sábado, janeiro 23, 2010

Buenos Aires

Fui visitar meu namorado em Buenos Aires. Faz três anos que tenho esse homem maravilhoso. Duas vezes por ano ele vem ao Rio para me ver. Dessa vez, fui eu que decidi ir à sua cidade. O convite já era antigo, mas sempre dava uma desculpa adiando minha ida. Neste mês, aproveitei e viajei. Já no avião, pude observar o charme que é visitar uma cidade portenha. Várias pessoas elegantes mostravam-se sorridentes e felizes, porque estavam prestes a aterrizar num lugar maravilhoso. Quando saí da sala desembarque com minha bagagem, meu namorado surgiu junto às pessoas que aguardavam parentes e amigos. Beijou-me, um afago longo, em meio ao caminho. Os outros passantes só tiveram a desviar e a nos sorrir.

Adalberto tem um carro novo, grande. Tomou minhas malas e guardou-as cuidadoso. Pusemo-nos a trafegar em direção ao centro. Atravessamos a avenida Nove de Julio e a Corrientes. Mostrou-me alguns edifícios que dão imponência à capital. Levou-me depois direto ao seu apartamento; queria que eu descansasse e tomasse alguma bebida típica. Namoramos já na grande sala. Era possível, da janela do terceiro andar, ver grande parte do bairro, as avenidas largas, alguns ônibus, autos e ruas menores que cortam a principal.

Tirei o blazer, permitindo que me acarinhasse o ventre e os seios. Agarramo-nos um ao outro em longos beijos, como casal que há muito necessita da mútua presença. Aprontou-me uma bebida composta de laranja, rum e uma colherinha de açúcar. Que delícia! Serviu-me um pequeno sanduíche de salame. Do sofá onde estava, observei melhor o apartamento. Havia uma parede inteira com prateleiras, livros e mais livros. Adorei. Seus móveis e adornos despertaram minha atenção; senti atração pela sutileza dos detalhes. Havia cadeiras e poltronas antigas, mas suntuosas.

“Vamos a Caminito, à noite”, convidou-me.

Jamais pensei que o bairro fosse tão atrativo. Trata-se de uma quadra que fica no coração de La Boca, povoada por artistas de rua e casas de tango. Numa delas, também um bonito restaurante, pude aproveitar a música típica do país. Como pulsam os corações diante de tal espetáculo. Homens e mulheres exercitam-se em ritmo e movimentos alucinantes. Fomos muito bem servidos por garçons e maîtres. Bebe-se muito, e nós não éramos exceção. Ante a música envolvente, não perdíamos tempo e nos beijávamos constantemente. No escuro do local, meu namorado tocou-me primeiro nos joelhos; depois, um pouco mais acima. Eu vestia um vestido preto reluzente e meias finas.

“Quero sentir tua pele”, exclamou.

“Calma, daqui a pouco tiro a meia.”

Comemos pequenos e decorados quitutes, bebemos uísque. Não sei dançar tango, mas sob sua orientação e já entusiasmada por duas doses da bebida escocesa não foi difícil aventurar-me. Outros casais cruzavam o salão, numa maravilhosa sensualidade.

Era cerca de meia noite quando deixamos o restaurante. Desejávamos outras aventuras.

“Aonde vamos?”, perguntei.

“Ao Bosque de Palermo”, falou ao meu ouvido antes de mais um beijo.

Um bosque, a essa hora, pensei. Como que ouvindo meu pensamento, completou:

“É um local muito agradável, visita-se tanto durante o dia quanto durante a noite; também possui restaurantes e discotecas.”

Entramos com o automóvel, estacionamos e começamos a caminhar. A princípio, percebi jovens ruidosos. Iam às discotecas. Mais adiante, no entanto, próximo a alguns restaurantes de aparência luxuosa, o ambiente era mais discreto, com casais de meia idade ou grupos de homens e mulheres que pareciam comemorar alguma data especial. Como não estava frio, sentamos na varanda de um deles. Um homem de terno, muito solícito, veio-nos receber. Apresentou-nos suas saudações e nos trouxe dois aperitivos. Ficamos a ler os enormes cardápios. Pedimos, enfim, carne de carneiro. Não esquecemos de encomendar uma garrafa de champanha.

Poucas vezes comi num lugar semelhante. A luz era baixa, sentia-se o frescor da brisa noturna; a paisagem externa, composta de árvores e jardins, ficava na penumbra, mas sua presença anunciava-se através de pequenas luzes que cintilavam através dos diversos caminhos. Dentro do restaurante, um homem tocava piano. Permanecemos ali até às duas da madrugada. Meu namorado recitou-me alguns poemas: “Hay tanta soledad em ese oro. / La luna de las noches no es la luna / que vio el primer Adán. / Los largos siglos / de la vigilia humana la han colmado / de antiguo llanto. Mirala. Es tu espejo.” Eu não queria outra vida. Sussurrava-os ao meu ouvido, vez ou outra, beijando-me. Sabia de memória grande parte da lírica portenha. Senti uma paixão ainda maior por ele.

Quando nos retiramos e caminhávamos pelo bosque, quis fazer-lhe uma surpresa. Ele percebeu e falou:

“Já sei, vai tirar as meias.”

“Feche os olhos, sente-se aqui”, apontei-lhe um dos bancos em meio a uma grande árvore. “Abra-os apenas quando eu mandar”.

Voltei dois minutos depois.

“Não abra os olhos ainda, primeiro toque-me o ombro”.

Obedeceu-me.

“Não desça as mãos, espere. Isso, agora as deslize até meu ventre, devagar, atravesse meus seios.”

“Você está sem a blusa”, balbuciou.

“Calma, não fale nada, ponha as duas mãos nas laterais de minha cintura. Assim, isso mesmo. Deixe-as escorregar até minhas coxas”.

“Mas você está nua por inteiro.”

“Isso mesmo, pode abrir os olhos.”

Adalberto ficou excitadíssimo com minha ousadia. Agarrou-me, beijou-me, queria fazer amor comigo ali mesmo.

“Calma, vamos para dentro do carro”, falei.

“E o seu vestido, o que fez com ele?”

“Será que amanhã você me traz aqui para eu pegá-lo de volta?”

“Claro, mas será que não vão encontrá-lo?, é muito bonito.”

“Não se preocupe, acho que não; caso alguém o ache tenho muitos outros e, além disso, deixo a pessoa morrendo de tesão!”

Meu namorado pareceu não entender minhas últimas palavras. Corremos para o carro. Namoramos um pouco no estacionamento. Coloquei-me por cima dele e puxei seu sexo para fora. Depois de terminarmos, deixei que se ajeitasse e pedi que ele pusesse o automóvel em movimento.

Cheguei a seu apartamento peladinha. Muito rápido, livrei Adalberto de toda a roupa e fiz que se sentasse sobre uma das cadeiras estilo século XVIII; depois, sempre nua, sentei-me sobre ele, frente a frente; soltei o corpo, senti seu sexo escorregar fundo dentro de mim. Acho que esse homem jamais vai me esquecer. Imaginem o tanto que namoramos naquela madrugada.

À tarde, no dia seguinte, voltamos ao parque com a intenção de recuperar o meu vestido. Estava lá, escondidinho, como eu o guardara.
Minhas primeiras horas em Buenos Aires foram inesquecíveis. Qualquer dia desses, narro os dias restantes. Vocês sentirão muitos arrepios!

***
Hoje meu blog completa quatro anos de existência. Que bom que vocês estão presentes. Vou comemorar o aniversário com amigas e amigos. Sei que preparam uma festa: vamos a um bistrô que funciona até às duas da madrugada, depois me levam a um terraço. Continuem acompanhando minhas postagens. Obrigada a todos e muitos beijos!

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