– O fato, Joana, é que a maioria das mulheres quer casar. Se não fosse isso, não haveria problema.
– Não entendi, Margarida.
– É simples, dou exemplo: se você tem um namorado, sai com ele uma vez na semana e se sente satisfeita, por que há de perguntar o que ele faz nos outros dias?
– Tenho ciúmes.
– Pois o ciúme é fruto dessa tentativa de casamento. Ouça, você marca para sair com ele todo sábado, ou toda quinta. Ele vem, você sai. Ele a leva aos melhores lugares, a espetáculos, restaurantes, hotéis etc., você está plenamente satisfeita. Se você pergunta o que ele faz durante o resto da semana, ou se o quer por todos os dias, aí já vai acontecer algum problema.
– Joana, o raciocínio da Margarida está certo. Qualquer uma de nós que tenha um namorado e o sinta prazeroso não deve fazer perguntas. Não é isso, Margarida?
– Exatamente, Raquel. Certa vez eu tive um namorado que era maravilhoso. Nós nos encontrávamos uma vez, no máximo, duas na semana. Tudo era perfeito. Mas naquele tempo eu não pensava como hoje. Então comecei a investigar a vida dele. Descobri algumas traições, fiquei com ciúmes. Falei com ele sobre o que descobri. Conclusão: perdi o namorado, perdi alguém super-bacana. Não tinha mais ninguém pra sair, pra passear, pra trepar. Fiquei um bom tempo sozinha.
– Margarida, teria sido melhor aproveitar e nada perguntar. E você, Joana, concorda?
– Não sei. Desse jeito a gente vai acabar namorando alguém casado, não é, Marg?
– E o que tem isso? Se você não quer casar com ele e ele lhe causa imenso prazer nas vezes em que vocês estão juntos, nem é necessária essa preocupação. Ouça um exemplo. Nós estamos aqui neste bar, conversando apenas, não estamos interessadas em casamento, ou estamos? Sabemos que o casamento é algo problemático. Depois que o tempo passa, o relacionamento esfria. Então, se o bom é namorar e o homem é maravilhoso, não há de se fazer perguntas. Quando estou com ele, sou a pessoa principal na vida dele e ele é a principal na minha. Nesse caso, tudo está resolvido. Mas se você quer casar, a situação muda. Por isso falei e repito: o problema é que quase todas as mulheres querem casar. Pensando assim, há razão para se ter ciúmes. Mas se o caso for só o namoro, passeios, ou satisfação sexual, tudo está resolvido.
– A Raquel parece concordar com você, Margarida, mas eu não sei...
– Escute uma história interessante, Joana. Acho que nunca contei isso pra você ou pra Raquel. Certa vez tive duas amigas. Conversávamos sobre esse mesmo assunto. Uma delas deu uma idéia muito original. Nós três tínhamos que sair juntas com três homens. Deveríamos aproveitar o máximo e não nos apaixonar por nenhum deles. Traçou um plano muito engenhoso e tudo acabou sendo muito engraçado. Ela disse que conhecia muita gente e se encarregou de convidar os três homens. Primeiro iríamos a um teatro, depois a um restaurante. Tudo ocorreria como se fôssemos amigos. Mas apenas nos relacionaríamos com eles se as três se interessassem. E é claro, se eles também sentissem o mesmo. Ela (a que deu a idéia) produziu um artifício. Ouçam. Enquanto saíamos publicamente, não havia problema. Poderíamos nos portar como casais de namorados. Mas se decidíssemos ter relacionamento mais íntimo com qualquer um deles, deveríamos ir juntas. Já que éramos muito parecidas fisicamente, vestiríamos roupas semelhantes e aparecíamos no local combinado usando máscaras. Os homens também deveriam fazer o mesmo. Então escolheríamos um ao outro de modo aleatório e ninguém saberia sobre ou sob quem estaria. Lógico que não ficaríamos no mesmo quarto. O principal era que todos assumissem o compromisso de em nenhum momento tirar as máscaras. A luz ficava apagada, mas as mascaras não podiam ser tocadas. Ficávamos nuas, mas de máscara. Desse modo, eles sempre tinham dúvidas com quem estavam fazendo amor. E nós, as mulheres, também. Os relacionamentos foram ótimos. Ficamos todos juntos por quase dois anos. Saíamos os seis, transávamos os seis, nem eles nem nós sabíamos com quem estávamos na cama. Às vezes até desconfiávamos, mas não tínhamos certeza. Na vez seguinte, ao nos encontrar em lugares públicos, não fazíamos idéia alguma de quem fora nosso par na vez anterior nem de quem seria naquela noite. A cumplicidade dos seis fazia que não nos apaixonássemos por ninguém. Em conseqüência, não havia ciúmes nem sofrimento. Nunca houve um período tão bom em minha vida.
– Genial, Margarida, nunca ouvi semelhante experiência, é verdade mesmo?
– Claro, Raquel, por que razão eu iria mentir?
– E por que acabou?
– Certo dia um deles não resistiu e deixou uma de nós inteiramente nua, ou melhor, arrancou a máscara da mulher que estava cravada nele e a revelou rubra de vergonha. As máscaras nos incentivavam a narrativas e ações que não ousaríamos de cara limpa. O pacto então foi rompido. Ainda insistimos nos encontros durante algum tempo, mas já não era a mesma coisa.
– Querida amiga Margarida, querida Raquel, confesso que essa história de máscaras despertou em mim um arrepio jamais sentido, algo difícil de dizer. Enquanto alguém não me deixa pelada, isto é, de rosto e olhos nus, acho que tenho fôlego. Conheço alguns rapazes, tenho certeza de que eles vão adorar a idéia. Estou disposta a procurar por eles, que tal?
– Joana! Até que enfim, desabrochou, hein?
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