sábado, julho 21, 2012

Rita - 3

Rita, o que é isso na mala do seu carro?

É uma bolsa com uma canga, há também um biquíni, ou mesmo uma calcinha reserva.

Pra que você precisa disso?  É para ir à praia de repente?

Pode ser, mas a intenção não é apenas essa. Vamos, Glória, estamos atrasadas e o trânsito deve estar congestionado até a Barra, conto pelo caminho.

Engraçado você guardar sempre uma canga na mala, acho que vou passar a fazer isso.

Não é nada engraçado, às vezes é a solução.

Como, solução?

Escuta, vou te contar. Outro dia saí com um micro-vestido.

Sei, aquele preto, curtíssimo.

Isso mesmo, curtíssimo. Vestido pra noite. Saí às onze, com o Valdo.

Puxa, vocês saem tarde, não?

Às vezes. Naquela noite voltaria até as três ou quatro da madrugada. Mas não foi o que aconteceu. Dormi na casa dele. Como ia voltar com o micro-vestido às sete ou às oito da manhã? Seria um escândalo, você não acha?

Boa ideia. Você voltou enrolada na canga, saiu da casa dele como se fosse à praia.

Me saí bem, não?

Legal, gostei mesmo.

Mas é preciso ter cuidado. Escuta outra coisa que aconteceu.

Saiu de roupa curta e esqueceu a canga?

Mais ou menos. Você já namorou nua no carro?

Cruzes, faz tanto tempo, acho que tinha dezesseis anos.

É porque você não é de ter muitos namorados. Há os que adoram tirar a roupa de uma mulher no carro. Outro dia voltei praticamente nua pra casa.

Você não tem medo?

Às vezes tenho. Faz poucas semanas usei um vestido também minúsculo, esse você ainda não conhece. Acabei dizendo ao cara: não volto pra casa não, fico contigo. Fomos pra casa dele. Quando acordei, adivinha o que aconteceu?

Ele saiu pra trabalhar e te deixou trancada peladinha em casa...

Antes fosse. Ia chegar alguém pra fazer um serviço no apartamento e a gente tinha que sair antes das oito. E qual não foi minha surpresa. Tínhamos saído na noite anterior no carro dele, e eu achando que estava com a canga na mala do carro. Quando lembrei, disse: não vim com meu carro! Ele: claro que não. Eu: e agora, a canga?

E o que ele disse?

O que ele poderia dizer? Nem sabia da história da canga.

E o que você fez?

Nada, voltei com o vestido curtíssimo.

E as pessoas?

Não reparei, coloquei óculos escuros e fiz cara de sonsa.

Rita, você é ótima para essas coisas.

Antes de sair pensei em telefonar pra alguém, alguma amiga, pedir um vestido ou coisa semelhante emprestado. Mas depois falei a mim mesma, quer saber de uma coisa? Isso vai dar o que falar. E voltei do jeito que saí à noite. A única olhadela mais indiscreta foi a do porteiro do meu prédio, mas ele já está acostumado com minhas extravagâncias...

Nenhum comentário: