sábado, junho 13, 2009

Terapia

Doutora, procurei você por um motivo muito simples. Posso chamá-la por você, não? Obrigada. Uma amiga, que indicou a terapia. Disse que resolveu aqui quase todos os seus problemas. Veja, vem acontecendo comigo algo que de início parecia uma coisa à-toa, mas agora me tem atrapalhado. Como deve ocorrer a muitas mulheres que aparecem aqui, meu problema é sobre relacionamento. Entende? Isso, sobre a dificuldade de me relacionar com os homens. Por isso, fico sozinha a maior parte do tempo. Não é que eu não goste de ficar só; às vezes, fico feliz por não ter ninguém que me aborreça, por poder andar nua dentro de casa, sem vergonha alguma. De repente, aparece algum homem; me paquera, me deseja; passa a me fazer convites. No começo recuso, mas em algum momento acabo aceitando. Sabe quando se sai com alguém pela primeira vez? Bate aquela curiosidade. Tudo é novo, repara-se nos menores detalhes. Todos, eu inclusive, tentam de toda a forma não decepcionar o outro. Acho que apenas nessas poucas vezes é que se pensa realmente no “outro”. Um dia desses me aconteceu tal caso. Conheci um homem que se separou havia pouco, uma pessoa muito bacana, gentil, bem-sucedida por sinal. A apresentação se deu através de uma amiga. Ela mantém um relacionamento estável com um homem também muito legal, e esse que me apresentou é amigo do companheiro dela. Foram amigos de faculdade e trabalharam juntos. Encontram-se até hoje. Na primeira vez que saí com ele, perguntou aonde eu queria ir. “Ao cinema”, falei. Não tem nada de mais ir a um cinema quando se sai com alguém pela primeira vez. É até bom, porque há o que se conversar depois. Assistimos ao filme. Gostamos muito. Depois fomos lanchar. Nenhum de nós pediu bebida alcoólica. Ficamos conversando na praça de alimentação do shopping durante muito tempo; depois, ele perguntou se eu queria ir a mais algum lugar. Lógico que eu disse não; falei que, na verdade, estava cansada e queria ir para casa. Levou-me em seu carro, com muita gentileza. Ficamos de telefonar alguns dias depois. Marcamos então outro encontro. Nesse encontro, ele me convidou para jantar. Num restaurante lindo, no Leblon; acho que na Dias Ferreira. Ali há cada restaurante maravilhoso. Jantamos, bebemos vinho, conversamos mais. Quando acabamos, percebi que ele queria me levar para outro lugar. Talvez à casa dele, ou mesmo a um hotel. Não fez o convite abertamente, mas era o que ele queria. O que podem querer duas pessoas adultas, que começam um relacionamento? Querem se tocar, se beijar, trepar, não é mesmo? Mas relutei, disse que naquela semana não tinha me sentido bem, talvez uma virose. Tudo mentira, é claro. Não insistiu, conduziu-me em seu automóvel, com muita amabilidade. Agradeci e me despedi. No dia seguinte, telefonou para perguntar como eu estava. Fiquei radiante por ele ter se preocupado comigo. No final de semana seguinte, saímos de novo. Dessa vem, um espetáculo teatral. Ótimo, no Shopping da Gávea. Lá é tão bonito, não é mesmo? Depois jantamos num restaurante que eu não conhecia, em Ipanema. Lindo. Comi pouquinho, mas estava ótimo. Bebemos uns coquetéis, uma delícia. Quando acabamos e partimos, perguntou se não desejava conhecer o apartamento dele. Ali mesmo, em Ipanema. Disse que tinha vista para o mar, que poderíamos ouvir umas músicas, conversar mais, que o ambiente lá era muito agradável e coisa e tal. Relutei, mas acabei aceitando, Chegando lá, mostrou-me todo o apartamento. Um sonho e tanto para quem mora sozinho. Depois ficamos numa ampla sala, conversando. Em certo momento, ligou o aparelho de DVD e a TV; assistimos ao show de uma cantora famosa. Conversamos mais um pouco. Achei que ele não tinha intenção de fazer amor comigo naquela noite. Mostrou-se muito gentil, como era seu costume. Qualquer mulher que tivesse aquele homem não o largaria mais. Mas eu relutava. Não sabia o que fazer. Logo pensei: “para ele é fácil, basta ir lá embaixo que arranja alguém para trazer para cá”. Naquela noite ficamos durante duas horas e meia sentados num dos estofados da sala, ouvindo música. Ele não se aproximou de mim para me abraçar, como eu temia. Também não tomei iniciativa alguma. Quando passava da meia-noite, pedi que me levasse em casa. Levantou-se sem fazer objeção. Saímos. Comentei o caso com a minha amiga, a que me apresentou o homem. Ela disse que estou perdendo tempo, que não temesse, que ele é boa pessoa. “Nem chegamos a nos agarrar”, falei a ela. “Demos apenas um ou dois beijos”. Duas semanas depois, encontramo-nos de novo. Levou-me a uma festa. Muito agradável a festa; freqüentada por pessoas bonitas e simpáticas. Acabou tarde. Quando se preparava para me levar em casa, eu disse que queria ir para o apartamento dele. Pensei: “hoje me entrego, vou agir como disse minha amiga”. Já tinha tomado dois coquetéis de frutas com vodca, estava até um pouco excitada. Seu rosto abriu-se num sorriso largo quando ouviu meu desejo. Ligou o carro e dirigiu até aquela rua bonita de Ipanema, onde mora. Entramos no apartamento. Larguei-me primeiro sobre o estofado, enquanto ele foi fazer alguma coisa. Depois, ligou o aparelho de som, colocou um CD instrumental e veio para sala. Mas não me encontrou ali. Procurou-me. Eu estava no quarto, sobre a cama dele. Falei: “deita aqui ao meu lado”. Ainda vestido, deitou-se. Então o abracei e lhe dei um longo beijo na boca. Trouxe o homem para cima de mim. Agarramo-nos. Nossas roupas se roçavam umas nas outras. Quando me soltou, tirei o vestido e deixei que escorregasse para o chão, num dos lados da cama. Ele também despiu-se. Gostou, doutora? Despiu-se. Ficamos ali, juntinhos. Então aconteceu. Mas você deve estar se perguntando o que me trouxe aqui. Porque até agora parece que tudo está dentro da mais perfeita normalidade. Mas ouça o que aconteceu depois. De um extremo, fui ao outro. Foi algo que já havia ocorrido outras vezes, com outros homens que tive. No momento em que me percebi próxima daquela satisfação que toda mulher gosta de sentir numa boa trepada, não me contive. Comecei a gritar assustadoramente. O homem ficou desesperado. Acho que não estava acostumado com isso. Gritei e gritei com toda minha energia. Falei cada coisa... O quê? Ah, dizer agora é difícil. Mas disse coisas que nem a mais reles prostituta diria. E tudo num volume altíssimo. No final, ainda esbravejei que me mandasse embora nua, porque eu era a maior puta da cidade. Pensei que ele fosse levar tudo na esportiva, fantasias de uma mulher de quarenta anos. Mas, depois que tudo acabou e que me levou pra casa, notei que já não era o mesmo. Dali pra cá, não mais me ligou. Fiquei sem o namorado. Então, doutora, o problema que quero resolver é esse. Quando conheço alguém, estou num extremo, sou super tímida; ao entrarmos pelo relacionamento, no momento em que acontece a primeira transa, vou ao outro extremo. A maioria dos homens se assusta e não mais me procura. Devem pensar que sou louca. O que você me aconselha, doutora? Como a sua terapia pode me ajudar?

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