Sou de uma pequena cidade do interior do Rio, por isso sempre fui uma mulher recatada. Mas aquela invenção mexeu comigo. De início, fiquei apavorada, mas depois acabei aceitando. Como dizem por aí: foi amor à primeira vista. Portanto, tudo que ele me pedisse eu faria. E fiz.
Vamos do começo. Fui trabalhar numa escola. Um contrato temporário. Sou professora de matemática há bastante tempo, mas nunca trabalhei para o município de M. Alegrou-me a perspectiva da nova experiência. Logo no primeiro dia, me deparei com ele. Disfarcei, mas meus olhos me arrastaram para o local onde ele estava sentado. Não sei se o percebi um tanto entediado, ou triste. O jeito dele, porém, tocou meu coração.
Passaram-se duas semanas. Nos encontrávamos três dias na semana, comentávamos sobre as atividades escolares e as atitudes dos alunos, embora não ensinássemos a mesma matéria. Melhor assim, cada um na sua; falaríamos apenas, caso nos aproximássemos fora dali, sobre o que martelava em nossos corações.
Num belo dia, já quase na hora de ele ir embora, pediu o meu e-mail! Fiquei felicíssima. Falou-me acanhado, como se temesse uma recusa, ou mesmo ouvidos alheios. Senti que não desejava se arriscar, pôr tudo a perder num primeiro momento. Deu certo, encontrávamos a sós na sala dos professores. Ele anotou cuidadoso, conferiu, parecia temer qualquer letra diversa que poderia enviar sua futura mensagem a algum continente perdido.
Na mesma noite, escreveu-me. Não respondi no momento em que li. Precisava pensar. Procurei ganhar tempo, fazer-me de desatenta, “não gosto muito de computador”, ou “não olho minha caixa de correio todos os dias”, seriam minhas palavras quando o encontrasse. O que eu queria, no entanto, era me fazer de difícil. Representar. As mulheres são assim, não podem logo se entregar. Tal atitude pode estragar tudo. Mas vinte quatro horas depois, meu coração já ia descompassado. Eu tinha de responder. Escrevi seca: “ok, obrigada pela atenção”.
Quando nos vimos no dia seguinte, fui eu que me mostrei atabalhoada. Disse logo que o avistei: “recebi sua mensagem, já respondi”, sentei no outro lado da mesa enquanto ele me mostrava um ligeiro sorriso. Outro professor que estava no local – abria um armário – ainda chegou a olhar para ele, depois para mim, mas nada disse.
Um ou dois dias depois recebi outra mensagem.
“Lis, vou ficar na cidade a semana inteira, tenho uma ou duas noites livres. Aceitas tomar um chope comigo, ou mesmo comer uma pizza?”
Meu coração encheu-se de alegria. Era bom saber de alguém que se interessava por mim e me dedicava o pensamento!
Quis fazer-me recatada. Não podia aceitar logo de cara. Demorei quase três dias para responder. Acho que para um e-mail todo esse tempo é uma eternidade. Estava mais ansiosa que ele, no entanto.
Marcamos para o sábado seguinte. Levou-me a um restaurante, na orla. Confesso que, apesar de morar na cidade há muitos anos, nunca tinha ido a tal restaurante. O ambiente estava agradável, as pessoas bonitas, os garçons nos servindo com elegância e, o principal: comidas e bebidas maravilhosas.
Conversamos apenas amenidades. Ele falou sobre um livro que lera recentemente; eu, sobre um filme que desejava ver; comentamos sobre alguns assuntos que aconteceram durante a semana; enfim, nos esforçamos para não falar da gente. Permanecemos ocultos sobre a frágil capa das palavras.
Terminamos lá pelas onze e trinta. Ele deu uma volta de carro por toda a orla, dirigia vagaroso, parecia não querer que chegasse o momento de me deixar à porta de casa.
Ao sair do carro, sorri e beijei-lhe uma das faces. Ainda não foi ali que aconteceria o principal.
Como ele é de cidade grande, achei que desanimaria.
Na segunda vez, não esperei por ele. Disse o tanto que gostara do passeio, da conversa e do jantar. Convidou-me, então, de novo. Mas arriscou. Queria-me durante um dia inteiro de domingo. Iríamos a outra cidade: uma praia e duas cabanas que na verdade eram dois restaurantes rústicos.
Preparei-me. Biquíni novo, short, blusa curta, óculos escuros. Apanhou-me à porta de casa por volta das dez da manhã. Viajamos cerca de trinta quilômetros. Guiava devagar, olhava a paisagem, vez ou outra virava o rosto para mim e sorria. Também usava óculos escuros; no mais, camiseta, bermuda cinza e sandálias.
Ao chegar, escolhemos um pouso sobre a areia num local distante de onde já se encontravam algumas pessoas. A meia estação afastava os turistas. Olhando a longa extensão de areia à direita, podia-se reparar que não havia ninguém por lá, apenas o mar explodindo, a areia branca e, acima, alguma vegetação próxima à pequena estrada de terra.
Ele demorou a tocar o meu corpo. A princípio, pensei que ficaríamos apenas admirando a natureza, tomando banho de sol, de mar e conversando. Ele agia devagar, era cauteloso.
Fui eu que descontraí o ambiente:
“Adoro caipirinha. Naquela noite não pedi porque achei que você fosse fazer mau juízo de mim.”
“Mau juízo, o que é mau juízo?”, seus olhos tinham um ar de ironia.
“Amor, não me leve a mal”, falei a palavra chave sem perceber.
Levantou-se, caminhou até a pequena cabana e voltou com dois copos compridos, plenos, a bebida meio esverdeada e espumante nas bordas.
Sorvi o meu canudo delicada. O líquido chegou-me à boca; a temperatura baixa da bebida misturada ao teor de álcool, o calor de meu corpo e os sussurros do amor excitaram-me. Quando pousei o copo sobre uma pequena banqueta, ele abraçou-me. Era o primeiro beijo. Após quinze ou vinte minutos, nossas bebidas já tinham descido até a metade. Estávamos preparados um para o outro. Abraçamo-nos de novo; seguiu-se um longo beijo. Na posição em que estávamos, meio sentados, meio deitados, nossos corpos se aconchegaram. Completávamo-nos.
O dia foi maravilhoso e excitante. Na praia, não foram muitos os frequentadores. Apenas uma ou duas famílias. Os bares também tiveram pouca frequência, e os empregados nos atenderam com satisfação.
Houve um momento em que entramos n’água e permanecemos abraçados. Ele deslizava a mão pela minha cintura, pelo meu ventre, chegou a tocar o meu bumbum e acariciar as minhas pernas. Quis tanto que ele me deixasse nua! Mas nada falei. Meu coração palpitou mais forte, marcava a timidez que quase sempre me acompanha. Beijamo-mos dentro d’água, agarramo-nos bem apertado.
Lá pelas cinco, o céu já se avermelhava, e éramos apenas dois amantes no fim de tarde. Bebêramos com algum exagero, almoçáramos, e resolvemos caminhar um pouquinho na faixa de areia. Foi então que tudo se tornou mais fácil. Para mim e para ele. No meio da caminhada, encontramos mar adentro uma pedra solitária. Cabia apenas uma pessoa sobre ela.
“Você tira uma foto minha?” apressei-me a correr, entrei n’água e subi na pedra.
Ele fez a foto.
Fiz outra pose, encolhida, como estivesse nua e envergonhada. Clicou de novo.
“Você tem o corpo bonito. Não quer que eu tire uma foto de você nua?”
Sei que o coração dele bateu mais forte ao dizer a última palavra. O meu não deixou de acompanhá-lo.
“Nua, nua?”, repeti titubeante.
“Nua”, confirmou meio sonso, do jeito que eu gosto.
O gostinho das caipirinhas invadiu-me de novo o paladar, minha pele se arrepiou e o desejo expandiu-se dentro do meu corpo.
Nada mais falei. Soltei o top arremessando-o a ele; depois, o biquíni. Fiz a primeira pose sobre a pedra, a mesma que fizera vestida; a seguir, a outra, virada um pouquinho para frente, as coxas flexionadas na direção do tórax, mas deixando escapar o bico de um dos seios.
Depois que desci da pedra, entrei no mar. Pedi, então, que viesse ao meu encontro. Era o exato momento de me entregar. Não me arrependo. Não tive muitos namorados e, até ali, ele me fez sentir algo que jamais experimentara.
A câmera era minha. Levei-a com as fotos. No dia seguinte, mais uma ousadia: enviei-as para o seu e-mail.
Não tardamos a nos encontrar de novo. Eu, mais solta; ele, mais apaixonado!