Aquele namorado me vivia enviando mensagens fora do comum: abraços, beijos e outras insinuações muito extravagantes. Nenhuma
imagem. Escrevia e descrevia. Exemplos: beijinhos suaves na ponta dos
lábios; mordidinhas no lábio superior, o mesmo lábio inteirinho dentro da minha
boca; agora o inferior, caramelo de amor; mordidinhas na pontinha da orelha; traçados
de arrepios com a ponta da língua pelo teu pescoço. O clímax: mergulho na tua
boca minha língua ávida de amor.
Não é que o homem me deixou nua! E que trepada. Quem aguentaria se conter?
Não é que o homem me deixou nua! E que trepada. Quem aguentaria se conter?
Ele era criativo. Dourados os reflexos do teu rosto nos
talheres de prata; umbigo pleno de óleo derramado numa maré incandescente;
transbordamentos sobre a pele lisa; pigmentos e suaves pelos que escondem abismos,
convites a aventuras. Ui, outro o arrepio. Onde minha calcinha?
Andava eu nua pela casa, as mensagens na palma da mão. Já
não posso, não me basta o telefone.
Três dias depois eu já era uma fera que nada acalmava. Fui à
noite, sozinha, dar uma volta de carro. Um vestidinho e as mensagens que não
cessavam. Quem sabe o ar da orla me acalme. Não mais posso me fazer de mulher
difícil. As mais jovens são oferecidas, trepam por muito menos, e nem sentem
tanto tesão. Eu tinha dado para ele apenas uma vez, estava dificultando o segundo encontro. O homem chegara a perguntar desagradei você? Não, não é
isso, eu me coçava. Não queria mesmo era me precipitar. Ele é que tinha
de saltar o abismo, convencer-me, encontrar meu corpo, um perigo iminente,
respostas vagas para suas tentativas de certezas.
Ao entrar em casa após o passeio noturno e relaxante, tirei a roupa e reli o
conto da Marília. Não contava que a história bobinha me acabaria excitando. A mulher diz que aceitou o
convite para ir à casa do namorado. Até aqui, nada de mais. Seria a primeira vez
na casa dele. Ao entrar e sentar numa poltrona, pensou que aquela relação
poderia acontecer de modo diferente. Seria melhor aguardar mais alguns dias, quem sabe duas semanas, achava ruim
ir para cama com um homem logo de primeira. Procurava alguém para conviver, não
para o puro prazer. Mas, ao aceitar ir à casa dele, facilitava. Poderia ter
ficado sentada na poltrona a noite inteira. No entanto, ela mesma o provocou. Não soube
dizer por que, mas sentiu vontade. Acabou saltando do estofado para cama. Deitou,
chamou o homem. Ele ainda disse você vai ficar toda amarrotada. Antes fosse,
que mal haveria voltar amarrotada para casa? Tirou, então, o vestidinho e deu
nas mãos deles. Ele o colocou num cabide e guardou dentro do armário, junto com
suas roupas masculinas. Ela diz que ficou toda arrepiada. Um vestido levinho em
meio a calças compridas, camisas sociais, paletós, cintos e gravatas. Marília conta
que ficou molhada antes da hora! O homem deslizou fácil. Que vergonha!, ela
tentando refletir. Mas o pior, ou o melhor (depende do ponto de vista), ainda
estava por vir. Quando ia prestes a gozar, o namorado perguntou você já voltou
pra casa sem calcinha? Ela nada respondeu, virou os olhos. Gozo? Tesão? Lembrou
de outro namorado. Fazia tanto tempo, ela tinha dezoito anos. Não é que o
garoto, após trepar com ela, roubara-lhe a calcinha? Aconteceria agora o mesmo, tantos anos depois, ela tinha certeza. Mas o que lhe provocava mesmo a maior excitação, era o vestido cercado por
roupas masculinas!
Não quis dizer a ele que eu estava ardida, consequência do conto da Marília.
Quando estamos do lado de fora do apartamento, a porta bate deixando-nos sem recursos, o corredor sombrio e silencioso; do lado de dentro, ela abre, convidativa, auxiliada por um vento saliente!