domingo, julho 20, 2008

Gotas d'água sobre meu corpo reluziam como pequenos diamantes

Quando na noite avançada a luz prateada do holofote me acertava em cheio, as gotas d’água sobre meu corpo reluziam como pequenos diamantes. Meu namorado achava a brincadeira excitante, e eu acabava por embarcar nas loucuras que ele inventava. Depois, já desligada a lâmpada, ele me abraçava e me possuía ali mesmo, sobre as areias da praia, com o marulhar a nos cantar o amor. Às vezes eu tremia de frio, tentava absorver o calor do seu corpo e ao mesmo tempo sonhava com algum pano comprido, algum tipo de veludo a me roçar a pele. Mas ele me deixava nua durante a maior parte do tempo. Tentava aquecer-me com a fricção do próprio corpo e me queria provar que eu esqueceria o frio à proximidade do orgasmo. Depois que gozávamos, eu, além do frio, sentia uma vergonha imensa, dizia então:

”Vai buscar minha canga, alguém ainda me encontra nua.”

Mas ele demorava e queria uma vez mais.

Encontrávamo-nos para essa aventura uma vez na semana.

“Por que não nos basta uma boa cama de hotel?”, eu perguntava.

“Assim é mais agradável, ao ar livre, e sob todos os riscos.”

“Mas está frio, ainda pego uma doença.”

“Se o tempo continuar assim, vamos a um lugar mais quente.”

Ele ia até o carro e vinha então com minha canga; depois de voltas e rodeios, como a amansar um touro bravio, envolvia-me e íamos jantar num restaurante rústico, onde a proprietária já nos conhecia. Discreta, ela nunca perguntou porque eu me vestia daquele jeito. Cada semana, pontuais, aparecíamos ali; e eu com um pano diferente a me cobrir o corpo. Talvez nos achasse veranistas loucos. Embora já fosse longe a estação do sol, continuávamos a nos divertir como se o verão, desatento, permanecesse. Apesar de eu reclamar, na verdade gostava das intempéries desse namorado extravagante.

Levava-me a algumas festas também exageradas. Aconteciam em apartamentos grandes, de inumeráveis salas e quartos, onde a música rápida girava nossos corpos. Havia salas, sempre às escuras ou sob tênues lâmpadas de abajures laterais, convidativas a contatos íntimos. Agarrávamo-nos então sobre estofados macios; poucas palavras e beijos de amantes demorados. Garçons jovens serviam-nos bebidas coloridas. Excitávamo-nos. As mulheres que freqüentavam tais festas não deixavam de mostrar-se extremadas. Além de parecerem amar em demasia seus homens, vestiam saias curtíssimas, tops mínimos. Certa noite quando fui ao banheiro, encontrei três jovens totalmente nuas. Diziam que sairiam assim para dançar; surpreenderiam seus pares. Perguntei se a dona da casa não se oporia à inteira nudez. Elas se entreolharam, riram e disseram que não tinham perguntado a ela. Uma propôs que tirassem apenas a calça de liga e fossem com aquelas blusas, vestidos curtos disfarçados, assim não assustariam os mais conservadores. E foram.

“Não nos acompanha? Tenho uma blusa que em você vai parecer um vestido lindo”, uma delas me ofereceu.

“Obrigada”, repliquei, “tenho andado nua o tempo todo.”

Riram e saíram as três. Uma esqueceu a calcinha sobre o pino da toalha. De propósito. E dançaram. Os homens com elas, cada vez mais enlouquecidos. Lá pelas tantas se enfiaram por outros cômodos. Discretas, namoravam. Agiam como se ainda trouxessem o arremedo de vestido, mas na verdade já os tinham perdido. As pequenas lâmpadas apagadas disfarçavam-lhes a nudez. Às vezes, seios se iluminavam furtivos, era a chama de um isqueiro que ia em direção ao cigarro a transbordar dos lábios de uma delas. Podia-se dançar inteiramente só e podia-se entregar a braços outros. Em certa noite escorreguei em mãos alheias. Meu namorado também ia em outra companhia. Um homem negro puxou-me junto a si, abocanhou-me os lábios. Permiti; no começo, um tanto medrosa, mas, em seguida, percebendo a penumbra, entreguei meu corpo pequeno a seu largo abraço. Após dançarmos uma ou duas músicas, levou-me para um canto. Ainda brilhava o abajur, mas ali éramos apenas os dois. Escorregou as mãos sob minha saia e me deixou nua.

“Você é muito grande para mim, vai me machucar”, sussurrei ao senti-lo.

“Não se preocupe”, revidou, “vou cuidar bem de você.”

E cuidou. Gozei como nunca; quis mais uma vez.

Quando a festa ia perto do fim, esforcei-me para não perdê-lo; queria algum meio de contato. Meu namorado, pelo que percebi, trazia um sorriso estampado. Vi quando uma morena piscou para ele. Ela usava um short curtíssimo, pensei até que estivesse de biquíni.

Dias depois encontrei meu homem negro. Levou-me para o melhor hotel da cidade. De novo, fez tudo na penumbra; e eu a senti-lo crescer dentro de mim, crescer até não poder mais. Mas com carinho, com esmero.

A estada com o amante foi apenas por três vezes; depois o perdi. Não havia apenas eu a desejá-lo.

Meu namorado continuou a envolver-me com suas surpresas. Eu atendia-lhe todos os desejos. E quando íamos àquelas festas, passei a fazer coro com as mulheres que queriam sair nuas do banheiro.

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