quinta-feira, junho 17, 2010

Dissimulada

Meu namorado adora me fotografar. Desta vez me pediu algumas poses inéditas. É lógico que já me fotografou nua por inteiro. Mas, na última sessão, ele foi mais criativo. Primeiro bebemos uma garrafa de vinho tinto, de origem francesa. Uma delícia. Beliscamos pequenos cubos de queijo, tudo no mais alto requinte. Depois, começamos. Não esperava que fosse querer fotos naquela noite. Falou, porém:

“Silvia, tire a calça comprida. Fique apenas de blusa e de sandália.”

Eu calçava uma sandália muito requintada, de meio salto. Fui ao banheiro, fiz o que me pediu.

Voltei à sala nuinha do umbigo até os pés. Ele já me esperava com a câmera.

“Fique de pé, virada um pouquinho para a esquerda.”

Atendi. Coloquei-me ereta, mas num meio ângulo em relação à câmera, com as pernas retas, numa ameaça de dobrar um dos joelhos. Sorri para ele. E os braços? Eles são sempre um problema para quem não está acostumada a posar. Podem parecer que estão flutuando, sem que a modelo saiba o que fazer com eles. Não foi, porém, o meu caso. Encostei levemente as mãos nas coxas. A foto ficou uma gracinha. Apesar de eu me mostrar um tantinho voltada à esquerda, é possível ver que estou nua.

Em seguida, me pediu a mesma pose, mas na posição oposta, isto é, agora virada um pouquinho para a direita. A foto saiu tão boa quanto a primeira, só que apoiei as mãos na cintura, um charme a mais.

Pediu que eu ficasse de frente. É bom repetir: sempre nuinha desde o umbigo, apenas a sandália branca a combinar com a blusa curta. Fiz a pose, dobrei levemente o joelho direito, não queria parecer tensa, estática.

Depois me quis agachada. Correspondi. Na primeira, uma pose lateral, aparecendo a parte externa da coxa direita, mostrando que estava nua, mas sem apresentar o principal. Daí, veio a pose apoteótica. O nu frontal, ainda agachada e com as pernas levemente abertas. Um verdadeiro show. Tive o cuidado de manter a coluna bem reta; mostro altivez, elegância e conforto.

Outra série. Dessa vez sentada no sofá, ainda nua. Pernas cruzadas, a direita sobre a esquerda, olhando à câmera, ligeiro sorriso, como se estivesse à espera de alguém. Em seguida, quase a mesma posição, só que agora com a perna esquerda sobre a direita, mas o olhar voltado para um ponto fora do visor da câmera, a face séria, mas não inteiramente preocupada.

Outra pose: as pernas ainda cruzadas, lendo uma revista, esquecida de que estou nua, “talvez ainda tenha que esperar um pouco, mas não se impaciente, leia um pouco”, disse ele. Ah, meu namorado e suas fantasias...

Mais uma foto. Ainda sentada sobre o sofá, as pernas não mais cruzadas, mas ligeiramente abertas, como se num momento durante à espera eu esquecesse que deveria disfarçar a nudez e perdesse momentaneamente o controle sobre meu corpo; o olhar vago, já um tanto indagador, o que me acontecerá, terei de esperar nua por muito tempo?

Mais duas fotos para completar a fantasia. A penúltima, depois da seguinte história, contada por ele com voz entrecortada:

“Lembra aquele conto que nós dois lemos? A mulher anda com o marido pela rua, senta num banco à beira mar. A madrugada vai alta, ele lhe tira a saia, e ela, nua, se deixa ficar. Por momentos, deseja estar sem ele por perto, pede que se vá, pois quer experimentar uma aventura. Ele atende. Volta vinte minutos depois. Ela, porém, já não está no mesmo lugar. Aparece em casa de manhã, ainda seminua. Jamais lhe contou o que aconteceu. Fizemos a mesma coisa, lembra? Não foi apenas meu o desejo. Você também achou ótima a ideia.”

Fez então a foto: eu nua, à beira-mar, sentada num banco, sozinha.

“Agora a última. É o desfecho, mas da nossa história”, continuou. Mostrava-se excitado. “Você sentadinha, lívida, naquela sala sóbria. Acabei por ter de ir buscá-la. Estava na mesma posição, como no banco à beira-mar, ainda nua, a face séria, as pernas cruzadas, balançava um dos pezinhos fingindo enfado. Desculpei-me e agradeci a seus benfeitores. Paguei a quantia que pediram e trouxe você, ainda branquinha, nuinha. Você não pronunciou som algum, nenhuma palavra. O bom foi quando chegamos em casa, lembra? Depois de tudo resolvido, como você gritou. Excitadíssima! E ainda havia a foto, feita por eles. Mas você diria que aquela não era você, mas uma mulher muito bonita e parecida. Vamos, faça agora a mesma pose! Mostre a sua verdadeira face: dissimulada!”

Nenhum comentário: