sábado, janeiro 29, 2011

Passeio no bosque

Minha amiga de Glicério enviou mais uma história excitante, ela viajou nas férias para um hotel fazenda, e registrou tudinho em seu diário...

Que linda manhã!

Ontem até chegar aqui foi estressante. Engarrafamentos, acidentes na estrada e pedágios fizeram parte deste meu trajeto.

Estou com o meu diário em mãos, para não deixar escapar sequer uma vivência neste paraíso.

Minha filha, neta e genro ficaram dormindo.

Saio pelos arredores do hotel. Passo por inúmeros hóspedes. Todos com a aparência transbordando felicidade. Lógico, aqui se hospedam pessoas que não fazem parte da massa que sobrevive do mísero salário mínimo do governo.

Descubro que ao redor do hotel há um parque. Caminho sem destino, percorro trilhas entre árvores, troncos, pontes e bancos. Tento descrever a beleza do lugar.

Quando eu voltar das férias, terei o que contar aos meus colegas, direi o quanto pude relaxar.

As frutas geralmente nos causam sensualidade, e o aroma matinal me proporciona um intenso arrepio.

O imprevisível acontece. Avisto a peça inferior de um biquíni, pendurada num dos galhos de uma mangueira. Paro, olho para os lados. Todos que ali passeiam estão distantes e jamais irão perceber que observo aquela parte íntima tão peculiar às mulheres.

Não é comum estar ali. A pessoa que a desprezou está sem, em algum lugar, fazendo algo muito estimulante. Só de imaginar morro de tesão.

Não hesito. Pego a pequena peça e a coloco como marcador do meu diário.

Nem sei o porquê de agir assim. Possuo uma coleção de calcinhas de biquínis, mas aquela será especial, fruto do pecado de alguém que talvez poderá ser o meu. O forte do ser humano é experimentar sensações.

Chegando ao hotel darei um jeito de desinfetar esta preciosidade. Se alguém perceber me chamará de louca, porém estarei louca é por uma trepada.

No hotel encontro o pessoal já acordado. Me viram passar em frente ao salão de chá. Fui direto para o quarto que divido com minha neta. A aventura seria mais interessante se a menina não chegasse.

"Vó, vamos passear no bosque?"

Enfurnei o objeto e saímos.

Quando caminho de novo entre as árvores, é impossível retomar a aventura. Fica apenas o registro no meu diário.

domingo, janeiro 23, 2011

Aniversário

Hoje meu blog completa cinco anos de existência. Agradeço a todos vocês, leitoras e leitores. Que possamos estar sempre juntos, e que vocês continuem apreciando minhas histórias. Um grande beijo,
Margarida

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Beliscadela

Estou pelada, daqui a pouco vai chegar alguém, portanto tenho pouco tempo para lhe contar. É sobre a foto que você quer saber, não? Tirei há duas semanas. Pedi a um amigo. Fiquei ótima, sei disso. Estou nua na foto, mas não ficou vulgar. Você disse que estou com cara de pimenta, de mulher que não tem vergonha de dizer sobre o próprio desejo. Você falou mais uma coisa, uso suas próprias palavras: uma mulher que não tem medo de gozar. Essa expressão já está ultrapassada. Acho que faz tempo que as mulheres querem gozar, e não é só no final, mas durante todo o tempo. Você comparou a foto com uma que você tem, tirada há oito anos. Diz você: nesta você está com cara de envergonhada. Não sei, não. Eu? Com cara de pejo? Acho difícil. Mas como você parece entender das coisas, vá lá. Naquela época eu saía menos que hoje. Achava ruim sair sozinha. Essas coisas que algumas mulheres pensam, sempre precisam chamar uma amiga, ou estar em grupo porque caso isso não aconteça ficam em casa vendo televisão. Veja, ver televisão... Se ainda fosse lendo um livro. Isso, porém, já é outra história. Voltando ao assunto. Comecei a sair só. Passei a conhecer uma porção de pessoas. Homens e mulheres. Me convidavam para ir a muitas festas, a peças de teatro, a outros espetáculos e a tudo mais. Comecei a encontrar muita gente. Mas evitava sair em grupo para não criar compromisso de estar sempre com aquelas pessoas. Num determinado dia conheci um cara. Não vou dizer que não transei com ele. Transei e foi muito bom. Não pela própria relação em si, mas pelo que me sugeriu. Sempre fui uma mulher altiva, desinibida, você sabe que já andei até nua pela cidade, de noite. Na cama, no entanto... Isso mesmo, no entanto... eu era um tantinho envergonhada, digamos assim. Esperava pelos homens, achava sempre que a iniciativa tinha de ser deles. Por isso, talvez, na foto antiga eu, nua, esteja sugerindo um certo ar de envergonhada. Até então. Porque o tal homem me ensinou umas coisas. Disse que as mulheres têm músculos que precisam ser dominados, que se eu conseguisse o domínio de um certo músculo, se o movimentasse adequadamente, iria enlouquecer todos os homens dali em diante. Não preciso dizer mais sobre isso, não é mesmo? Você já deve estar imaginando do que se trata. Ele sussurrou no meu ouvido, no momento do amor: "agora, tente, é como um pequeno beliscão, mas não é com os dedos, vai, mexa, pense primeiro, você vai conseguir, e nem é preciso muito esforço." Daquele momento em diante, aconteceu. Ouvi da parte dele: "isso, assim mesmo, viu?, aprendeu rápido", e me beijou terrivelmente. Não fiquei com ele por muito tempo. Continuei com as minhas saídas, e quando me sentia atraída por algum homem você já sabe o que acontecia. Dali em diante, coloquei em prática aquela beliscadela. Os homens enlouqueciam. Todos eles. Sem exceção. Por isso acho que agora saio com essa cara no retrato, cara de pimenta. Era isso que eu queria falar a você sobre a foto. Agora tenho que correr ao banheiro para me vestir porque alguém está chegando. Aqui na pousada há também uma porção de gente hospedada. Se eu não correr me pegam pelada. Um beijo, tchau, depois falo com você de novo.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Quer saber mesmo?

Você sabe, existe gente para tudo. Depois que ele me deu aquele beijo e, sobretudo, depois do que me falou – acho que um poema – senti uma terrível vontade de estar nua nas mãos dele. Lembrei, então, o que a Kelly me contou algum tempo atrás: não resistiu e pediu ao homem que recém conhecera que a deixasse inteiramente nua, que a fizesse se sentir muito assustada e, enfim, que a acariciasse intensamente.

Minha amiga me olhou um pouco desconfiada, mas nada falou. Continuei.

Nunca teve essa sensação, Alice? Acho que toda mulher ao menos uma vez na vida já passou por isso. Você vem caminhando num sábado, ainda é de manhã, bem cedo, vem o homem dos seus sonhos na sua direção, é lógico que até ali você ainda nada sabe sobre isso. Você continua pelo mesmo caminho, no canto esquerdo da calçada, apenas ele e você àquela hora da manhã, mas ele não desvia, vem pelo mesmo lado em que você está, como se fosse lhe dar um grande esbarrão. Ora, sou mulher, o homem é que deve desviar. Mas ele não dá o menor sinal de que vai sair da frente. Então, quando tudo leva a crer que vai haver um choque entre vocês dois, ele lhe dá um beijo. Tive de rir. Isso mesmo, acabei rindo. E também, confesso, arrepiada. O homem me deixou com desejo de sexo às sete e meia da manhã, Alice, e era primeiro de janeiro.

Ela sorveu mais um gole de café, senti que desejava saber a continuidade da história.

Parei e olhei para ele. Isso mesmo. Parei e olhei de modo desafiador. Sabe quando uma mulher enfrenta um homem, olha com tremenda raiva, como se ele tivesse cometido um grande mal? Tudo fingimento, é claro. Mas foi assim que o olhei. Pensei que iria virar de frente e continuar o seu caminho. Eu demonstrava intensa indignação. Mas ele não se foi. Chegou bem perto. Não temeu que eu o agredisse. Sussurrou quase juntinho do meu ouvido: eu te amo. Suas palavras me pegaram de surpresa, me desconcertaram. Já pensou o que é um desconhecido chegar perto de você e dizer que te ama, e isso do modo mais caloroso do mundo? Muda tudo. Sério. Suas palavras mudaram o curso das coisas. Como pode um homem se declarar assim, de primeira, a uma mulher? Sei que existem vários tipos de cantadas, e que certamente aquela seria uma delas. Mas suas palavras soaram como jamais a de nenhum outro homem. O que aconteceu pode ser explicado da seguinte maneira: me senti como se ele tivesse me deixado nua sem que eu esperasse. Ainda rindo, perguntei: o que você quer de mim? Ele me respondeu, mas não o que eu esperava, disse apenas: acho que nos encontramos, e já te espero há tanto tempo. Ri de novo. Me espera há tanto tempo? Como assim? Não sei explicar, falou, mas tínhamos de ser um do outro, tínhamos de nos conhecer hoje. Naquele momento entendi o que é o amor. Mesmo que tivesse virado as costas e caminhado para longe dali, minha vida já não seria a mesma. O que fazemos, então?, perguntei. Não sei, acho que não precisamos fazer mais nada, falou.
A curiosidade mata, Alice. Já ouviu o ditado? Mata, sim. Pura verdade. Quer saber mesmo? Fiquei nua. Isso mesmo, inteiramente nua. Na mesma hora. Qual poderia ter sido minha atitude, senão essa, e logo no ano novo?

Elevador das ilusões

Há um tempo tinha medo de andar de elevador, mesmo para ir ao vigésimo andar preferia subir as escadarias. Parecia estar pagando promessa.

Quando tinha acabado de perder o medo, aceitei o desafio de ir ao último andar do prédio em que meu namorado mora. Hoje ex, porém amigo e confidente.

Ir ao último andar me pareceu fácil, mas ir lá excitada e preocupada se vou ser vista nua por algum morador é loucura.

Na primeira vez tive a ilusão de que nenhum morador iria me ver. Apenas meu parceiro já tinha me visto.

No embalo do prazer, saí. Sandália alta, bolsa no ombro e mais nenhum acessório. Poderia ter colocado uma daquelas perucas e óculos fantasia, mas não me veio à mente. Estava ansiosa para cumprir o combinado e voltar para a culminância final, gozar loucamente.

"Meu amor, vai que eu te espero."

Ele fechou a porta do apartamento. Senti um calafrio de abandono. Apertei o botão chamando o elevador. Entrei e determinei onde queria chegar.

Quem mora no último andar é o síndico do prédio, homem sério, que talvez não se ligue nessas fantasias sexuais. Imaginem este homem circulando pelo prédio e vendo uma mulher que ele conhecia ou até mesmo julgava ser uma pessoa de respeito andando nua de madrugada, namorada de um mestre quase doutor em literatura brasileira? Ia ter um daqueles chiliques, chamar a polícia ou jogar água gelada para que ela acordasse do delírio.

Mas, desta vez, tudo deu certo. Pelo menos é o que parece. Será que o síndico até hoje não se delicia com a gravação da câmera de segurança do prédio e goza escondido da esposa?

O meu corpo é naturalmente escultural. Provoca prazer. O da esposa dele já não lhe causa mais tanto tesão. A cara do síndico e seu jeito demonstram que ele precisa tocar punheta em frente a uma revista Playboy, porque a mulher já deu o que tinha que dar.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Presentinho de ano novo

Estávamos no Iguatemi, domingo à tarde, eu, Graça e Maristela. Como era o primeiro domingo do ano e as festas havia dois dias tinham terminado, predominava o clima de passeio que completava os feriados de reveillon, famílias saíram de casa para almoçar no shopping.

Esperávamos os rapazes; um fora ao toalete; o outro estava um pouco atrasado. Enquanto as pessoas passavam por nós, podíamos observar as vitrines das lojas que ficavam do lado oposto de onde nos encontrávamos. Ao fundo se localizava a livraria Cultura, Graça olhava para lá. Maristela reparou que tanto os homens quanto as mulheres passeavam bem vestidos.

“É porque a temperatura caiu, apesar de verão. Em Brasília é assim, por natureza já não é uma cidade quente, e as chuvas de verão fazem a temperatura em torno de vinte ou dezenove graus, você que já há anos mora aqui sabe disso”, falei.

Graça despertou do hipnotismo que a proximidade da livraria a envolvia.

“As pessoas andam tão elegantes aqui nesta cidade, gosto muito disso; no Rio, acho que devido ao calor excessivo, não é assim, há uma atitude de relaxamento, ou mesmo desleixo.”

“Você, Graziela, anda muito bem vestida, não é porque estou ao seu lado que estou elogiando, não”, Maristela se dirigiu a mim.

“Ah, obrigada, gosto de andar bem arrumada.”

“Não é só isso, é que, como se pode notar, você sempre usa roupas de grife, e esse seu vestidinho está uma graça.”

Depois que Maristela falou, Graça sorriu, o trocadilho com o seu nome fez que se manifestasse:

“Epa, a Graça aqui sou eu.”

“Todas somos muito graciosas, mas a Graziela anda com roupas muito chiques”, acrescentou Maristela.

“É mesmo, conta pra gente quanto foi o vestido, Grazi, vi numa revista e acho que não saiu por menos do que setecentos”, Graça, com ar indagador.

“Oitocentos e cinquenta”, falei, “caro, não?”, sorri.

“Puxa, você é corajosa”, Graça suspirou, “mas aqui em Brasília as pessoas ganham bem.”

“Não é isso”, esclareci, “nem todos por aqui ganham bem nem se vai jogar dinheiro fora, é pela qualidade, vocês reparem que um vestido desse tipo dura bastante e é útil para muitas ocasiões, mas não se deve usá-lo todo dia, hoje é uma data especial, estamos acompanhadas, e o ano mal se inicia.”

“Há mais um segredinho”, peruou Maristela no ouvido da Graça, “o namorado dela”, apontou para mim, “exige que ande bem vestida, com roupas de primeira, ela mesma já me falou sobre isso.”

“Verdade?”, quis saber Graça, “ele é tão exigente assim?”

“Fale a ela Grazi, diga a verdade.”

“É isso mesmo, ele é muito exigente, e além de tudo me enche de presentes. O vestido foi ele quem me deu. Alíás, fui com ele, porque sou eu que escolho.”

“Aqui entre nós, enquanto ele não chega, ouça só, é também exigente em outras coisas”, Mari alimentava o assunto.

Graça deu uma tremenda gargalhada.

“Grazi é minha amiga há anos, não fica aborrecida com as coisas que falo”, continuou Stela, “ela mesma me contou e não pediu segredo. Grazi veste essas roupas caras, a maioria presentes dele, mas também o recompensa, não é mesmo, meu docinho?”

Tive de rir. “Essa minha amiga é terrível, será que sou apenas eu que conto atrações íntimas, ou você me falou sobre aquela madrugada, a pele branquinha, isto é, nada sobre a pele, um arrepio, o Honda do seu amado...”

“Não, Grazi, por favor, depois deixo que você conte, mas agora não, morro de vergonha, veja que vem o Júlio...”

Olhei na direção a que Stela apontou, mas não vi Júlio algum.

“Sobre a Maristela, como pediu, não vou falar nada, vou deixar que depois ela conte com suas próprias palavras, assim será mais emocionante, mas quanto a mim não tenho vergonha alguma de dizer, uma vez que sou agraciada com tantas roupas, acessórios lindíssimos e outros tipos de presentes, o que custa agradar meu namorado?”, enfatizei.

“Todas as mulheres agradam seus namorados e vice-versa, ou não?”, Graça.

“A Grazi é demais. O agrado dela é exagerado”, Mari.

“Sou exagerada? Só porque...” olhei para os lados e hesitei se falaria.

“Estou curiosa, gostaria de saber que agrado é esse...”, Graça.

Maristela correu e sussurrou algumas palavras no ouvido dela.

“Oh”, Graça suspirou.

“Já sei o que ela falou, não acredite”, interrompi o suspiro da minha amiga que viera do Rio, depois virei para Mari e, debochada, falei:

“Sempre achei o Rio tão avançado, todas aquelas mulheres nuas no carnaval, atrizes sem calcinha, e a Graça não pôde ouvir essa bobagem que você falou sem deixar de dar esse longo suspiro”, acrescentei.

“Olhe, Grazi, agora é o Júlio, entendi porque demorou, repare o que ele traz nas mãos, observe de que loja é? Acho que vou desmaiar, queria tanto ganhar um presente assim”, disse Mari, dengosa.

“Oi pessoal”, Júlio me beijou e beijou minhas duas amigas. Entregou-me o presente, “querida, presentinho de ano novo.”

Mari e Graça suspiraram no mesmo ritmo.

“Onde vocês pretendem ir? Lembrem, hoje é por minha conta”, acrescentou.

“Júlio, você não tem um irmão, ou mesmo um primo?” Mari, toda espevitada.

“Tenho, mas é em segundo grau.”

“Ah, que ótimo, não faz mal que seja em segundo grau. Não dá pra você chamá-lo, assim, assim?”, Mari completou a frase com gestos que tentavam continuar suas palavras. Graça acompanhou as mãos da amiga de olhos arregalados.

“Posso, mas ele tem apenas quatorze anos, e não sei se vai gostar de sair com a gente.”

“Oh, Graça, então temos que esperar mais alguns anos”, Maristela entristecida.

Todos mergulharam numa intensa risada...

“De que vocês estão rindo? Me contem que quero rir também”, era o amigo da Graça que chegava. Havia um ano viera trabalhar em Brasília, passara no concurso da Câmara, se juntava a nós para passar a tarde de domingo.