Esse carnaval foi um arraso, me diverti muito. Saí em duas escolas: uma na noite de domingo, outra na de segunda. Nas alas onde as fantasias são mínimas. Que curtição! Não há nada melhor do que ser estrela na avenida, em meio aos holofotes e sob as câmeras dos fotógrafos e de TV.
Mas quero contar algo que vai além disso. Aconteceu na terça. Não satisfeita, aceitei o convite de duas amigas para assistirmos ao desfile das escolas do segundo grupo. Nunca pensei que seria tão animado. Acho que o samba autêntico está nessas escolas; nelas predomina a criatividade e o samba no pé. Dentre todas as alegrias e satisfações de um ótimo carnaval, a melhor se deu já depois de meia-noite, quando os tambores ressoavam e tornavam mais intensas as batidas dos corações.
Um homem ficou por muito tempo me azarando. Eu sambava, cantava com as escolas, fechava os olhos, estava entusiasmadíssima. Ele aproximou-se e beijou minha boca. Uma pessoa qualquer tomaria um enorme susto. Mas mantive a tranqüilidade e agi como se nada tivesse acontecido. Ele continuou junto a mim. Minhas amigas já haviam se misturado a outras pessoas, ou mesmo arranjado namorados.
O recém-chegado ficou a dançar às minhas costas; vez ou outra encostava no meu corpo.
Depois de eu ter andado nos outros dias de fantasia, estava de vestido curtinho. Não é preciso dizer que até as mulheres olhavam para mim e sentiam inveja do meu corpo.
O homem não desistiu. Voltou com um novo beijo, num rodopio que fez com que nos encontrássemos frente a frente. Fui tomada por um terrível frêmito; aceitei o beijo – como ele sabia beijar! – e tocamos nossas línguas. Dali em diante, nosso idioma foi o gingar dos corpos, a sutileza dos abraços e a umidade dos nossos lábios.
Então ocorreu o clímax. Quando vinha a bateria da última escola, ele agarrou-me com mais volúpia. Surpreendeu-me, levantou o meu vestido. Não foram muitos os segundos para que eu sentisse toda a sua vitalidade.
Ainda bem que ninguém reparou. Cada um dos presentes também vivia o seu êxtase: uns com a música; outros com o balanço do corpo; poucos talvez da mesma forma que nós dois.
Queria que aquele momento fosse eterno. Ele soube fazer amor naquela posição desconfortável, como eu jamais experimentara.
Depois que tudo passou, ele também se foi, desapareceu na multidão. Encontrei então minhas amigas. Cada qual contou sua aventura. Eu falei que adorei o desfile, que sambei e me diverti muito naquela última madrugada de carnaval. “Só isso?”, perguntou Soraia. “Só”, foi o que respondi. Mas lógico que elas não acreditaram.
Ainda há um porém. Hoje pela manhã, após dormir quase a quarta inteira, fui à padaria. Quis tomar café quase ao ar-livre, envolta pelo clima de verão. De repente, vejo um homem conversando com outro em uma das mesas. Seria o dos apertos, beijos e tudo mais? Ainda bem que eu estava de óculos escuros e de cabelo preso. Agucei os ouvidos. Falava ao amigo justamente sobre o carnaval e sobre a incrível experiência que tivera.
“Você precisava ver a gata que conquistei. Vestia uma roupa curtíssima.”
“Onde?”, perguntou o amigo.
“No sambódromo, no último dia do desfile.”
“Em que lugar do sambódromo?”
“Na arquibancada especial. Escute só como foi: ela sambava num entusiasmo que não tenho palavras pra descrever. Então me aproximei por trás; de repente, dei um rodopio e beijei a boca da gata.”
“Ela não reagiu?”
“Não, agiu como se eu não existisse. Permaneci atrás dela. Na minha segunda investida, senti sua pele toda arrepiada. Entendi como um sinal verde. Ficamos juntos o resto da noite; beijei-a na boca o tempo todo e, no final, aconteceu...”
“Aconteceu o quê?”
“O principal, ora. Fui levantando de leve o vestidinho dela. Ela pouco a pouco me apertava com mais intensidade, então...”
Paguei meu lanche e fui embora. Temi que ele me reconhecesse.
Sabem como é, amor de carnaval deve ser assim: fugaz. Daí, a gente nunca esquece.
E mais uma coisa: não se deve dizer o nome nem perguntar o do parceiro.
Mas quero contar algo que vai além disso. Aconteceu na terça. Não satisfeita, aceitei o convite de duas amigas para assistirmos ao desfile das escolas do segundo grupo. Nunca pensei que seria tão animado. Acho que o samba autêntico está nessas escolas; nelas predomina a criatividade e o samba no pé. Dentre todas as alegrias e satisfações de um ótimo carnaval, a melhor se deu já depois de meia-noite, quando os tambores ressoavam e tornavam mais intensas as batidas dos corações.
Um homem ficou por muito tempo me azarando. Eu sambava, cantava com as escolas, fechava os olhos, estava entusiasmadíssima. Ele aproximou-se e beijou minha boca. Uma pessoa qualquer tomaria um enorme susto. Mas mantive a tranqüilidade e agi como se nada tivesse acontecido. Ele continuou junto a mim. Minhas amigas já haviam se misturado a outras pessoas, ou mesmo arranjado namorados.
O recém-chegado ficou a dançar às minhas costas; vez ou outra encostava no meu corpo.
Depois de eu ter andado nos outros dias de fantasia, estava de vestido curtinho. Não é preciso dizer que até as mulheres olhavam para mim e sentiam inveja do meu corpo.
O homem não desistiu. Voltou com um novo beijo, num rodopio que fez com que nos encontrássemos frente a frente. Fui tomada por um terrível frêmito; aceitei o beijo – como ele sabia beijar! – e tocamos nossas línguas. Dali em diante, nosso idioma foi o gingar dos corpos, a sutileza dos abraços e a umidade dos nossos lábios.
Então ocorreu o clímax. Quando vinha a bateria da última escola, ele agarrou-me com mais volúpia. Surpreendeu-me, levantou o meu vestido. Não foram muitos os segundos para que eu sentisse toda a sua vitalidade.
Ainda bem que ninguém reparou. Cada um dos presentes também vivia o seu êxtase: uns com a música; outros com o balanço do corpo; poucos talvez da mesma forma que nós dois.
Queria que aquele momento fosse eterno. Ele soube fazer amor naquela posição desconfortável, como eu jamais experimentara.
Depois que tudo passou, ele também se foi, desapareceu na multidão. Encontrei então minhas amigas. Cada qual contou sua aventura. Eu falei que adorei o desfile, que sambei e me diverti muito naquela última madrugada de carnaval. “Só isso?”, perguntou Soraia. “Só”, foi o que respondi. Mas lógico que elas não acreditaram.
Ainda há um porém. Hoje pela manhã, após dormir quase a quarta inteira, fui à padaria. Quis tomar café quase ao ar-livre, envolta pelo clima de verão. De repente, vejo um homem conversando com outro em uma das mesas. Seria o dos apertos, beijos e tudo mais? Ainda bem que eu estava de óculos escuros e de cabelo preso. Agucei os ouvidos. Falava ao amigo justamente sobre o carnaval e sobre a incrível experiência que tivera.
“Você precisava ver a gata que conquistei. Vestia uma roupa curtíssima.”
“Onde?”, perguntou o amigo.
“No sambódromo, no último dia do desfile.”
“Em que lugar do sambódromo?”
“Na arquibancada especial. Escute só como foi: ela sambava num entusiasmo que não tenho palavras pra descrever. Então me aproximei por trás; de repente, dei um rodopio e beijei a boca da gata.”
“Ela não reagiu?”
“Não, agiu como se eu não existisse. Permaneci atrás dela. Na minha segunda investida, senti sua pele toda arrepiada. Entendi como um sinal verde. Ficamos juntos o resto da noite; beijei-a na boca o tempo todo e, no final, aconteceu...”
“Aconteceu o quê?”
“O principal, ora. Fui levantando de leve o vestidinho dela. Ela pouco a pouco me apertava com mais intensidade, então...”
Paguei meu lanche e fui embora. Temi que ele me reconhecesse.
Sabem como é, amor de carnaval deve ser assim: fugaz. Daí, a gente nunca esquece.
E mais uma coisa: não se deve dizer o nome nem perguntar o do parceiro.