segunda-feira, fevereiro 26, 2018

Banho de piscina

Eu e Leila subíamos o Goiabal, em Paty.

“Você está com namorado?", quis ela saber.

“Não, estou sozinha. Sozinha e soltinha”, reiterei.

“É ruim ficar só.”

Um carro nos ultrapassou, o motorista olhou, talvez cobiçando nossas pernas. Leila usava short e uma blusa curta; eu, um vestido florido curtinho.

“Viu, olhou pra gente, não dá pra ficar sozinha”, insistiu.

“É, olhando por este ângulo, sempre há alguém a cobiçar nossas pernas.”

“Ah, lembrei, quero contar uma história. Veja que engraçado. A Luiza esta com o Agenor.”

“Que Agenor?”, franzi o cenho.

“O Agenor que estava com a Lourdes.”

“Nossa”, suspirei.

“Isso mesmo, é um tal troca troca. O Waldir se separou da Ana, está com a Anita. Engraçado, os nomes começam pela letra A. O Nelson saiu da Cidinha e voltou pra Norma. A Norma era do Leocádio, mas antes do mesmo Nelson...”

“Eta, pessoal que não arreta”, exclamei.

“E o pior”, continuou Leila, levantou a barra da blusa para ver se o sol a queimava, “o pior é que neste lugar não há onde namorar.”

“Você tem razão”, interrompi, "pra quem não é casado, não há onde namorar. Cansei de sair com algum homem daqui para trepar dentro do carro. Já não tenho disposição.”

“Dentro do carro até que é bom, tanto mais se for um carro que tenha conforto, basta o homem parar num desses atalhos da estrada, avançar um pouco, onde não passa ninguém.”

“Não, não gosto, caso alguém queira sair comigo, tem de me leve a um hotel.”

Paramos na esquina da venda de seu Oscar. Leila tinha que entrar à esquerda, eu continuaria por mais quinhentos metros.

“Deixa eu te contar um fato interessante”, retomei. “Namorei certa vez um homem lá da Várzea. Era caseiro de uma propriedade próxima à Cascata. Ele me chamava quando a proprietária estava fora. Eu ia, mas queria mesmo era tomar banho de piscina. Era ótimo. Tomava banho nua. O homem babava. Caso ele viesse me agarrar dentro d’água, eu dizia ‘calma, só aceito trepar se for na cama da patroa’. Ele acabava aceitando minha proposta. Eu saía nua, me enxugava numa toalha e íamos pro tal quarto. Ficava com ele até de manhã. Quando o sol já ia alto, eu levantava e corria de novo à piscina, depois de mais ou menos trinta minutos saía e tomava uma chuveirada, só então procurava pelas minhas roupas. Me vestia e ia embora. Uma beleza, prazer e conforto andavam juntos.”

“E por que não continuaram?”, Leila curiosa.

“Sei lá, todas as coisas um dia acabam, mesmo os relacionamentos. Acho que arranjei outro com uma piscina maior!”

Leila deu um riso alto e solto. Passou um Chevrolet. O motorista buzinou, minha amiga o acompanhou com os olhos, sem mover a cabeça. O sol refletiu na lataria do automóvel, era mais forte que o homem.

“Pena que não parou. Os homens não são os mesmos”, riu de novo, me beijou e se foi. Dez passos depois se virou e gritou: “vamos ver como vai ser hoje à noite.”

Segui meu caminho, com a bolsa de compras na mão direita. Vamos ver como vai ser hoje à noite, sua voz e sua expectativa ressoaram na minha cabeça.

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