“Márcia, você é fogo, viu, não perde tempo, mal conheceu o
homem já foi com ele.”
“Tem que ser assim, Sônia, vamos que ele desapareça no dia
seguinte.”
“Desapareça?”
“Isso mesmo, tem tanta mulher tarada por aí.”
Sônia riu sem discrição, não fazia parte das mulheres taradas.
“Márcia, eu reparei bem, vocês estavam dentro do táxi, ele
era bem mais jovem do que você.”
“E o que há de mal nisso? Quanto mais jovem, melhor; há algo
que apenas os jovens têm”, revirei os olhos depois da última palavra. Sônia entendeu
o que eu queria dizer.
“Ele era um amigo do meu filho.”
“Por favor, mãe, não conte para ninguém, se meus amigos
souberem, passo vergonha.”
Estava preocupado, ele tem 22 anos; o amigo, 24, e a mãe, 45,
namorada do amigo.
“Por mim, tudo bem, mas fale isso também para ele”, encerrei
o assunto.
No dia seguinte, fui com o namoradinho a um passeio. Ele dirigia,
eu olhava a estrada. Subimos uma serra, a vista era bonita lá de cima. Chegamos
a um vilarejo onde a maioria das casas era de madeira. Estacionou. Fomos até
uma das casas. Um restaurante parecido a um chalé suíço.
“Que lugar lindo, não conhecia”, falei.
“Fico contente que você tenha gostado.”
“Verdade, não sabia que, há duas horas do Rio, existe um
lugar desses.”
A dona do restaurante veio falar com a gente, trouxe um
cardápio comprido. Havia comidinhas da região, peixes de rio, arroz com
açafrão. Não faltou a caipirinha.
Em um determinado momento, saí para fumar. Ele permaneceu à
mesa. A dona voltou e comentou com ele algo que não consegui ouvir. Fiquei
fumando e olhando a pequena praça que distava uns duzentos metros de onde eu
estava. Passou, vagarosa, uma perua, que estacionou um pouquinho antes da
praça, trazia uma canoa na capota. Uma moça saltou do carro pela porta do
motorista. Vestia uma camiseta super curta e estava de biquíni. Achei estranho uma
mulher quase nua num local de montanha, mas depois me lembrei da canoa, logo, o
rio, daí o minúsculo traje. Ela veio até onde eu estava.
“Você tem um cigarro para me emprestar?”, pediu.
Ofereci. Acendeu no meu isqueiro, agradeceu dizendo que se
eu quisesse ela tinha canabis, e o fumo do lugar era ótimo. A moça morava logo
na segunda casa a seguir. Agradeci, disse que iria pensar no caso.
“Não pense, não, pegue logo comigo, depois você pode não me
encontrar.”
Aceitei. Ela foi até a casa e voltou com um longo cigarro de
maconha.
“Não se preocupe, disse, aqui todos fumam, faz bem para a
saúde e para a economia local.”
Sorriu depois da frase, como uma expert em economia.
Voltei para o restaurante, não falei nada ao namorado. Comemos
e bebemos durante uma hora e meia. Tomei duas caipirinhas e comi alguns
camarões.
“Engraçado ter camarões aqui”, afirmei.
“Tem tudo que a gente quiser.”
“Será?”, fiz uma cara de deboche, tentando deixar no rapaz
uma ponta de desconfiança sobre o que eu desejava.
Andamos um pouco, saímos do vilarejo e chegamos a um platô,
uma altitude acima do conjunto de casas.
Tirei o baseado da bolsa e acendi. O namorado nada falou.
Depois de alguns tragos, passei a ele, que fumou com prazer.
“Vi quando a moça te chamou e foi pegar pra você”, disse e
apontou o cigarro.
“Não sabia que as coisas aqui são tão fáceis, ela nada me
cobrou.”
“Os moradores são afáveis, e vivem de um modo diferente da
gente lá de baixo.”
Descemos por uma trilha, chegamos a uma das margens do rio. O
baseado não demorou a acabar. Eu me sentia plena de amor para dar. O namoradinho
notou.
Tirei toda a roupa e a coloquei no sopé de uma árvore. Entrei
no rio. A água fria me provocou arrepios e um pouco mais de tesão. O namorado veio
atrás, mas não teve coragem de ficar nu. Abracei-o de frente. A corrente d’água me impregnava de frisson, uma ou outra ave passava e emitia o seu som, o
farfalhar do vento sobre as copas, um ou outro barulho no meio do mato, tudo me
provocava. Eram coisas maravilhosas para uma mulher da cidade grande, que não
sabe o prazer que há em lugares assim.
Não sei quanto tempo permaneci agarrada a ele. Também não
sei descrever a intensidade do prazer que eu sentia. Me lembro que pensei: que
bom meu namoradinho de 20 anos. Caso eu arranjasse um de 40, tenho certeza, não
estaria nua dentro de um rio, banhada por aquelas águas que vinham ainda
selvagens de uma cachoeira que não estava muito longe de nós.
Dormimos numa pousada que ficava sobre o mesmo restaurante
onde almoçáramos. Ao acordar, na manhã seguinte, encontrei um bilhete do namorado,
que eu o encontrasse no rio, no mesmo lugar da véspera. Não perdi tempo,
vesti-me sumariamente e corri até o local. Estavam dentro d’água, ele e a dona
do restaurante. Acenaram para que eu mergulhasse e me juntasse a eles. Antes,
porém, ele apontou a árvore onde ambos haviam deixado suas roupas.
Não contei a Sônia sobre o passeio nem sobre aquela relação a três, de amor ou de amizade, como ele definiu. Foi tão bom que podia dar azar. Nunca é bom falar demais. Acho também que ela não entenderia. Suas histórias de amor são um tanto atrapalhadas. Ela também gosta de andar nua, contou que certa vez foi como viera ao mundo no banco do carona, no carro do namorado. Quando a encontrei, ela quis que eu contasse tudo, mas eu apenas disse adivinhe!, e sorri, um sorriso dissimulado. Ela, para romper o silêncio, contou a sua última façanha amorosa.
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