quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Cris e o amor

Não me devasse desse jeito, olhe apenas para o meu rosto. Eu conto o que aconteceu. Os homens adoram essas histórias, principalmente quando elas saem da boca de uma mulher. Foi o seguinte:

Encontrei um homem lindo, parecia ainda rapaz, mas já entrava pelos quarenta; elegante, jovial. Fui eu quem o abordou.

“Você não é da Filosofia, da UFRJ?”

“Não”, ele respondeu, “sou da UFRJ, mas da Letras.”

“Você é muito parecido com um antigo amigo meu da Filosofia; pensei que fosse ele.”

Continuamos a conversar. Estávamos no Espaço de Cinema, era uma tarde de domingo. Ele tinha ido para assistir a um filme espanhol; eu, apenas para sair um pouco de casa.

Comentou sobre o que fazia na universidade. Concluíra um mês antes o mestrado. Falou sobre o tema da pesquisa. Acabou me convidando para assistir ao filme. Aceitei. Era uma comédia, nem lembro mais o nome, mas naquele momento até que nos divertimos.

Quando o filme acabou, ele queria lanchar; acompanhei. Conversamos mais um pouco. Falei sobre mim, sobre o que faço na vida. Ouviu com interesse.

Ao despedirmos, ofereceu uma carona. Contra-argumentei:

“Você vai ter que dar muitas voltas, vou de ônibus, não quero incomodar.”

“Não incomoda, a gente aproveita e conversa mais um pouco.”

Aceitei.

Uma semana depois estávamos namorando. Comecei a freqüentar a casa dele. Um apartamento pequeno, no Centro, muito arrumadinho, cheio de CDs e livros.

O namoro, porém, não durou. Havia um mulheril terrível atrás dele, e aquilo me incomodava.

Ele dizia:

“Não se preocupe, não vou trair você, elas são apenas minhas amigas; não se pode viver sem amigos, não é mesmo?”

Mas não me acostumei com o jeito dele. A maior parte de suas amizades era de mulheres. Fui eu que terminei o namoro.

Um dia, estou sozinha de novo, no Espaço de Cinema, quando o vejo. Mas dessa vez com uma mulher muito bonita. Me escondi, não deixei que ele me descobrisse. Ele não deu por mim.

Então fui tentada a procurá-lo. Telefonei. Marquei. Saímos mais uma vez e depois de tomarmos algumas taças de vinho fomos para casa dele.

“Vi você com aquela sua namorada”, eu disse.

“Namorada?”

“Sim, aquela de cabelo castanho, curto.”

“Ah, sim, é a Rita. Mas não chega a ser uma namorada. Veio de BH, ficou aqui alguns dias, acabou acontecendo alguma coisa entre nós, mas não posso dizer que seja namorada.”

A existência daquela mulher pôs fogo nas minhas entranhas. Acabei por abraçá-lo, beijá-lo e por tirar toda a roupa. Quando já ia nua, falou:

“Vou contar a você uma coisa que aconteceu. A mineira é um tanto louca. Numa das noites, bebi bastante. No momento em que ela acabou de tirar a roupa, pedi: vai até lá fora e toca a campainha, faz de conta que está chegando nua pra me namorar. Ela ainda perguntou: nuazinha? Sim, respondi, nuazinha. Não é que ela foi?”

Então, eu disse a ele:

“Vou também. Sou tão louca quanto ela.”

“Você?”, ainda duvidou.

Saí duas vezes, deixei que ele trancasse a porta e fiquei pelada no corredor do quinto andar. E o corredor era tão iluminado...

Toquei a campainha. Ele demorou para abrir. Cheguei a pensar um pouquinho arrepiada: ‘Será que ele vai me deixar pelada aqui fora?’ Mas ele abriu. Entrei, me agarrei a ele e trepamos imediatamente. Eu que sou difícil de gozar, naquela noite gozei primeiro. Foi isso.

Veja só a maluquice que dá na gente quando se está apaixonada. Sou uma pessoa importante, diretora de uma escola técnica federal. Já pensou se alguém me flagra nua, se sou presa, sei lá. Na hora, esses perigos não me vieram à cabeça.

De lá pra cá me tornei uma mulher mais desinibida, mas às vezes tenho umas recaídas. Morro de vergonha. Agora pode me devassar, pode me apreciar nua. Só não me peça para ir lá fora, por favor...

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