sábado, setembro 11, 2010

Celebridade

Não sei como dizer, Clara, mas não sirvo para esse tipo de coisa. Fiquei apavorada. Você diz que consegue se controlar, que cochicha no ouvido deles essas coisas todas, diz que chegou pelada e vai embora pelada, faz o homem ficar louco por você. Mas eu não consigo. O pior foi ele ter começado. Você disse que todo homem é um pouco tarado, não foi isso? Até aí tudo bem, mas comecei a achar que as palavras dele seriam verdadeiras. Fugi, Clara, saí correndo. Juro que não apareço lá nunca mais. O que ele me falou? Preciso contar? Acredito que foi você que inventou aquelas coisas todas, ele deve ter aprendido com você, não há outra saída. Vou contar o que ele me falou. Ouça, Clara, pra você pode ser uma coisa comum, para mim, porém, foi terrível. Eu estava nua na cama dele. Viu, como você já imaginava, fui parar no apartamento dele, e olha que não costumo frequentar casas de namorados. Ele sussurrou no meu ouvido que eu sou muito gostosa, essas coisas que todo homem diz para uma mulher. Disse que qualquer um gostaria de me apalpar, "você arranja o namorado que quiser, seja ele uma pessoa comum ou uma celebridade", isso, Clara, celebridade, foi o que ele falou. Agora veja se estou com essa bola toda. Já passei dos..., bem, não preciso falar, você sabe. Escute. Continuou me acariciando. Até aí eu estava gostando muito. O que me apavorou foi quando entraram as palavras. Palavrões? Não, Clara, acho que ele nem é de falar palavrões. As palavras dele me colocavam numa situação muito complicada. Quando eu já ia lá pelas tantas, envolvida num quase êxtase, ele veio com aquela história do vestido. "Sabe o seu vestido? Não vou devolvê-lo, você vai embora nua." Gelei, Clara. Já pensou? Ir embora nua. Nunca me aconteceu isso. Ele ainda continuou, com uma pergunta: "Você já chegou nua em casa alguma vez?" Como? Chegar nua em casa? Claro que não. Deus me livre. Não precisei responder, porque ficava cada vez mais gelada. Mas ele entendeu o meu pensamento. "Então vai chegar hoje." Quase me desvencilhei dele. Mas o danado parecia conhecer tudo de mim. Me tocava nos pontos que me excitavam mais, me beijava, enfiava as mãos entre as minhas pernas, procurava o meu grelo. Ai, que palavra horrível, grelo. Mas ele procurava. De repente subiu sobre meu corpo e fez seu sexo me penetrar. Junto com todas aquelas carícias, confesso que me esqueci do que ele dissera. Procurei me concentrar, achar que suas palavras anteriores eram um meio de se excitar. Quando ele estava próximo do prazer máximo, resolveu começar a falar de novo: "hoje você não escapa, viu, lembra aquela hora que abri a porta do apartamento? Lembra que pedi licença logo depois que você se despiu e fui até lá fora um instantinho?" Ele falava e continuava se movimentando, com o pênis dentro de mim. "Você não notou, mas peguei o seu vestido escondido de você e o coloquei lá fora, na caixa de incêndio do andar. Nem sei se ainda está lá, pode ser que tenha desaparecido, assim você vai ter que voltar nua mesmo." Foi a gota d'água, Clara. Empurrei ele pro lado, corri, abri a porta do apartamento e fui até lá fora. Juro, nuinha no corredor do quarto andar daquele prédio. Verifiquei a caixa de incêndio e não encontrei nada lá. Alguém roubou o meu vestido, pensei. Vai ver ele combinou com alguém do prédio. Abri a porta desesperada e voltei pra dentro do apartamento. Foi quando vi a camisa polo que ele vestira sobre a cadeira. Enfiei a blusa, rápido, ficou tão curta, Clara, um vestido mais curto do que aquilo é inimaginável. Peguei minha bolsa, a sandália, e corri dali. Juro. Eram duas da madrugada. Ainda bem que não tinha ninguém na portaria do prédio dele nem na do meu. Fugi pra casa. Você precisava ver a cara do motorista de táxi ao me descobrir vestida daquele jeito. Para concluir. Hoje o engraçadinho me ligou e disse: "você esqueceu o seu vestido aqui, não quer vir buscá-lo?" O que, Clara, ir lá de novo? Você acha mesmo isso bom? Tremi tanto. Não sei, Clara, não tinha pensado sobre isso. Assim você me deixa confusa. Vou pensar, então. Prometo, a princípio vou apenas pensar. Mas de antemão, acho que depois disso tudo, até que sua ideia não é má...

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