quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Historieta de Carnaval

Divertimo-nos bastante durante o Carnaval. Tanto nos blocos como no sambódromo, tudo foi prazer e alegria. Sempre acontecem alguns imprevistos; ou melhor, fatos que, na verdade, fazem parte dessa festa irresistível e até a tornam mais excitante. Vamos a um deles; mas, por favor, peço ao pé do ouvido: não espalhem!

– Fiquei sem...

Era a frase que soava um tanto furtiva e incompleta na voz de muitas mulheres no final da segunda noite de desfile das escolas de samba do grupo especial. Vinha acompanhada invariavelmente de um movimento desajeito de braços. Tentávamos em vão tapar nossas vergonhas recentes havia muito descobertas. Pairava a seguinte pergunta: "o que fazer agora?"

Durante toda a madrugada, a exibição fora intensa. A bebida, a música, a pouca roupa e o entusiasmo geral fizeram todos explodir de desejo. Imaginem o que pode acontecer num espaço tão pequeno – no camarote a que nos convidaram nossas gotas de suor chegavam a freqüentar vários corpos –, com tantas mulheres quase nuas e ante a foliões excitadíssimos...

Após a passagem da última escola já ao amanhecer, nós, as beldades, nos transformamos nas mais pudicas das criaturas. Percebia-se que a nenhuma restara sequer um minúsculo tapa-sexo. Tínhamos apenas ligeira esperança na boa vontade de alguns cavalheiros que nos poderiam dar abrigo, ainda que provisório...

Dancei o tempo todo na frente do camarote. Quis primeiro exibir os seios. Que tal tirar o top? Não demorei a desvencilhar-me dele. Um folião de bermuda estampada em flores coloridas aproximou-se, estendeu os braços, demonstrou admiração pelo meu corpo e pelo meu desembaraço. Ergui a taça de champanha, saudando-o; tomei um longo gole, entreguei-a a alguém que estava mais atrás. Eu, seminua, com um biquíni que era uma coisinha à toa, empolgava-me e transmitia empolgação. O mesmo folião aproximou-se mais um pouco; primeiro fez cócegas na minha cintura; depois deslizou os dedos e tocou a extremidade de meus laçarotes. Uma nova taça chegou-me às mãos, não demorei a esvaziá-la. Num piscar de olhos, a miss (sim, eu um dia fora miss, portanto jamais se perde a majestade) estava inteiramente nua. E assim me diverti na madrugada de carnaval. Em pêlo! E eles eram tão poucos...

Em plena festa eu e meu companheiro escalamos cumes inacessíveis, atingimos montanhas com recantos ora mornos, ora escaldantes; não deixamos de, por breves instantes, deslizar trôpegos, mas sem despencarmos; ora nos ornava sombra com diadema de vaga-lumes, ora luz intensa – holofote escaldante – vinha nos roubar a pele. Num momento esperado com ansiedade, sentimos que algo inexprimível e incontrolável nos crescia internamente. Então – uma conjunção de astros em noite de eclipse – explodimos! Expelimos gotículas adocicadas, talvez mel e pólen que se misturariam a outros elementos do universo.

Depois, ainda nua, voltei à festa. Atingi de novo o auge do entusiasmo – outro tipo de orgasmo –, mas agora com os últimos tambores, cuja vibração e ritmo seriam capazes de substituir nossos corações caso não os tivéssemos. Só então percebi que a festa acabava. Abateu-me a timidez que se segue ao gozo. Mas não me escapou o encanto. A atmosfera de magia e excitação aos poucos se dissipou e, embora não houvesse cavalheiros prestes a socorrer todas as nuas, encontrei o meu. Não o que me levara o biquíni no bolso da bermuda florida; outro, mais velho e mais charmoso.

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