quarta-feira, junho 22, 2011

Uma foto minha

Meu amigo me mostrou a foto. Fiquei surpresa. Nunca fui fotografada nua correndo na rua. Ou melhor, não apareço na foto nua por inteiro, mas apenas de miniblusa, bolsa a tiracolo e sandália meio salto. Nada mais. E estou com cara de apavorada, como se estivesse fugindo de alguém, ou temendo ser surpreendida. Ele ainda pôs o seguinte título: Rachel correndo nua. Não sei como conseguiu me fotografar. Como gosto de andar nua, não vou dizer que a foto seja falsa. Mas não me lembro de corrida tão atabalhoada nem do esperto fotógrafo. Olhando com mais atenção pode-se reparar minha perfeita maquiagem e o contorno nítido do meu rosto. A própria fotografia se apresenta bem acabada. Ao fundo, está escuro, é noite, há a luz dos postes, percebem-se alguns carros estacionados. Não há viva alma além de mim.

Já namorei este meu amigo. Ele é muito bonito e gostoso. Diz que, quando me insinuei a ele naquela noite, pediu em contrapartida apenas a possibilidade de fazer meu retrato numa cena externa.

Digamos que seja tudo verdade. Não há problema uma foto minha, eu pelada na rua. O mais prazeroso, porém, é namorar com ele. Não há nada mais gostoso. De suas carícias naquela noite, não me esqueci. Fui à casa dele, bebemos vinho, ficamos excitadíssimos. Depois me levou para o quarto. Fizemos amor de todas as maneiras. Uma mulher não gosta de descrever os pormenores do seu ato de amor, geralmente o deixa implícito, melhor que todos o imaginem, pensem no que há de mais estimulante numa relação a dois. Gosto de ressaltar o momento em que fico nua, altiva e desinibida. Acrescento aqui curto episódio: o namorado a procurar todo o meu corpo com mãos de mil carícias, a me beijar a boca; o ato de eu deitar sobre ele, ou ele sobre mim, não importa.

Mas a foto, não lembro...

Ou será que esqueci de propósito? Diz ele: “pedi para você ir lá fora, sua reação foi afirmativa e imediata.” Ainda, segundo ele, saí nua de casa. Sua sugestão era que eu fosse até a calçada, vestida.

Acho que recordo apenas o ar frio. Era noite de outono. Também lembro que quase pedi para vestir um casaquinho. Fora isso, mais nada.

Agora ele me mandou essa foto, anexa a uma mensagem. Apesar de aparecer um tantinho vexada, não posso recusá-la. Fiquei tão bonitinha. Mas fiz uma ressalva: “olhe, não vá postá-la por aí, viu?” Não demorou a me responder: “você é tão exibida, aposto que está doidinha para ser admirada por seus fãs.

Então, após refletir um pouquinho, mudei de opinião. Antes que acontecesse, eu mesma a postei. Espero que todos me apreciem. E gostem!

quinta-feira, junho 16, 2011

Viver todo esse prazer...

Quero que saibas que não sou prostituta, o que faço é por gosto. Podes pensar que para mim seria mais fácil reclamar algum dinheiro, quantia que me pagasse o risco. Mas não é isso que me satisfaz, somente o toque sutil de tuas mãos, o beijo, ou uma série deles, o namoro ainda que por uma noite. Muitos perguntam se não temo. Claro que tenho medo, quanto a isso não resta dúvida. Alguns, nessa estrada noturna, depois do gozo me deixam nua. Sei que desejas saber como faço para voltar sem roupa à Vila. Tenho minhas precauções. Sei onde me vestir. E não é com folhas de árvore. Há esconderijos, duas ou três estações, onde posso parar, descansar, pensar no que fazer. São lugares onde viva alma não me conhece nem suspeita de minha aparição, onde deixo um vestido inteiro, panos, ou mesmo moldes de papel do meu manequim, próprios para fantasias passageiras ou para correr a casa, e não é de primeira que se desfazem, a não ser que os molhe a chuva. Já fui costureira, sabias?

As meninas invejam-me. São tantos os meus namorados. Querem ao menos um para si. Mas eles vêm apenas a mim. Elas são como galinhas que apenas cacarejam, mas não tomam coragem de rondar fora da Vila, morrem de vergonha, temem os desconhecidos, ou mesmo incidente que lhes revele a identidade.

Toma-me em teus braços. Isso, assim. Tens suavidade. Sente minha pele quente. Depois vamos a mais conversa. Descobriste agora? Venho completa, todas as peças. Há homens rudes, desejam despir a mulher, peça a peça, não admitem que lhe falte uma delas. Podem até nem devolver, mas gostam de tirá-las, às vezes com cuidado, outras tantas com violência, de modo a danificá-las, a esgarçá-las, assim como nos arranham a pele.

Tira, vai, pode me deixar nua, tenho meus sortilégios. Mais tarde conto sobre eles, agora quero apenas teu sexo. A cabine de teu caminhão é tão espaçosa... Dás prazer em dobro. Isso, segura aí, aperta, aperta que me vem o gozo. Queres trazer por trás a outra mão? Já devias ter explorado melhor esse caminho...

Os homens gostam de gozar assim. Permito. Admiram-me a habilidade, não deixo escapar uma gota. Não precisas me tapar o nariz nem contar até dez. Engulo tudo muito rápido, tão depressa que não hás de acreditar. Mas queres que eu vá além, que engula líquido de teu frasco? E se for veneno? Há quem deseja nos matar, sabias? Mas me garantes que é alguma coisa sã, que além disso me dará um barato? Ou será que me há de sair caro? Vou beber, confio em ti. Mas não me vás fazer como um que vinha de Vitória e me empurrou goela abaixo remédio que fez soltar meus intestinos. Quis-me agachada, sem defesa, mal cheirosa e sob seu olhar...

Sei que há ainda os piores. Não foi por aqui, mas na cidade. Uma amiga teve de comer de um pote, pensou ser chocolate o presente do namorado. Quando descobriu o verdadeiro conteúdo não pôde recusar, o homem tinha uma arma. Imagina o que comeu. Depois teve de correr a um hospital. Sorte não ter morrido.

Viver é muito perigoso, como li num livro. E viver todo esse prazer é muito mais perigoso.

Mas vem, sei que te conheci há menos de uma hora, também sei que não é desses deixados para trás na conversa. Deita-te sobre mim, goza, não faz mal, transborda-me do teu prazer!

quinta-feira, junho 09, 2011

"Nada mais excitante do que seus pés"

Ele trouxe a câmera. Olhei reticente, acabei perguntando:

“O que você vai fazer com isso?”

“É uma câmera, para que serve?”

“Sei para que serve, mas você vai fotografar quem?”

“Adivinha?”, sorriu depois da interrogação.

“Não tenho a mínima ideia”, dissimulei.

“Jura?”

“Bem, jurar já é misturar as coisa.”

“Então, já que você entendeu, vista-se como quiser, vou fotografá-la.”

“Você me pediu?”

“Senhorita, queira me perdoar, acaso gostaria que eu fotografasse vossa beleza?”

“Verdade?”, sorri, “ou cantada?”

Fez uma mesura, posicionou a câmera, permaneci na mesma postura, clicou.

“A senhorita é bela mesmo sem fazer pose, venha ver.”

“Aceitável”, afirmei.

“Então?”

Depois de cinquenta minutos já tinha vestido e despido todas as minhas roupas. Aliás, faltavam os biquínis.

“Que tal?”, apareci, muito mais corpo do que pano.

No final, disse a ele:

“Espere, agora uma surpresa.”

Saí de trás do biombo envolvida apenas numa canga abóbora, tão bonita. Fez três cliques, eu enrolada nela. A seguir, a surpresa: deixei escorregar o tecido semitransparente.

“As mulheres adoram ficar nuas”, falou enquanto me fotografava de todas as maneiras.

Quando acabou, suspirei:

“Olhe onde você vai colocar essas fotos...”

“Você nunca fotografou nua?”

“Já, e nem sei onde andam as tais fotos. Acho que com um ex-namorado.”

“Confie em mim, envio todas a você.

Perguntou se as queria por e-mail.

“Talvez, mas imprima algumas. Depois das câmeras digitais ninguém mais tem fotos de papel.”

Vieram as fotos. Por e-mail e papel.

“Ah, eu mato esse homem, olhe o que ele fez...”

Depois de examinar todas as fotos, não encontrei os nus, mas algumas em que figuravam apenas os meus pés. Pés ora calçados, ora despidos. No final, um bilhete:

“Nada mais excitantes do que seus pés.”

Oh, veja, eu lá quero saber de fotos de meus pés? Além do mais, não tenho como provar que são os meus!

domingo, junho 05, 2011

Acho que estou esquecendo alguma coisa

Aceitei o convite para ir à casa de um ex-namorado. É sempre arriscado visitar alguém cujos braços já frequentamos. Mas fui. Arrumei-me de modo a destacar meu corpo. Uma blusa justa, que deixava um tantinho da barriga de fora, uma pequena jaqueta a proteger-me do sereno e de arrepios e a calça strech, de modo a ressaltar meu bumbum.

Ao chegar, reparei que ele tinha pensado em tudo. Uma mesa plena de iguarias e um bom vinho aguardavam-me. Fundo musical de piano expandia-se suave, envolvendo a sala num misto de beatitude e desejo. Será que ele desejava me conquistar de novo? Fora ele que me dera o fora...

Abriu a garrafa de vinho. Pediu para que eu o experimentasse. Gostei. Movi a cabeça saliente; sorri insinuante.

Permaneci sentada num pequeno divã, enquanto ele ficou frente a mim, numa cadeira bonita, dessas de madeira antiga. Conversamos. Lembramos velhos tempos, velhos amigos. Comemos e bebemos. O vinho acentuava nosso entusiasmo.

Em algum momento, tirei da bolsa a câmera. Que bom que todos temos hoje uma máquina de retratos!

“Quer fazer uma foto minha?”, perguntou.

“Sim; posso?”

“Tenha a bondade.”

Fiz a foto. Ele segurava a taça de vinho e sorria. Levantei-me e procurei outro ângulo. Fotografei-o mais uma vez. Observei as fotos na tela; ficaram lindas. Mostrei a ele. Guardei a câmera e conversamos mais um pouco.

Depois de algum tempo, falou:

“Vou mostrar uma coisa a você.”

Ligou o computador. Logo chegou a uma tela em que havia uma foto minha. E eu estava nua! Então lembrei que eu me deixara fotografar por ele. Havia outras fotos minhas. Mostrou-me todas.

“Você enrubesceu”, falou-me em voz baixa, quase um galanteio.

“Enrubesci?, não acredito.”

Meneou a cabeça, depois saiu da página em que eu me apresentava de corpo ereto, desinibida e de frente.

“Volte lá, quero ver uma das fotos.”

Voltou ao local. Apontei a ele:

“Olha, essa é a mais bonita.”

“É a que ficou melhor”, frisou.

“Isso mesmo. Sabe, faz tanto tempo que ninguém me fotografa...”

“Se você quiser, estou pronto.”

“Ainda não; vou pensar. Pode ser que eu saia de face vermelha em todas as fotos...”

Sorriu. Terminamos a garrafa de vinho. Comi ainda duas torradinhas com pasta de caviar. Olhei as horas.

“Já pensa em partir?”

“Vou ficar mais uns minutinhos.”

“Então vamos escutar uma cantora que descobri faz um mês ou dois. Ela é americana, mas também canta em francês."

Colocou o CD. Prestei atenção em silêncio à primeira música.

“Excelente”, eu disse.

Ouvimos mais um pouco.

“Você deseja mais alguma coisa?”

“Queria beber mais vinho.”

“Vinho, não tenho. Quer ir até lá embaixo para comprarmos?”

“Vamos; pode ser que eu crie coragem depois.”

“Coragem? Para quê?”, quis saber.

“Depois te conto.”

Descemos, procuramos um bar nas proximidades. Como já passava da meia-noite, muita gente estava junto ao balcão; conversavam e tomavam cerveja.

Conseguiu uma caneca de vinho para mim.

“Esse não é da mesma qualidade do que você bebeu lá em casa, mas...”

Tomei assim mesmo. Não era mau o vinho.

Voltamos ao apartamento.

Pedi licença e fui ao banheiro. Demorei um pouquinho.

Saí devagar. Ele, naquele momento, estava sentado no mesmo local onde eu estivera. Quando me viu, fingiu não se surpreender. Eu estava nuazinha. Portei-me como se fosse a mulher mais vestida do mundo. Sentei na cadeira que antes fora dele.

Pedi a bolsa, tirei a máquina e a entreguei nas mãos dele.

Fez várias fotos. Eu escolhia a pose e ele clicava. Depois me perguntou se podia descarregar no computador. Permiti. Continuei nua ao lado dele enquanto via minhas fotos se espalharem pela tela luminosa.

“O vinho fez bem a você”, falou.

“E como, estava uma delícia.”

Levantou-se e saiu da sala por algum tempo. Quando retornou, ouvimos mais um CD: um quarteto para cordas.

Após vinte minutos, fui ao banheiro; queria me vestir. Mas, surpresa: minhas roupas não estavam lá.

Saí, nada falei; ele já fizera semelhante brincadeira outrora.

“Preciso ir”, tomei a bolsa, coloquei-a a tiracolo.

“Já?”

“Tenho um compromisso.”

“Então vamos, vou chamar um táxi pra você.”

Descemos pelo elevador social.

“Acho que estou esquecendo alguma coisa”, disse a ele.

“Será a máquina de fotos?”

“Não, a máquina está aqui na bolsa.”

Quando íamos deixar o prédio, vinha uma pessoa. Então ele me abraçou junto a uma das pilastras e cobriu meu corpo com o seu, que era bem maior. Beijou-me a boca.

“Já descobri o que você esqueceu”, falou excitado.

“O quê?”, perguntei fingida.

“Não notou que você está pelada?”

“Eu, pelada?”, abaixei a cabeça e tapei os seios com um dos braços, “e você nem pra me avisar!”, fui perfeita na representação.

Subimos de novo ao apartamento.

“Acho que só vou devolver amanhã”, colocou-me na cama.

“Não posso, juro, tenho um compromisso.”

“Então você é capaz de ir ao seu compromisso nua?”

“Prefiro voltar aqui outro dia e prometo que volto nua.”

“Promete mesmo?”

“Claro; você me conhece.”

Vesti-me. Despedimo-nos.

E fui ao meu compromisso.

Lá fiquei nua de novo. Até de manhãzinha.