Estava num dos restaurantes da Tocolândia. Era uma
terça-feira de Março.
“Achei ótimo você ter me convidado de surpresa pra almoçar,
estou adorando”, disse a ele.
“Também estou gostando, ainda melhor você ter vindo de
biquíni, enrolada na canga que te dei de presente.”
Fiz cara de espanto, enquanto comia um tantinho de pirão.
O namorado batera à minha porta às dez da manhã. Eu ainda
acordava. Ao vê-lo, arregalei os olhos. Será que vem me espionar, tentar
descobrir se o estou traindo? Mas vinha ele sorridente, com uma sacola que
continha um presente.
“Só dou se você vestir o biquíni”, ele disse.
“Não tinha planejado ir à praia hoje.”
“Não faz mal, o presente exige que se vista o biquíni.”
Voltei ao quarto, fiz certo charme e demorei um pouquinho
pra voltar. Vesti o biquíni que mais gosto.
“Que bom, muitos homens devem me invejar aqui em Rio das
Ostras”, exclamou.
“Você acha?”, minha falsa modéstia.
“Quando não estou aqui, deve haver uma tropa inteira atrás
de você.”
“Quem sabe?” Lógico que eu sabia, era difícil me
desvencilhar de todos os admiradores.
Abri o presente: uma canga, quase dourada.
“Adorei”, abri o tecido e envolvi-me nele.
“Vamos passear”, sugeriu.
“Esse biquíni é um fiapinho no teu corpo”, sorriu.
“Você quer que eu troque por um mais decente?”, fiz um gesto
de senhora e o acompanhei no sorriso.
“Claro que não, adoro você nua.”
Após tomar um ligeiro café, fomos caminhar na orla de Costa
Azul.
“O dia está lindo”, falou. Uma frase que, em literatura, se
pode chamar de lugar comum. Mas ele realmente falou assim.
“Maravilhoso”, completei.
Nosso passeio durou duas horas. Conversamos sobre livros.
Meu namorado adora ler romances, vez ou outra traz um para mim.
“Nesta cidade não há livraria, falei, mas uma biblioteca.”
“Que bom, nada melhor do que uma boa biblioteca. E aqui há
todo um clima que incentiva a leitura.”
“Você acha?”, devo ter feito cara de surpresa. “Não vejo
quase ninguém carregando um livro.”
Ele ficou um pouco em silêncio, depois convidou:
“Você gostaria de almoçar?”
“Ah, claro, nem sabia que comida prepararia hoje, ótima proposta”, beijei-o.
Entramos na Tocolândia.
“O pirão está ótimo, pirão com peixe é uma delicia”,
suspirei.
“Sei que você adora.”
“É um prazer sensual saborear este prato”, acrescentei.
Comi tanto, depois cheguei a me arrepender. Não posso
engordar, tenho que manter o corpo, pensei dentro da canga.
“O que vamos fazer agora?”, perguntou.
“Adivinha!”
“Namorar.”
“Isso mesmo, mas primeiro vamos descansar um pouquinho.”
Saímos da Tocalandia. Havia ainda poucas pessoas, talvez
pelo dia da semana, talvez pela hora. Bordeamos a orla, agora em direção à
minha casa. Quando faltavam uns duzentos metros para a entrada da minha csa,
coloquei-me na ponta dos pés diante dele. Beijei-lhe na boca.
“Tenho uma surpresa pra você. Retribuição à sua surpresa, ao
prsente”, arrisquei.
“Qual?”, ele curioso.
“Passe a mão aqui embaixo da canga, desde da cintura até
minhas coxas”, tomei suas mãos as trouxe para o meu corpo. Ele pode sentir
minha pele.
“Você está nua!, cadê o biquíni?”, espantou-se.
“Um truque, gostou? Adivinhe.”
Pôs-se a pensar.
“Já sei, deixou em casa sem que eu percebesse.”
“Errou.”
“Tirou no toalete do restaurante.”
“Nananinanão,”
“Comeu-o junto com o pirão!”
“Cruzes! Nada disso. Olhe dentro do bolso esquerdo da sua
bermuda.”
Enfiou a mão no bolso. Com uma cara de tacho, tirou o meu
biquíni!
Caímos os dois numa estrepitosa gargalhada.
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