Em todo lugar, há muitas garotas de dezoito ou vinte anos a fim de arranjar namorados. Por isso, para quem já passou dos trinta, é difícil a competição. Mesmo um homem para sair uma noite ou outra, ir a um bar ou a um restaurante, já é complicado. As mulheres maduras precisam desenvolver vários artifícios para conquistá-los. Um deles é não ser muito fácil. Há mulheres que se oferecem, tem relações com todos que aparecem, acham que agindo assim conseguirão o homem mais bonito do pedaço. No entanto, não é esse o caminho. Quando morei em NY, agia dessa maneira, mas pouco a pouco percebi que era relegada pelas mais jovens. Então, comecei a estudar a situação. Passei a gostar de distrações mais sofisticadas, como ir ao cinema ou ao teatro, conversar com pessoas de maior cultura, mesmo não sendo essa a minha origem. Não consegui namorado, mas aumentei o número de amigos e amigas. Encontrava as mesmas pessoas em todos os lugares e passei a sair com muitas delas. Saídas aqui consistia em ir a um bar depois da sessão, onde quase todos estavam e se podia conversar sobre o espetáculo visto. Às vezes, em meio aos participantes, se encontrava alguém que dava o número do telefone ou marcava um encontro para o dia seguinte.
Dentro da minha nova realidade, apareceu um homem morador
próximo a mim, mas de características muito diferentes das que eu estava
vivendo. Ele frequentava os bares da comunidade, assistia a jogos de futebol,
não ia ao cinema nem ao teatro. Não sei por que, em meio a tantas mulheres jovens,
ele veio a mim, e pediu-me para conversar. Não neguei a conversa, mas percebeu
que o meu universo era muito diferente do seu. Em um momento, falou: “você vai
aos seus espetáculos e encontra comigo depois que chegar, se quiser pode passar
lá em casa”. Passar lá em casa significava dormir com ele depois de tudo que eu
e ele havíamos vivido, separadamente. Não considerei a proposta de imediato, mas
depois pensei nela e lembrei de uma amiga que dizia ao namorado para sair com os amigos e depois aparecer na casa dela, mesmo que já passasse da
meia-noite.
Acabei aceitando a proposta, só para experimentar. Fazia o
que desejava e, já madrugada, nos encontrávamos para passar a noite juntos.
Pela manhã, eu partia, ele ainda ficava dormindo. A relação passou a ser duradoura.
Não perguntávamos o que cada um fizera durante o dia. Também não demonstrávamos
ciúme algum. Um dia, porém, uma mulher chamada Janina, veio falar comigo. Disse
que eu estava dormindo na casa do namorado dela. “Seu namorado?”, surpreendi-me,
“ele me convida sempre para passar a noite com ele, não sabia que tinha namorada”.
Daquele dia em diante, não mais apareci na casa do homem.
Depois de uma semana, ele veio me procurar. Contei-lhe o encontro com a tal
mulher. Disse que era mentira, que iria falar com ela. Mesmo depois de sua
afirmação, não voltei a casa dele. Descobri, mais tarde, que eles se casaram.
Hoje, depois de ir a tantos espetáculos, me tornei atriz. Foi
simples, fiz um curso de um ano, uma prova de seleção para uma peça. Consegui o
papel principal. Mais tarde, me procuraram para fazer um filme. Aceitei. Depois
do sucesso do filme, fiz uma série para a TV. É lógico que, no meio desse percurso,
me mudei da comunidade onde morava. Passei a viver num bairro próximo à zona
sul da cidade.
Minha mudança de vida surtira efeito. Eu me tornara outra
pessoa. Quanto a arranjar namorados, isso é outra história.
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