sexta-feira, dezembro 11, 2009

Londrina

Hoje, dou voz a uma amiga rica, que gosta de viajar, frequenta o jet set internacional e sempre está cercada de gente importante.

“Vou contar apenas um episódio que me aconteceu, porque falar sobre tudo seria preciso mais de um livro.

Tenho paixões por sapatos, de salto, já que sou baixinha: 1,66m. Em qualquer lugar, caso encontre uma loja dessa especialidade e nela alguns interessantes, não deixo de entrar e imediatamente comprar alguns pares. Sou atualmente casada com um empresário nórdico, digamos assim para não definir de quem falo. Tenho também uma outra paixão além dos sapatos; digo-a apenas agora: gosto de homens jovens. Tenho 39 anos, reconheço que os namorados mais interessantes são os que são cinco ou até mesmo dez anos mais jovens que eu. Outro dia estava almoçando num famoso restaurante, em Londres, quando vi numa das mesas vizinhas um jovem ator. Ele já me conhecia de uma recepção beneficente, inclusive contribuiu de modo generoso para uma de nossas causas, uma ONG ambientalista. Fui até à mesa em que conversava com os amigos e cumprimentei-o com alegria. Apresentou-me as pessoas que o rodeavam. Disse que precisava falar-lhe, mas não queria ferir a etiqueta. Marcamos um encontro no foyer do hotel, uma hora e meia mais tarde. Ainda aproveitei o curto espaço de tempo depois do almoço para atravessar a rua e mergulhar nos sonhos que os sapatos da loja em frente me instigavam. A vendedora me adorou, disse que já tinha lido alguma coisa sobre mim nos jornais ingleses. Comprei três pares. Depois voltei para o hotel. O ator já me esperava. Perguntou por minhas amigas, chegou a dizer que tenho uma espécie de séquito, isto é, moças e rapazes que sempre viajam comigo, para me servirem. Respondi-lhe que dera uma espécie de folga a eles, e que estavam a fazer compras pela cidade. Reparou que eu calçava sapato belíssimo, de salto.

‘Posso dizer uma coisa você?’, perguntou.

‘Claro.’

‘Já que estamos nos tornando amigos íntimos, adoro uma mulher sobre saltos, e tanto mais se eles forem bem altos.’

‘Que bom’, respondi, ‘assim você vai me amar cada vez mais.’

‘Há mais uma coisa.’

‘Qual?’, aprontei-me curiosa.

‘Gosto que elas apareçam sobre os saltos inteiramente nuas.’

Não deixei de rir, mas desviei a conversa. Uma mulher importante como eu não poderia demonstrar vulgaridade.

Despedi-me após uns trinta minutos. Falou que ainda ficaria na cidade por dois dias e deu-me o endereço de seu hotel.

Foi então que eu e as amigas que sempre me seguem nas viagens resolvemos aprontar. Contei a elas a paixão dele por mulheres nuas sobre saltos.

Fomos ao seu hotel por volta da uma da madrugada. Não foi difícil entrar e nos acomodarmos na suíte onde ele se hospedava.

Chegou sozinho, em torno das duas horas, ligeiramente bêbado. Achamos que assim seria melhor. Quando se atirou sobre a cama, havia muito que eu e as outras três estávamos em pelo. E sobre saltos.

Ao nos ver, saltou assustado, sentou-se sobre a cama, pegou a garrafa de uísque e bebeu no gargalo. Sorrimos, fazendo poses especiais. Andamos sobre nossos saltos, para que ele gozasse toda a sua paixão.

Quando quis nos agarrar, sinalizei que esperasse. Saímos as quatro. Nuinhas. E desaparecemos no corredor comprido do hotel.

Dias depois o vi na TV. Narrou o episódio. Disse, num programa noturno de entrevistas da BBC, que estava em seu quarto de hotel quando três (enganou-se na conta) mulheres nuas e sobre saltos invadiram o seu apartamento. O entrevistador perguntou se ele tinha exagerado na bebida naquela noite.

Respondeu:

‘Sempre exagero, mas nunca me aconteceu de aparecer três mulheres nuas ao mesmo tempo.’

Todos caíram na gargalhada.

Ainda bem que ele não contou sobre a noite seguinte. Tudo aconteceu da mesma forma. Só que fui sozinha. E não me dissolvi nas sombras.”

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