegou sábado à tarde querendo se hospedar naquele lugarejo, experimentei sensação especial. Era um ator, já o tinha visto em algum filme na TV, e como era belo!, só não lembrava seu nome. A pousada ficava junto ao posto de combustível, o único na pequena cidade de Cianópolis, sudoeste de Goiás. Na verdade, eu fazia tudo naquela pequena hospedaria: varria, arrumava, lavava e passava a roupa de cama e servia o café da manhã. O local era freqüentado por motoristas de caminhões que seguiam para Mato Grosso. Nunca, porém, dera confiança a nenhum deles. Mas naquele dia... o homem era um ator, apesar de vir numa pequena camioneta, e era sábado de carnaval...

Tratei-o com cortesia e lhe ofereci o que havia de melhor.

– O quarto é simples, mas possui ventilador. Os dois banheiros são localizados na área externa; como hoje não há ninguém hospedado, creio que você terá mais conforto. Aqui no hall, você pode ver TV até a hora que desejar, e na geladeira há água à vontade. Se quiser, pode levar uma garrafa.

Ele demonstrou muita satisfação. Entreguei-lhe a chave.

– Devo ficar um ou dois dias – disse antes que eu o conduzisse ao aposento.

– Você deve pagar adiantado – avisei.

Ele tirou duas notas do bolso e me entregou, depois enfiou-se no quarto.

À noite, permaneceu vendo o carnaval pela TV até depois da uma da madrugada. Fiquei escondida na sala reservada a empregados; fiz como se não houvesse pessoa alguma na casa. Quando ele desligou o aparelho e foi para o quarto, eu já estava totalmente nua, apenas pequena máscara cobria-me os olhos. Aí fiz o que jamais pensara: fui primeiro até a entrada do pequeno hotel, pisei o passeio e senti no corpo o ar fresco da noite; depois, desliguei a luz externa e tranquei a porta. Então corri até ele.

Dançamos: músicas de um rádio de pilha. Após algum tempo, ele me segurou com força e me levou para cama. Era um homem rude, do jeito que eu gosto. Não lembro de ter transado com outro ator.
Só morri de vergonha, quando, sorrateiro, roubou-me a máscara!
De manhã, sussurrou alegre num de meus ouvidos:

– Hoje ainda é carnaval!

E me pediu que lhe servisse o café da manhã. Nua.

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