quinta-feira, maio 17, 2012

Naco de amor

Blusa de algodão; saia de malha, preta, curta, solta, corte em diagonal; meias arrastão descendo até entrarem pelas botas de cano longo. Apenas. Se faz frio, o casaco cinza escuro. À noite vou pelas travessas do centro velho. Vielas de luz escassa. Um ou outro bar. Homens, que sempre se enganam, julgam-me prostituta. Represento. Se já tive algum problema. Teria, se minha defesa não fosse o ataque. Polícia? O que há de mais perigoso. A cidade tem suas luzes esmaecidas. Perco-me em meio às sombras, sob o tímido brilho das estrelas do céu urbano. Espero o prazer. Ainda que barato. Sozinha, na indigência dos resíduos que escorrem do dia findo. Enfio-me num beco. Nova York? Letreiro de loja apagada, esquecida à hora tardia. Riscos nas paredes. Grafite rasurado. Alguém me quer sem as meias, sem a saia, sem a blusa surrada. Agarra-me num beco, beija-me a boca, roça meu corpo. Tira seu sexo e tenta encaixá-lo entre a costura esgarçada de minhas pernas. Gozo eu? Talvez.

Abandona-me nua, encolhida, os braços apenas de abrigo, sussurro-lhe ao ouvido.

Escondo-me. Procuro outros vãos, reentrâncias, silêncios. Até quando a fragilidade do fio suportará o peso do equilibrista?

Leva-me nua, digo a outro em meio ao burburinho seco da noite vazia, deita-me ainda que sobre a soleira de qualquer porta, não me deixes escapar sem que eu umedeça teus lábios, sem que te deixe o sexo molhado.

Aventura. Que mulher não está disposta? Basta-lhe leve indício de sobrevivência. À beira do abismo, porém. O fio da vida quase partido. Momento do orgasmo. Não temes? Alguém há de perguntar. Temer?, repito o verbo. Temem a mim. Sou eu a fera. Primeiro, mansa, os braços soltos a deslizar sobre os alheios, homens rasos, noturnos, desconhecidos. Não sei nem interessa a mim de onde vêm, aonde irão. Como tremem! Ante a mulher nua que anda na via pública, amante que lhes oferta o corpo suado de volúpia.

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