domingo, fevereiro 16, 2014

Dois pedidos

Foi até o balcão e trouxe duas xícaras de café e dois pedaços de bolo. Meus olhos encheram-se de riso.

“Um verdadeiro cavalheiro”, bebemos café e provei o bolo.

Alex é um homem silencioso, muito educado. Costuma ouvir as pessoas. Quanto a mim, deixa-me falar por horas a fio. Sempre parece satisfeito com as histórias que eu lhe conto.

Quando faltavam dez minutos para o filme começar, entramos no cinema. Era um filme inglês. Uma mulher sai à procura do filho que dera à luz nos tempos de adolescência. Engravidara quando interna num convento. Saíra para uma festa e fora seduzida por um jovem de sua idade. As freiras ofereciam para a adoção crianças nascidas de mães solteiras. Durante décadas guardou segredo sobre esse filho, mas quando ele completaria cinquenta anos resolve procurá-lo. Coisas de cinema.

Achei que o filme não é para o momento que vivo com Alex, um momento de forte paixão. Mas ele o escolhera.

Voltamos de táxi ao meu apartamento. Arrumei a mesa com pratos e copos, peguei o que havia na geladeira, inclusive cervejas. Começamos a beber e a beliscar. Decidi, então, lhe contar meu segredo.

“Tenho um problema, sabe.”

“Um problema?", franziu a testa.

“Isso mesmo.”

“Alguma doença?”

“Não sei. Talvez alguns achem que seja doença, sim.”

“Qual?”, sua voz soou baixa e preocupada.

“Acontece quando bebo. Fico com um fogo terrível.”

“Ah, isso não e doença.”, sorriu.

“No meu caso acho que sim, certa vez fui a uma festa, bebi tanto que acordei nua."

“Isso é normal. Mas o que aconteceu depois?”

“Uma amiga me salvou. Ainda houve outro fato. Sei que você é um cavaleiro, todo polido, não sei se vai gostar de mim depois de eu contar essas coisas.”

“Pois conte, escuto você e acho que não vou ligar para esses problemas.”

“Jura? Ouça, então. Houve uma outra vez. Foi nas escadarias de Santa Tereza. Tive um namorado que morava por aquelas bandas. Bebi com ele e saímos para passear. Subimos e descemos aquelas escadarias. Eu só vestia uma camisa sobre a pele, uma camisa dele. Quando voltávamos ao apartamento, ele me deixou nua enquanto descíamos as escadas.”

“E o que aconteceu depois?”

“Depois? Não lembro. Acho que voltamos pra casa dele, eu ainda nua, e namoramos. No dia seguinte, fui embora.”

“Vestida apenas com a camisa?”

“Não. Já tinha recuperado minhas roupas.”

“Que bom!”, chegou a exclamar. "Por que será que as mulheres gostam tanto de andar nuas?"

"Não são todas. Eu gosto. E o motivo é que supera-se a angústia."

"Verdade?", ele fez um ar de que não acreditou na tese.

"Sim, sinto um frisson tão intenso, que lança pra longe qualquer sentimento negativo, como o tédio ou a angústia."

Bebemos três garrafinhas de cerveja. Levantei-me, beijei-o na boca e pedi.

“Você faz um favor pra mim?”

“Claro, basta pedir.”

“Jura?”

“Juro.”

“Empresta a camisa?”

“Esta, a que estou vestindo?”

“Sim, ela mesma.”

“Ok”, falou sério.

Levantou-se. Era uma camisa polo. Despiu-a e entregou-me.

Fui ao quarto, tirei toda a roupa e voltei vestida apenas com a camisa. Pedi mais uma coisa:

“Agora você me leva pra passear?”, sorri e fiz um biquinho, convidando-o para mais um beijo.

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