sábado, junho 06, 2009

No estacionamento...

Havia extravagância em minhas roupas. Desfilava pelo shopping e sabia que os homens me apreciavam. Caso eu os encarasse, via seus olhos na direção das minhas pernas. Evitava que descobrissem que eu investigava suas fisionomias. Para uma mulher, é sempre bom fazer-se a pessoa mais inocente do mundo.

Em todos os lugares a que fui pela manhã, houve quem me espreitasse. E não foram apenas os homens. Dentro de um toalete, uma jovem se dirigiu a mim com as seguintes palavras: “você está linda com esse vestido, aceita um convite para andar um pouco ao meu lado? Tenho coisas ótimas para fazer, inclusive ir a uma festa.” Delicada, declinei. Pedi o número do telefone, quem sabe amanhã ou depois.

Num restaurante, na hora do almoço, duas adolescentes vieram a mim: “por favor, seu vestido é tão bonito, em que loja você o comprou?” Dei as informações, de muito boa vontade, sempre sorrindo.

Quem quer que fosse, eu conquistaria. Se não para namorar, ao menos para segurá-lo por alguns minutos; tempo em que me apreciaria. Sabia também que demoraria a desaparecer-lhe da lembrança. Por falar em namoro, caso essa fosse a minha vontade, bastava sentar-me numa cafeteria, cruzar as pernas e fingir um olhar distante, como se não quisesse nada com pessoa alguma. Logo surgiriam homens que não me deixariam por nada desse mundo.

À tarde, entrei no carro e dirigi até o Park Shopping. Quando caminhava já no primeiro piso, reparei dois jovens que me olharam, riram e comentaram alguma coisa. Os jovens poderiam ser muito mais bem sucedidos com as mulheres, mas eles não sabem o que falam; acabam perdendo boas oportunidades. Eram grandes, bonitos, simpáticos; mas não havia razão para fazer o que eu vou contar a seguir.

Continuei meu passeio; olhava as vitrines; vez ou outra me encantava com alguma roupa. Ao parar durante alguns minutos em frente a uma loja de lingerie, senti um ligeiro sobressalto. Um daqueles jovens soprou a seguinte frase no meu ouvido: “você fica linda quando sai sem calcinha!”

Numa primeira reação, qualquer mulher educada nada falaria; poderia reagir através de um leve movimento no rosto. Talvez houvesse quem se virasse na direção oposta e deixasse o local. A mais esquentada talvez soltasse um palavrão, mesmo que em voz baixa. Mas mantive-me incólume. Uma vez que tenho o pleno domínio de todo o meu corpo, mesmo em situações imprevistas, agi como se nada houvesse acontecido.

Continuei a admirar as peças, os tecidos, os detalhes das roupas, as quais eu considero um tipo de obra de arte.

Ele tentou outro golpe: “você ficou excitada, os bicos de seus seios estão rijos”.

Continuei como se ele fosse invisível e eu nada percebesse.

“Você gostou, não? Seus seios continuam me correspondendo.”

Decidi então reagir, mas de forma totalmente inesperada: beijei-lhe os lábios.

Desconcertou-se, não esperava pelo gesto.

Continuei a apreciar as vitrines.

Após recuperar-se, falou: “que tal sairmos um pouco?”

“Sairmos?”, resolvi embarcar na fantasia dele.

“Isso, sairmos, namorarmos...”

“Agora, às três da tarde?”

“Não tem problema, estou de carro, os vidros são escuros, está no estacionamento coberto.”

“Você acha, amor, que eu tenho cara de namorar em estacionamentos?”

“Não sei. Há garotas que adoram. Tiram toda a roupa, até ameaçam sair nuas do automóvel.”

“Não sou uma garota.”

“Tem razão.”

“Você quer fazer amor comigo?", eu o excitava.

“Claro!”

“Então me leve ao Mercure, ou ao Confort, no setor hoteleiro.”

“É muito caro!”

“Cada coisa tem o seu preço. Você não gosta de coisas boas?”

“Gosto, mas...”

“Encontre comigo em frente ao Pátio Brasil, às 20:30h, caso você decida.”

“Fala sério?”

“Falo. Mas não dentro de seu carro, no estacionamento...”

Segui em frente. Ele ficou.

E é claro que, caso tenha me procurado à noite, permaneceu só.

No estacionamento...

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