sexta-feira, janeiro 21, 2011

Beliscadela

Estou pelada, daqui a pouco vai chegar alguém, portanto tenho pouco tempo para lhe contar. É sobre a foto que você quer saber, não? Tirei há duas semanas. Pedi a um amigo. Fiquei ótima, sei disso. Estou nua na foto, mas não ficou vulgar. Você disse que estou com cara de pimenta, de mulher que não tem vergonha de dizer sobre o próprio desejo. Você falou mais uma coisa, uso suas próprias palavras: uma mulher que não tem medo de gozar. Essa expressão já está ultrapassada. Acho que faz tempo que as mulheres querem gozar, e não é só no final, mas durante todo o tempo. Você comparou a foto com uma que você tem, tirada há oito anos. Diz você: nesta você está com cara de envergonhada. Não sei, não. Eu? Com cara de pejo? Acho difícil. Mas como você parece entender das coisas, vá lá. Naquela época eu saía menos que hoje. Achava ruim sair sozinha. Essas coisas que algumas mulheres pensam, sempre precisam chamar uma amiga, ou estar em grupo porque caso isso não aconteça ficam em casa vendo televisão. Veja, ver televisão... Se ainda fosse lendo um livro. Isso, porém, já é outra história. Voltando ao assunto. Comecei a sair só. Passei a conhecer uma porção de pessoas. Homens e mulheres. Me convidavam para ir a muitas festas, a peças de teatro, a outros espetáculos e a tudo mais. Comecei a encontrar muita gente. Mas evitava sair em grupo para não criar compromisso de estar sempre com aquelas pessoas. Num determinado dia conheci um cara. Não vou dizer que não transei com ele. Transei e foi muito bom. Não pela própria relação em si, mas pelo que me sugeriu. Sempre fui uma mulher altiva, desinibida, você sabe que já andei até nua pela cidade, de noite. Na cama, no entanto... Isso mesmo, no entanto... eu era um tantinho envergonhada, digamos assim. Esperava pelos homens, achava sempre que a iniciativa tinha de ser deles. Por isso, talvez, na foto antiga eu, nua, esteja sugerindo um certo ar de envergonhada. Até então. Porque o tal homem me ensinou umas coisas. Disse que as mulheres têm músculos que precisam ser dominados, que se eu conseguisse o domínio de um certo músculo, se o movimentasse adequadamente, iria enlouquecer todos os homens dali em diante. Não preciso dizer mais sobre isso, não é mesmo? Você já deve estar imaginando do que se trata. Ele sussurrou no meu ouvido, no momento do amor: "agora, tente, é como um pequeno beliscão, mas não é com os dedos, vai, mexa, pense primeiro, você vai conseguir, e nem é preciso muito esforço." Daquele momento em diante, aconteceu. Ouvi da parte dele: "isso, assim mesmo, viu?, aprendeu rápido", e me beijou terrivelmente. Não fiquei com ele por muito tempo. Continuei com as minhas saídas, e quando me sentia atraída por algum homem você já sabe o que acontecia. Dali em diante, coloquei em prática aquela beliscadela. Os homens enlouqueciam. Todos eles. Sem exceção. Por isso acho que agora saio com essa cara no retrato, cara de pimenta. Era isso que eu queria falar a você sobre a foto. Agora tenho que correr ao banheiro para me vestir porque alguém está chegando. Aqui na pousada há também uma porção de gente hospedada. Se eu não correr me pegam pelada. Um beijo, tchau, depois falo com você de novo.

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