Quero que saibas que não sou prostituta, o que faço é por gosto. Podes pensar que para mim seria mais fácil reclamar algum dinheiro, quantia que me pagasse o risco. Mas não é isso que me satisfaz, somente o toque sutil de tuas mãos, o beijo, ou uma série deles, o namoro ainda que por uma noite. Muitos perguntam se não temo. Claro que tenho medo, quanto a isso não resta dúvida. Alguns, nessa estrada noturna, depois do gozo me deixam nua. Sei que desejas saber como faço para voltar sem roupa à Vila. Tenho minhas precauções. Sei onde me vestir. E não é com folhas de árvore. Há esconderijos, duas ou três estações, onde posso parar, descansar, pensar no que fazer. São lugares onde viva alma não me conhece nem suspeita de minha aparição, onde deixo um vestido inteiro, panos, ou mesmo moldes de papel do meu manequim, próprios para fantasias passageiras ou para correr a casa, e não é de primeira que se desfazem, a não ser que os molhe a chuva. Já fui costureira, sabias?
As meninas invejam-me. São tantos os meus namorados. Querem ao menos um para si. Mas eles vêm apenas a mim. Elas são como galinhas que apenas cacarejam, mas não tomam coragem de rondar fora da Vila, morrem de vergonha, temem os desconhecidos, ou mesmo incidente que lhes revele a identidade.
Toma-me em teus braços. Isso, assim. Tens suavidade. Sente minha pele quente. Depois vamos a mais conversa. Descobriste agora? Venho completa, todas as peças. Há homens rudes, desejam despir a mulher, peça a peça, não admitem que lhe falte uma delas. Podem até nem devolver, mas gostam de tirá-las, às vezes com cuidado, outras tantas com violência, de modo a danificá-las, a esgarçá-las, assim como nos arranham a pele.
Tira, vai, pode me deixar nua, tenho meus sortilégios. Mais tarde conto sobre eles, agora quero apenas teu sexo. A cabine de teu caminhão é tão espaçosa... Dás prazer em dobro. Isso, segura aí, aperta, aperta que me vem o gozo. Queres trazer por trás a outra mão? Já devias ter explorado melhor esse caminho...
Os homens gostam de gozar assim. Permito. Admiram-me a habilidade, não deixo escapar uma gota. Não precisas me tapar o nariz nem contar até dez. Engulo tudo muito rápido, tão depressa que não hás de acreditar. Mas queres que eu vá além, que engula líquido de teu frasco? E se for veneno? Há quem deseja nos matar, sabias? Mas me garantes que é alguma coisa sã, que além disso me dará um barato? Ou será que me há de sair caro? Vou beber, confio em ti. Mas não me vás fazer como um que vinha de Vitória e me empurrou goela abaixo remédio que fez soltar meus intestinos. Quis-me agachada, sem defesa, mal cheirosa e sob seu olhar...
Sei que há ainda os piores. Não foi por aqui, mas na cidade. Uma amiga teve de comer de um pote, pensou ser chocolate o presente do namorado. Quando descobriu o verdadeiro conteúdo não pôde recusar, o homem tinha uma arma. Imagina o que comeu. Depois teve de correr a um hospital. Sorte não ter morrido.
Viver é muito perigoso, como li num livro. E viver todo esse prazer é muito mais perigoso.
Mas vem, sei que te conheci há menos de uma hora, também sei que não é desses deixados para trás na conversa. Deita-te sobre mim, goza, não faz mal, transborda-me do teu prazer!
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