quarta-feira, dezembro 04, 2013

Depois você me paga

Sentei na beira da cama, cruzei as pernas e esperei. Não entendi o que ele tinha em mente. Achei mais elegante nada perguntar. Meu vestido repousava no mesmo lugar onde o deixara horas antes, após me despir. Devido a meus seios rijos, não viera de sutiã, quase não o usava, mas a calcinha... Ele ainda dormia, ou fazia de conta, não posso dizer ao certo. Ouvi barulho de vozes vindo da rua. Eram pessoas que chegavam de alguma festa, conversavam. A madrugada agradável fazia que demorassem a seguir cada qual o seu caminho, queriam mais tempo entre os amigos. Depois de mais ou menos dez minutos levantei e me vesti, apenas o tecido fino sobre a pele. Pensei na noite que tivéramos: primeiro o passeio; depois, ali no seu apartamento, a música na pequena sala e o amor. Começamos de pé, encostados a uma das paredes, a seguir o sexo ardente na cama de casal do único quarto. Ele dissera ao meu ouvido que eu era a mulher da sua vida, que nunca namorara alguém tão quente como eu. Talvez tudo conversa fiada. Devia contar a mesma história para todas que conquistava. E eu ainda o incentivei, falei de um namorado que me deixara nua à porta de casa. Excitou-se, quis saber detalhes, contou então sobre um baile de carnaval de tempos atrás. Namorou uma fada que usava apenas biquíni, deixou-a sem a varinha. Só roubou-lhe a varinha?, perguntei. Ele dissimulou, mas acabou revelando, tomou-lhe também o biquíni. Sou também uma fada, falei, pena não ter vindo de biquíni, o que você vai levar de mim? Sorriu. Fazia pouco tempo que nos conhecêramos, ainda nem bem partíramos para o sexo. Demoro a ir para cama com namorado novo. Sei que já não sou tão jovem, sei também que os tempos são outros, tempos em que tudo se resolve com rapidez. Mas ainda sou lenta, não gosto de precipitações. Ele mexeu-se na cama. Esperei mais um pouco. Fez silêncio novamente. Achei que não acordaria. Procurei a sandália, a bolsa, fui até o banheiro e olhei-me no espelho. A aparência estava boa, disfarçava. Chamaria um táxi e correria para casa. Não sabia se o procuraria de novo. Lembrei-me de sua fadinha. Quem sabe ainda possuía a varinha, quem sabe me mostraria o biquíni. Onde será que os guardava? O apartamento era pequeno, não seria difícil encontrar. Temi que acordasse e não me deixasse ir. Pensei na fadinha nua e sem poder algum. Não queria acabar do mesmo jeito que ela. Que ninguém me olhasse por baixo da roupa. Que não pensassem mal de mim. As mulheres têm certa fascinação em se sentirem prostitutas, falam algumas pessoas. Será?.

Quando desci encontrei na portaria um garoto. Gostosa, ouvi-o dizer. Há quanto tempo não ouvia essa palavra. Voltei-me. Ele sorriu. Tão bonito o garoto. Ei, moça, espere aí. Esperei. Ele veio até a mim. Você quer passear comigo?, perguntei. Quero, falou com decisão. Mas precisa pagar, sabe, comigo nada é de graça. Quanto você cobra? Duzentos, e tem de ser adiantado, mais uma coisa, vou avisar porque há homens que depois reclamam. O que é?, ele, curioso. O último cliente me roubou a calcinha. Não quero a calcinha, quero você, decidiu. O garoto levava jeito. Tem aonde me levar?, indaguei. Tenho, não moro sozinho, mas você passa por minha namorada, o único problema é quanto aos cem. Cem, não, duzentos, fiz de conta que me assustei. É, desculpa, os duzentos, ele reparou. Não faz mal, falei, fechamos por cento e cinquenta. Não é que você não valha, afirmou pegando uma das minhas mãos, é que também não tenho cento e cinquenta. Ok, sorri, deixo por cem, mas só dessa vez, viu?

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