quinta-feira, março 11, 2010

Arrepio

Vou contar a você. Na verdade, é um arrepio. No começo a gente fica meio temerosa, mas depois toma confiança. Chega um dia em que não se vive mais sem isso. Eles começam com algum tipo de galanteio e não demoram a fazer o convite. Primeiro, finjo que não entendi; mas, com o passar das horas, dependendo de como agem, aceito. Quando saí pela primeira vez com um homem que conhecera momentos antes, tremi de medo. Hoje, tremo, mas por outros motivos. O normal é eles nos levarem para um hotel, desses que nem são muito caros mas permitem o prazer. Ouça como é a primeira vez com um estranho, já que você diz não ter coragem. Deixei a boate às quatro. Me despedi das amigas. Beijei uma delas. “Não vai querer que eu fique de sobreaviso?”, perguntou arregalando um pouquinho os olhos.“De que adianta?”, perguntei, “salvarás minha vida?” Ela riu e insinuou: “às vezes não é a vida que corre perigo, mas outro imprevisto que se pode contornar com um simples telefonema.” Não pensei mais no que ela falou. Agarrei-me ao homem e fui com ele. Acho que todo ser humano tem tendência a confiar em alguém. Ninguém imagina que está ao lado de um fora da lei, de um tarado ou mesmo de um maníaco. Entrei com ele no hotel. Já no elevador, tacou-me um beijo na boca e apertou meus seios. Queria arrancar minha roupa antes de entrarmos na suíte. “Calma, vamos devagar”, falei preocupada. “Você vai fazer tudo o que eu pedir?”, perguntou ainda eufórico. “Não sei”, fiz charme, “só se não doer”. “Às vezes uma dorzinha é bom”, completou. Tremi um pouquinho. Será que me machucaria? Tirou toda a minha roupa. Nem me preocupei onde a colocou. Depois, ao contar para umas amigas, reparei que muitas têm preocupação com suas roupas, temem não encontrá-las após tudo acabar. Mas nem pensei nisso. Deixei que me envolvesse com seus grandes braços; permiti que fizesse tudo que desejava. Foi ótimo. Naquela noite nada se insinuou que me despertasse algum temor. Adorei seus afagos e beijos. Nas vezes seguintes, sempre que saía com alguém que conhecera momentos antes em alguma boate ou em outros lugares como restaurante, casa de espetáculo ou cinema, só sentia uma ponta de temor no começo, depois lhe depositava inteira confiança. Mas houve uma ocasião em que um deles rasgou minha roupa. Acho que fez aquilo porque vira num filme. A diferença é que, no filme, a mulher tinha um casaco comprido para sair do hotel. Eu, imagina, tive de sair nua. Se eu não deixara alguém de sobreaviso? Não, não deixara. Como fiz? Depois conto, mas ouça só. De início, jurei de pés juntos que a partir daquele dia (ou daquela noite, sei lá), não mais me deixaria seduzir por nenhum desconhecido. Mas quem disse que consegui cumprir o prometido? Não passou uma semana e já estava sentindo a maior falta. Confesso que o primeiro que apareceu me despertou temor. Mas, em seguida, senti uma certa atração pelo perigo. Hoje, continuo saindo, nunca mais me aconteceu nada de mal. O arrepio, porém, não deixa de estar presente. Ouça mais uma coisa, é sobre a Lurdinha, lembra dela? Com a Lurdinha aconteceu e continua a acontecer coisas muito engraçadas. Ela conheceu um fazendeiro, do interior de São Paulo. Viajou para a fazenda do homem. Parece que está apaixonadíssima. Ela não é como eu: é um pouco mais louca. Me contou que ele gosta de levá-la para passear inteiramente nua, à noite, calçada apenas de botas que vão até os joelhos. Aí ele pede a ela para dirigir o jipão deles até algum lugar deserto, manda-a saltar, passa ao volante e arranca com o automóvel deixando-a nua e só. Acaba sempre voltando para resgatá-la. Ela conta que certa vez pregou-lhe uma peça. Durante uma madrugada inteira escondeu-se no mato e não permitiu que ele a encontrasse. Voltou para a fazenda pela manhã, ainda nua e muito feliz. O homem a amarrou e ameaçou chicoteá-la caso não contasse o que fizera durante toda noite. Ela não abriu a boca. E diz que até gozou quando via a ponta do chicote prestes a estalar sobre seu corpo de mulher madura. Os dois continuam apaixonadíssimos. As brincadeiras não acabaram depois disso, não. Diz ela que até se multiplicaram!

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