Eu e Leila subíamos o Goiabal, em Paty.
“Você está com namorado?", quis ela saber.
“Não, estou sozinha. Sozinha e soltinha”, reiterei.
“É ruim ficar só.”
Um carro nos ultrapassou, o motorista olhou, talvez cobiçando nossas pernas. Leila usava short e uma blusa curta; eu, um vestido florido curtinho.
“Viu, olhou pra gente, não dá pra ficar sozinha”, insistiu.
“É, olhando por este ângulo, sempre há alguém a cobiçar
nossas pernas.”
“Ah, lembrei, quero contar uma história. Veja que engraçado.
A Luiza esta com o Agenor.”
“Que Agenor?”, franzi o cenho.
“O Agenor que estava com a Lourdes.”
“Nossa”, suspirei.
“Isso mesmo, é um tal troca troca. O Waldir se separou da
Ana, está com a Anita. Engraçado, os nomes começam pela letra A. O Nelson saiu
da Cidinha e voltou pra Norma. A Norma era do Leocádio, mas antes do mesmo
Nelson...”
“Eta, pessoal que não arreta”, exclamei.
“E o pior”, continuou Leila, levantou a barra da blusa para
ver se o sol a queimava, “o pior é que neste lugar não há onde namorar.”
“Você tem razão”, interrompi, "pra quem não é casado, não há
onde namorar. Cansei de sair com algum homem daqui para trepar dentro do carro.
Já não tenho disposição.”
“Dentro do carro até que é bom, tanto mais se for um carro
que tenha conforto, basta o homem parar num desses atalhos da estrada, avançar
um pouco, onde não passa ninguém.”
“Não, não gosto, caso alguém queira sair comigo, tem de me
leve a um hotel.”
Paramos na esquina da venda de seu Oscar. Leila tinha que
entrar à esquerda, eu continuaria por mais quinhentos metros.
“Deixa eu te contar um fato interessante”, retomei. “Namorei
certa vez um homem lá da Várzea. Era caseiro de uma propriedade próxima à
Cascata. Ele me chamava quando a proprietária estava fora. Eu ia, mas queria mesmo era tomar banho de piscina. Era ótimo. Tomava banho nua. O homem babava. Caso ele
viesse me agarrar dentro d’água, eu dizia ‘calma, só aceito trepar se for na
cama da patroa’. Ele acabava aceitando minha proposta. Eu saía nua, me enxugava
numa toalha e íamos pro tal quarto. Ficava com ele até de manhã. Quando o sol
já ia alto, eu levantava e corria de novo à piscina, depois de mais ou menos
trinta minutos saía e tomava uma chuveirada, só então procurava pelas minhas
roupas. Me vestia e ia embora. Uma beleza, prazer e conforto andavam juntos.”
“E por que não continuaram?”, Leila curiosa.
“Sei lá, todas as coisas um dia acabam, mesmo os relacionamentos.
Acho que arranjei outro com uma piscina maior!”
Leila deu um riso alto e solto. Passou um Chevrolet. O motorista buzinou, minha amiga o acompanhou com os olhos, sem mover a cabeça. O
sol refletiu na lataria do automóvel, era mais forte que o homem.
“Pena que não parou. Os homens não são os mesmos”, riu de
novo, me beijou e se foi. Dez passos depois se virou e gritou: “vamos ver como
vai ser hoje à noite.”
Segui meu caminho, com a bolsa de compras na mão direita. Vamos
ver como vai ser hoje à noite, sua voz e sua expectativa ressoaram na minha
cabeça.
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