terça-feira, fevereiro 06, 2007

Linda

O corpo de alguém que nos deseja é sol que aquece, mesmo à noite e em céu de poucas estrelas.

A madrugada envolvia minha nudez. Cheguei à sala, aproximei-me do sofá onde ele dormia e deitei a seu lado. A princípio mantive-me quieta, depois o envolvi em um abraço cheio de desejo. Num primeiro momento, ele se assustou e tentou desvencilhar-se. Então sussurrei carinhosa em um de seus ouvidos: "sou eu, Linda, não era isso que você queria?". Aí mergulhei sob o lençol, lhe tirei toda a roupa e o abracei de novo; meus lábios úmidos procuravam os seus.

Quando aquele homem chegou em minha casa numa tarde de dezembro, percebi sem demora que não o deixaria escapar. Talvez tenha sido esse meu pensamento que o manteve sempre com a atenção voltada para mim. Ele era de outro estado, veio com a prima de meu marido e uma criança, um menino de sete anos. Viajavam, vinham de Brasília e, no dia seguinte, iriam para o sudoeste de Goiás. Passariam a noite em minha casa, em Goiânia. Foram, havia algumas anos, marido e mulher, mas, segundo ela, não tinham mais relações. Eram grandes amigos. Ele sempre vinha no período de férias para ficar com o filho. Ela o hospedava e o levava de um lado a outro junto com o menino. Aquilo soava estranho para muitos familiares, mas eu acreditava nela. Não dormiam juntos.

Conversamos após o almoço. Ele olhava tudo e não se surpreendeu quando mostrei que trabalhava num anexo a casa, um salão de beleza que eu construíra para completar a renda familiar.

Minha vida até ali sempre fora cheia de problemas e sofrimentos: o marido, trabalhando à noite, dormindo de dia, ganhando pouco e com problemas de saúde, não tinha quase contato comigo; o dinheiro sempre curto, para se conseguir qualquer coisa era necessário um sacrifício enorme.

Aliás, esse era um assunto sobre o qual eu não gostava de falar. Mas eles eram discretos, não fizeram perguntas a respeito.

Por volta do entardecer, saíram. Na verdade eu os acompanhei. Fomos todos visitar uma tia bastante idosa e um pouco adoentada. Durante todo o trajeto, fui no banco da frente. Orientava o itinerário à prima, que dirigia. Ele ia atrás, com o filho. Notei que me olhava e fazia perguntas sobre a cidade, pois estivera ali havia alguns anos e não mais lembrava os locais que visitara. Eu procurava responder tudo que estava a meu alcance. Mostrou-se muito alegre e simpático.

Durante a visita, quando foi servido o café, reparei que ele me olhava sorrateiro. Mostrou certo embaraço quando o surpreendi. Depois saiu e brincou no quintal com o menino.

Na volta, continuamos a conversar animadamente. Acabei convidando a todos para visitar uma feira de artesanato que acontece todas as quartas nas imediações de minha casa, e onde há também comidas típicas. Andamos toda a rua, já apinhada de gente àquela hora. Compraram alguns produtos e insistiram em levar bolos, salgados e doces para o jantar.

Quando chegamos em casa, preparei a mesa e completei com refrescos e refrigerantes. Comemos e continuamos conversando. Depois de algum tempo, ele foi para a sala e, enquanto olhava a TV, falava e brincava com o filho. Mais ou menos às dez horas, a prima foi para o quarto e levou o garoto, que despediu-se do pai beijando-o e lhe desejando boa-noite. Entreguei a ele, que ficou na sala, a roupa de cama, também desejando que dormisse bem.

Ainda sob o lençol, procurei facilitar para que ele me penetrasse. Girei depois de algum tempo e permaneci sob seu corpo. Senti vontade de chorar, mas a necessidade de prazer era maior. Cheguei a emitir alguns gemidos. Ele tapou-me a boca, pois temia que eu acordasse uma de minhas filhas, que chegara tarde após o dia de trabalho e de aula na faculdade. Jamais gozei como naquela noite. No final, lhe pedi desculpas. Ele pareceu não entender. Mas, no fundo, acho que era eu que pedia desculpas a mim mesma por aquele ato intempestivo. Algum tempo depois, pensando melhor, passei a crer que eu mereci aquela noite. Permaneci ao lado dele até as primeiras luzes do dia. Antes de deixá-lo, agachei-me e o beijei. Um beijo untado por lábios e línguas, que durou longos segundos. Só então, ainda nua, corri para o meu quarto.

No café da manhã, olhei sem temor na direção de meu recente amante. Ele sorriu. Suspeitei que a prima tivesse desconfiado. Mas ao partirem, deduzi que não.

Ela me beijou com suavidade e afeto. Ele fez menção de apenas apertar minha mão, mas ofereci o rosto. Beijou-me.

Pedi a eles que voltassem sempre.

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