Gosto mesmo é de namorar homens estrangeiros. Uma amiga me
perguntou a razão.
Não sei, respondi, sinto um tipo especial de atração por
eles; na verdade, parecem mais determinados.
E como você faz para arranjar um namorado estrangeiro?,
curiosa, ela.
Tenho de frequentar os mesmos locais que eles.
Expliquei então sobre os hotéis e restaurantes onde a gente
pode admirar esse tipo de homem. Enquanto eu falava, minha amiga ficou a me
olhar. Quando foi embora, desconfiei que passaria a agir como eu. Ah, nenhum
problema, falei comigo, há estrangeiros para todas.
Costumo ir à confeitaria Colombo, aquela do forte de
Copacabana. Pessoas requintadas sabem dessa tradicional casa, onde se pode tomar
café da manha, almoçar, ou saborear um chá à tarde. Prefiro ir em torno do por
do sol. Além de o serviço ser ótimo, há uma vista maravilhosa. É possível
apreciar toda a praia de Copacabana, o mar, e a extensão de terra que fica do
outro lado da baía, as praias de Niterói. Uma mulher bem vestida faz sucesso
neste restaurante. Ali há estrangeiros, e quando veem uma mulher sozinha e
bonita não perdem tempo, logo se aproximam. Espero para perceber que idioma
falam. De início, fico caladinha. Qual cantada vão lançar? Muitos
sorriem, tentam ser agradáveis. Surpreendem-se quando reparam que pago a minha
parte e não lhes peço coisa alguma.
Pensaste que sou prostituta?, tenho vontade de perguntar,
mas apenas sorrio, mexo a cabeça, deixo meus
cabelos enfeitiçarem o homem.
Ele se movimenta como se me quisesse convidar para continuar
o passeio em outro lugar, mas lhe faltam palavras. Ajudo. Digo que a cidade é
bonita, que a temperatura está amena, que tal continuarmos o passeio no
calçadão? E lá vamos nós. Calo-me, de novo. Espero pela iniciativa dele.
Fala em inglês, pois lhe esgotaram as palavras que conhece
no idioma local. Faço de conta que tenho dificuldade para compreendê-lo, ainda
não sabe que domino a língua estrangeira.
Andamos por toda a praia. Convida-me ao seu hotel.
É cedo, reparo, aqui fora está tão agradável.
Fujo dele naquela noite. Sei que dificilmente voltará. São
tantas as mulheres, tantas as ofertas. Quero-me casar com um estrangeiro, disse
à minha terapeuta. Estrangeiro?, ela repetiu, fingiu não entender. Mudei a
conversa.
Mas no dia seguinte, ele procura-me. Surpresa, atendo ao
telefone. Quer encontrar comigo de novo. São tantas as ofertas, penso mais uma
vez. Logo descubro o motivo de ele me ter procurado. Paguei a minha parte na
conta, tanto na Colombo como depois no outro restaurante. Comemos salada e
tomamos vinho. Está o homem acostumado a mulheres que o exploram, jamais teve
uma namorada brasileira que não lhe tenha tentado esvaziar os bolsos. Disse que
admira as mulheres independentes.
Quero casar, digo a ele no encontro seguinte.
Casar?, faz que não entende. Casar, falo e aponto ao dedo, faço de conta que enfio a
aliança.
Ele ri. Conversamos sobre casamento, em inglês.
Continua rindo. Veio ao Brasil com uma bolsa de
pós-graduação. Ele é da Sérvia, faz uma especialização em cirurgia plástica. No
seu país precisam de cirurgiões plásticos.
Você volta?, pergunto.
Sim, pretendo, fala em português, o sotaque pesado.
Pena, lamento.
Quer ir comigo?
À Sérvia? Impossível. Trabalho aqui, sou também da área de
saúde.
Em que trabalha?
Sou dentista.
Não quer trabalhar na Sérvia?, pergunta e me espera.
Penso na minha analista. Ela acha que o que lhe digo significa o contrário. Insinua que não quero casar, e que a estrangeira sou eu.
Será?
Sérvia é um bom lugar, tem oportunidade para dentista, diz
ele com certa lentidão de pronúncia.
Passo a namorá-lo com mais constância e rolo na grande cama
do seu quarto de hotel. Algumas vezes o levo ao meu apartamento.
Você usa roupas discretas, diz, as brasileiras usam roupas
mais curtas, mais sensuais.
Você está reclamando das minhas roupas?
Não. Só reparo que é elegante.
Ah, sim, entendo.
Tento fazer que o homem decida ficar no Brasil, no Rio de
Janeiro especificamente.
Não posso, tenho de voltar, Sérvia me espera, recebi uma
bolsa. Ficar é desertar, tenta explicar.
Ah, sim, estrangeiros não desertam. Lembro que pode ser eu a
estrangeira.
Você me quer sensual?, pergunto nua em seus braços, na cama
de seu hotel.
Sensual, repete e beija meus lábios.
Do jeito das outras brasileiras. Quer a mim como prostituta?, pergunto
em meio ao amor.
Prostituta, como assim?, o homem não entende.
Levanto, faço de conta que visto um vestido curtinho, frente
única, nada embaixo.
Quer passear comigo? Eu, prostituta, falo e aponto a porta.
Ele olha o relógio, são duas da manhã. Eu nuinha, o vestido
invisível. Parece gostar da ideia.
Vamos, diz.
Abre a porta, saímos. Quem sabe? Quero casar. Pode ser que
assim ele fique. Estrangeira, eu, e pelada...
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