O homem, que eu mal sabia o nome, movia-se sobre mim. No escuro da sala, sobre um colchão estreito, descobrira-me seminua. Puxara a coberta de algodão e reparara minha blusa curta e a calcinha. Entendera minha linguagem. Eu fingia dormir, mas estava ávida que compreendesse meus sinais. Suas mãos grossas deslizaram sobre meu ventre; a boca roçou meu rosto e procurou meus lábios. O beijo, úmido, temperado pelo ar frio da madrugada, revelou nossos corpos à procura de calor. Virei-me sem abrir os olhos e o abracei. Minhas mãos percorreram suas costas, afagaram-no até encontrar pouso em algum ponto em que os músculos recheavam nosso contato. Deslizou as finas tiras que me atravessavam os ombros. Minha blusa não demorou a desaparecer, envolta por outros panos que nos cercavam. A calcinha, eu mesmo a tirei. Mantivemo-nos abraçados; nossos sexos se encontraram por instinto; não precisamos de mais esforços.
Eram dez horas quando começou a reunião. Um encontro entre amigos. Eu era a única que não conhecia quase ninguém. A dona da casa, minha amiga, apresentou-me ao grupo.
O olhar de um homem alto, de cabelos escuros, não se desprendeu de mim durante boa parte da noite.
Amigos chegavam, saíam, comiam os canapés que minha amiga preparara. Bebiam vinho, cerveja, ou mesmo uísque. A música não demorou a se espalhar pelo ambiente. Houve quem trouxera um violão. Foi uma noite de arte. Não precisávamos de muitas palavras. Apenas sons em harmonia, alguns olhares, breves diálogos, sorrisos provocantes.
Na varanda havia um grupo que fumava; fumava e olhava para o mar. Quando as vozes se calavam, era possível ouvir o ligeiro bramir das ondas.
Alguém lembrou um namoro de outros tempos na faixa de areia lá embaixo; outro, uma história engraçada sobre uma namorada nua dentro de um automóvel estacionado; alguém falou sobre um banho de mar noturno ao mesmo tempo em que havia homens pescando.
De repente, uma poesia; isso, uma voz declamou Bandeira. Já na madrugada, alguns pares haviam se formado. Moços e moças que vieram juntos também trocavam afagos. Meu pretendente não lançou palavras em minha direção. Apenas o sorriso; bebia coquetel de frutas, às vezes comia uma pequena torrada com pasta; acompanhava a música quando havia alguém no violão.
Depois das três a casa foi-se esvaziando. Ficou a anfitriã, o marido, mais um casal, meu admirador e eu.
Mais alguns quartos de hora, ela falou:
“Fiquem à vontade, aqui há mais um quarto, e mesmo a sala, caso queiram pernoitar”, sorriu.
Pouco a pouco fomos aconchegando-nos. A sala escura, os últimos lampejos do que fora uma festa, um resto de alegria, o cumprimento de boa noite. Uma noite que já quase se esvaía.
No meio tom das sombras, fingimos adormecer. Como ele nada falara, tirei a saia e a deixei sobre uma das cadeiras. Enfiei-me seminua, ou semivestida, sob a coberta. Depois soube que a saia vazia sobre a cadeira o excitara; que uma mulher que insinua a pele branca, a nudez inesperada, faz um convite impreterível ao amor.
Naquela noite, não trocamos palavras. Apenas nossos dedos percorreram os abismos que tentamos fazer transponíveis. Construímos pontes sobre as sutilezas do amor e do gozo. E quando exaustos, após arfarmos e gemermos sob prazer inclemente, voltamos ao nosso chão. Cada qual a seu canto.
Quando amanheceu, acordei sozinha. E ainda nua.
Mas ele voltou outras vezes.
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