Nua, sento-me na cama e olho o quarto. À meia-luz, cruzo os braços sobre os seios. Ele já se foi. A sacola que trouxera chamara-me a atenção. Dessas sacolas esportivas, de grife. Parecia um atleta. Lembro quando me avistou na rua há algumas horas. Sorriu, fez que me olhava sorrateiro. Eu conversava com a Lúcia. Pedia a ela um favor. Acho que ele ouviu nossa conversa. Excitou-se. E na rua tinha tanta gente. Ele sabia de mim, e sabia tudo. Lúcia ainda procurou na bolsa o que eu pedira. Deixa pra depois, falei. Não queria perder o homem. Tão bonito. Acabamos num quarto de hotel. Foi uma festa. Acho que teve medo de que eu olhasse o que havia dentro de sua sacola. Manteve-a próxima de si. Nem me aproximei. Tirou minha roupa. A saia curta e a blusa justa. Por falar em blusa, nem consigo encontrá-la agora; vejo apenas a saia jogada no chão, junto aos meus sapatos. Deslizou então as mãos por sobre o meu ventre. Pareceu adivinhar. Arrepiei-me. As mulheres como eu ainda se arrepiam? Claro, embora muitos pensem que não. Disse que eu era cheirosa. E como! Perfume francês. Massageou meus ombros, tocou de leve minhas costas, apalpou-me. Afastei as pernas. Comporte-se, ouvi-o dizer. Quase enrubesci. Sentei-me, cruzei as pernas, tapei os seios e esperei. Ele escalou-me cuidadoso. Quando me tocou decidido, eu disse: sou virgem e estou morrendo de vergonha. Rimos, rimos muito. Não ceda agora, ouvi-o de novo. Você é linda quando faz o papel de uma garota nova, ainda fresca, com as pernas cruzadas, duvidosa do que a espera. Ri de novo. Então ele me levantou. Como era forte! Não se deite, vejamos se você suporta; as garotas não gostam da primeira vez. Vou adorar, insinuei. Eu sei, rebateu, mas não me conte seu segredo. Não resisti, abri-me. Flor noturna que se escamoteia ao admirador mas não deixa de exalar perfume verdadeiro, ou mesmo aroma de Afrodite. Você está se desmanchando em mel, falou baixinho ao meu ouvido. E você nem experimentou, retruquei. As prostitutas não são como você. Quem falou que sou prostituta?, fiz-me de gata morena manhosa. É, tem razão, prostitutas não saem para trabalhar sem a calcinha. Trepamos por uma hora inteira. Quando acabou, sorriu, vestiu-se, pegou a mala e se foi. Um sonho, como poucas vezes acontece. O preço? Não perguntou, mas deixou mais do que devia. Apenas uma coisa me tornou curiosa: a sacola. Agarrou-se a ela como se ali residisse todo o segredo dele. O importante é que tudo foi tão bom... Agora, tenho que encontrar minha blusa.
quarta-feira, março 26, 2008
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