Estava nua na estrada. Pensei: se ele não volta vou ter problemas. Daqui a pouco passa o ônibus, o motorista já demonstrou que sente atração por mim, imagina se me encontra nessa situação. Meu pensamento tornou-se ainda mais instigante: o ônibus das cinco às vezes passa vazio, nenhum passageiro, vem da garagem em direção à estação, primeiro da madrugada, a essa hora também não há cobrador, já até sei o que vai acontecer...
Nunca havia praticado tal brincadeira, se é que se pode chamar isso de brincadeira. Mas meu namorado sempre se mostrou um pouco tarado. Pouco a pouco passei não só aceitar como achar ótimas as atitudes dele. Antes tivera um marido que não se excitava um pingo por mim. Depois da separação, a chegada daquele namorado foi providencial; portanto, suas taradices me atraíam.
A primeira delas foi na praia. Ele me convenceu a tirar o biquíni quando estávamos dentro d’água e entregá-lo em suas mãos. Ora, a cidade é pequena, muitos me conhecem, sabia que não demoraria a aparecer alguém para conversar comigo. Aconteceu. Apareceu uma ex-aluna. Fiquei morrendo de medo que ela descobrisse a situação. Nós ali conversando, e eu nua, coberta apenas pela precariedade de um mar de final de tarde. Meu namorado ficou por perto, já tinha guardado o meu biquíni nos nossos pertences, lá na faixa de areia. Estava nua e sem saída caso alguém percebesse. Mas a moça nada notou, conversamos um pouco e ela foi embora. Ele voltou, mas de mãos vazias.
“Você está gostando, não?”
“Estou”, respondi, “mas meu coração vai aos saltos.”
“Se ele está batendo, é sinal de vida.”
Na outra vez, convenceu-me a sair com ele às três da manhã e ficar nuinha na estrada, junto ao mato. Mas cadê ele que não vinha? Por aquele caminho não demoraria a passar o meu motorista admirador. Fiquei molhadinha. Ah, isso não vai dar certo, pensei.
Mas voltou o meu namorado. Voltou de carro, sem as minhas roupas dentro. Me levou nua pra casa dele. Para fazermos amor. Confesso que gostei muito. Gostei de ter ficado naquela situação e gostei da transa depois de tremer mais que vara de bambu. Confesso que jamais senti tamanha excitação. Não sei qual a palavra exata para exprimir o meu interior naquele final de madrugada.
Mas me ficou na cabeça o motorista que poderia ter-me encontrado nua. Pensei com insistência no que aconteceria caso meu namorado não voltasse. Refleti sobre todas as possibilidades. Depois lhe falei sobre o meu admirador.
“Quer dizer que você tem um admirador?”
“Um só não, vários, e caso me encontrem nua, você já sabe o que vai acontecer.”
“O quê, precisamente?”
“Preciso dizer?”
Não sei se meu namorado ficou excitado com tal possibilidade. Notei, porém, um fio de tremor em seus gestos.
“Você acha o que sobre mim? Estou quarentona mas ainda desperto desejos em muita gente?”
Um dia desses, depois de brigarmos, decidi que tomaria uma atitude. O namoro no começo estava ótimo. Mas com o passar do tempo começaram a acontecer umas confusões, uns problemas de origem nada fácil de descobrir. Aí, ele me deixava por uns dias.
Então, como estava com o desejo à flor da pele, saí sozinha, de bicicleta. No mesmo lugar em que me deixou nua na outra vez, parei. Escura a noite. Tirei toda a roupa, enfiei-a numa bolsa e a arremessei à outra margem do rio. Com as roupas por perto, a sensação não seria a mesma.
Agora só me resta esperar pelo motorista do ônibus. Doidinha para saber o que vai acontecer!
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