domingo, setembro 22, 2019

Que susto!

Tenho amigas que são loucas, quero dizer, loucas por dinheiro. Uma delas chama-se Jussara, mora em Carapebus, uma cidade do litoral norte. Arranjou um admirador que chegou à cidade faz pouco tempo. O homem adora convidá-la a restaurantes, tanto na cidade como nos arredores. Pouco tempo depois, disse que tinha um desejo estranho, não sabia se ela se aborreceria ou se compreenderia o que lhe iria pedir. Não sairia de graça, acrescentou antes de pedir. Que ela saísse nua de casa e passeasse a seu lado, tanto dentro do automóvel como nas praias do local, não fazia mal que tarde da noite. Jussara examinou a quantia oferecida pelo homem. Já ficara nua de graça para outros namorados. Não pensou duas vezes. Pegou o dinheiro antes, guardou e saiu, sandália de meio salto e bolsa a tiracolo, apenas. O homem delirou. Pena que atualmente ele trabalha em outra cidade, os encontros tornaram-se raros, mas quando aparece, a conta bancária da minha amiga espicha.

Comigo aconteceu, um dia desses, algo parecido. Minha amiga tem o corpo perfeito. Não sei como consegue ter o corpo nas medidas certas numa cidade do interior. Dizem que nesses lugares come-se muito. Ela, porém, mantém a elegância. Quanto a mim, tenho também o corpo perfeito, as mesmas medidas; mas quanto a ser mulher como minha amiga, não posso assegurar. Os homens adoram do jeito que sou. Caso fique nua ao lado dela, tenho certeza de que vão me escolher. Adivinhem o motivo! Mas vamos ao que aconteceu. Conheci também um homem genial, educado, bem vestido, pleno de classe, sabe usar bem as palavras. No entanto, como o tal admirador de minha amiga, tem uns desejos obscuros. Não se pode exigir a perfeição, aprendi desde cedo, acabamos nos contentando com o possível. Ele fez o mesmo pedido que recebeu minha amiga. Onde moro não é uma cidadezinha. Acho que duzentos e tantos mil habitantes. Como posso sair nua?, vou encontrar alguém, veja, tenho algo a mais, caso alguém me veja nua vai ser um escândalo. Calma, disse ele. O que me convenceu mesmo, porém, foi o valor oferecido. Você tem coragem de desperdiçar um dinheiro desses?, cheguei a perguntar. Não é desperdício, é prazer, afirmou. Bem, vamos ver então como podemos fazer, tentei tranquilizá-lo. Não há o que não se ajeite quando o valor é alto, e eu não podia largar a tal proposta.

Na noite marcada, ele veio com o recibo de depósito. O dinheiro grande na minha conta. Entrei no carro, dirigiu através das ruas escuras da cidade, mostrava-me os lugares de sua predileção, como um guia turístico. Noite agradável, céu pleno de estrelas, algumas luzes no centro, a ponte que cruza o rio, a margem dos namorados, as vielas do centro velho. Houve o momento em que ele pediu. Já?, fiz-me assustada. Está na hora, ele. Ao lembrar o valor do depósito, não pude titubear. Abri o vestidinho, desci-o até a cintura, meus seios apareceram nus; afastei o bumbum do banco e acabei de tirar a roupa. Olhou na direção da minha calcinha. Mais do que rápida, tirei-a e entreguei nas mãos deles. Ele a segurou demonstrando prazer. Destravou as portas. Inspirei fundo e saltei. Do lado de fora, sobre o passeio, a realidade é outra. Mesmo passada uma hora da manhã. Ele acelerou e partiu. Meu coração acelerou com ele. Não estou acostumada a tais aventuras, mas o dinheiro falou mais alto. Pus-me a caminho, conforme o combinado. Deveria andar duzentos metros até um carro estacionado na Maria Amélia. Duzentos metros é um longo percurso para quem está nua. Eu vestia apenas a sandália, pedira para não sair descalça, temia ferir os pés. Uma mulher andando nua tem o seu charme, no meu caso é um pouco diferente, mas muita gente acha o mesmo. Demorei alguns minutos para chegar ao ponto combinado, acho que mais do que pensei. Ao ver o veículo, suspirei aliviada. Apertei a maçaneta, estava dura. Apertei de novo. Não abriu. Engoli em seco. Olhei para um lado, para outro. Será que estou no local errado? Mil pensamentos me vieram à cabeça. Tentei de novo. A porta não abriu de jeito algum. Foi então que escutei um barulho de motor e uma freada. Pneus a cantar. O carro parou à frente do que eu tentava abrir a porta. Corri para ele, apertei a maçaneta e entrei. Uma mulher ao volante. Imaginem o resto.

domingo, setembro 08, 2019

Prazer em dobro

É sempre bom ter namorado, alguém com quem a gente possa compartilhar algum sentimento, alguns gostos, alguns passeios, mas hoje não está fácil. Há poucos homens, muitas mulheres, e eles gostam das mais jovens. Eu me esforço para ter o corpo magro, com algumas saliências e volumes, do jeito que eles gostam. Em M, minha cidade, com seus duzentos e tantos mil habitantes há uma disputa e tanto entre as mulheres. Basta surgir alguém no pedaço para disparar uma enorme concorrência. Há aquelas que vestem roupas tão curta, que vão quase nuas. Como já sou experimentada, espero, deixo as coisas acontecerem, o que tiver de ser meu não será de outra. De um tempo para cá descobri uma ação que me deixa a mil, provoca um tremendo frisson. Trata-se de sair pela manhã vestindo um camisão e o biquíni por baixo. Caminho até a praia e me ponho a andar pela orla, bem cedinho. Pode parecer um provérbio batido, mas é verdade que Deus ajuda quem cedo madruga. Tenho amigas que gostam de dormir até tarde. Dormem tanto, que quando acordam tchau, o homem que esperavam já passou. Outras afirmam que muito cedo não passa ninguém, e não vão ficar a ver navios. Digo que os navios, e os barcos de todas as espécies, contêm muitos homens. Elas riem. Uma delas exclamou Deus me livre, sair de casa às seis da manhã!, vou ser assaltada. Mas o que há de me roubar? Posso-lhe oferecer o doce predileto. Mal sabe ela o tamanho do pênis do  ladrão!

Saio às seis, sim, e vou caminhando, caminhando e passeando. Chego à praia e corro de uma ponta a outra. É tão bom estar em forma. No começo dá uma preguicinha, mas depois a gente pega o embalo. Um dia desses aconteceu o tal frisson, a vontade louca de namorar alguém, de abraçar, deixar meu corpo atrelado ao corpo de um homem. Assanhada e sozinha, tive a ideia. Tirei o biquíni e fiquei vestida só de camisão. Não levo bolsa, apenas um plástico com a identidade e uma nota de dez ou de vinte, quem sabe compro um biscoito numa padaria, ou tomo um café quando estiver de volta. Segurei as duas peças enroladinhas nas mãos e encontrei um local para escondê-las, uma parede de pedra, anteparo da subida para a calçada. Andei de um lado a outro, apenas o camisão a roçar-me, namoro novo na falta de homem, eu comigo mesma, bom o tecido de algodão. De modo geral não surge ninguém na praia àquela hora. Às vezes uma pessoa ao longe, lá na calçada, talvez empregado de algum dos restaurantes da orla, que vão abrir mais tarde; às vezes pessoas de idade que vêm andar na calçada por recomendação médica. Outro dia vi uma mulher da minha idade, quando passou por mim observei se a conhecia, mas não era de meu círculo de relações, quem sabe uma professora de educação física, sua roupa revelava a possível profissão. Quanto a homens com intenções de namorar, nem sombra. Acho que todos estão ainda acordando, como me disse a amiga, ou partindo para o trabalho. Ao chegar à ponta da praia dei meia volta e comecei a caminhar para o lado oposto, à outra ponta, onde costumam chamar de Pecado. Quem sabe o nome surgiu por isso, o homem era tão bonito, um pecado não namorá-lo. Voltei na minha marcha, estava lisa, animada, sentindo tesão. Sério, é a palavra certa, tesão. Experimentem caminhar de manhãzinha apenas vestidas de camisão. O roçar das coxas sem o biquíni ajuda a excitar, a gente acaba molhada, e não é pelo banho de mar. Apressei-me, corri um pouquinho, o coração acelerou. Será que vou gozar?, que show, às vezes é tão difícil o orgasmo às mulheres. Quando faltavam duzentos metros para o ponto onde deixara escondido o biquíni, vi um homem. Pela primeira vez um homem olhando o mar àquela hora da manhã. Que bom! O que faço?, não posso ir a ele, ele é que deve vir a mim. Diminuí a marcha, mas não o olhei diretamente. Ao cruzar com ele fiz de conta que olhava à frente, um ponto bem distante. Ao chegar ao Pecado fiz meia volta e dei a entender que retornaria. Reparei, então, que ele desceu um pouco na direção da beira do mar. Estava vestido de bermuda, camisa de mangas e tênis. Veio de tênis à areia da praia. Passei por ele mais uma vez, reparei que me olhava. Meu camisão estampado não deixou revelar o segredo. Que bom, ou que mal? Ao ter o tal desconhecido por perto, senti certo tremor, a falta da roupa de baixo provocou-me mais umidade entre as pernas. Se me descobre nua, o que vou dizer? Ah, mas não é isso que você quer?, encontrar um homem pra dar uma namoradinha. As coisas estavam mesmo a meu favor. Não voltei a cabeça, caminhei mais um pouco, como quisesse continuar o exercício. Quando voltei, no entanto, não mais o vi. Ainda olhei para trás, tentando descobrir se me seguia. Nada. Sumira. Viera do nada e ao nada voltara. Na segunda vez que atingi o Pecado, parei, respirei fundo e olhei o mar. Caminhei à beira d’água e molhei os pés. Estava fria, senti arrepio. Movi as pernas permitindo que as coxas roçassem uma à outra. Lembrei-me do dia quando voltara de uma festa: deitei nua na cama e gozei. Ui, outro arrepio. Juntei as mãos à frente, embaixo do umbigo, fiquei a imaginar o gozo. Foi aí que tive a boa ideia. Olhei um lado, olhei outro, ninguém. Tirei o camisão e corri para dentro d’água. O mergulho, meu namoro com as águas do mar, namoro com meu próprio corpo. O que eu poderia querer melhor? Lógico que o homem, mas na falta dele... As mulheres da cidade não sabem o meu segredo. Quando ia embalada vivendo todo aquele êxtase, o tal homem, esperando-me à beira d'água, numa das mãos o meu camisão!