quarta-feira, outubro 23, 2013

Estrangeira

Gosto mesmo é de namorar homens estrangeiros. Uma amiga me perguntou a razão.

Não sei, respondi, sinto um tipo especial de atração por eles; na verdade, parecem mais determinados.

E como você faz para arranjar um namorado estrangeiro?, curiosa, ela.

Tenho de frequentar os mesmos locais que eles.

Expliquei então sobre os hotéis e restaurantes onde a gente pode admirar esse tipo de homem. Enquanto eu falava, minha amiga ficou a me olhar. Quando foi embora, desconfiei que passaria a agir como eu. Ah, nenhum problema, falei comigo, há estrangeiros para todas.

Costumo ir à confeitaria Colombo, aquela do forte de Copacabana. Pessoas requintadas sabem dessa tradicional casa, onde se pode tomar café da manha, almoçar, ou saborear um chá à tarde. Prefiro ir em torno do por do sol. Além de o serviço ser ótimo, há uma vista maravilhosa. É possível apreciar toda a praia de Copacabana, o mar, e a extensão de terra que fica do outro lado da baía, as praias de Niterói. Uma mulher bem vestida faz sucesso neste restaurante. Ali há estrangeiros, e quando veem uma mulher sozinha e bonita não perdem tempo, logo se aproximam. Espero para perceber que idioma falam. De início, fico caladinha. Qual cantada vão lançar? Muitos sorriem, tentam ser agradáveis. Surpreendem-se quando reparam que pago a minha parte e não lhes peço coisa alguma.

Pensaste que sou prostituta?, tenho vontade de perguntar, mas apenas sorrio, mexo a cabeça, deixo meus cabelos enfeitiçarem o homem.

Ele se movimenta como se me quisesse convidar para continuar o passeio em outro lugar, mas lhe faltam palavras. Ajudo. Digo que a cidade é bonita, que a temperatura está amena, que tal continuarmos o passeio no calçadão? E lá vamos nós. Calo-me, de novo. Espero pela iniciativa dele.

Fala em inglês, pois lhe esgotaram as palavras que conhece no idioma local. Faço de conta que tenho dificuldade para compreendê-lo, ainda não sabe que domino a língua estrangeira.

Andamos por toda a praia. Convida-me ao seu hotel.

É cedo, reparo, aqui fora está tão agradável.

Fujo dele naquela noite. Sei que dificilmente voltará. São tantas as mulheres, tantas as ofertas. Quero-me casar com um estrangeiro, disse à minha terapeuta. Estrangeiro?, ela repetiu, fingiu não entender. Mudei a conversa.

Mas no dia seguinte, ele procura-me. Surpresa, atendo ao telefone. Quer encontrar comigo de novo. São tantas as ofertas, penso mais uma vez. Logo descubro o motivo de ele me ter procurado. Paguei a minha parte na conta, tanto na Colombo como depois no outro restaurante. Comemos salada e tomamos vinho. Está o homem acostumado a mulheres que o exploram, jamais teve uma namorada brasileira que não lhe tenha tentado esvaziar os bolsos. Disse que admira as mulheres independentes.

Quero casar, digo a ele no encontro seguinte.

Casar?, faz que não entende. Casar, falo e aponto ao dedo, faço de conta que enfio a aliança.

Ele ri. Conversamos sobre casamento, em inglês.

Continua rindo. Veio ao Brasil com uma bolsa de pós-graduação. Ele é da Sérvia, faz uma especialização em cirurgia plástica. No seu país precisam de cirurgiões plásticos.

Você volta?, pergunto.

Sim, pretendo, fala em português, o sotaque pesado.

Pena, lamento.

Quer ir comigo?

À Sérvia? Impossível. Trabalho aqui, sou também da área de saúde.

Em que trabalha?

Sou dentista.

Não quer trabalhar na Sérvia?, pergunta e me espera.

Penso na minha analista. Ela acha que o que lhe digo significa o contrário. Insinua que não quero casar, e que a estrangeira sou eu. Será?

Sérvia é um bom lugar, tem oportunidade para dentista, diz ele com certa lentidão de pronúncia.

Passo a namorá-lo com mais constância e rolo na grande cama do seu quarto de hotel. Algumas vezes o levo ao meu apartamento.

Você usa roupas discretas, diz, as brasileiras usam roupas mais curtas, mais sensuais.

Você está reclamando das minhas roupas?

Não. Só reparo que é elegante.

Ah, sim, entendo.

Tento fazer que o homem decida ficar no Brasil, no Rio de Janeiro especificamente.

Não posso, tenho de voltar, Sérvia me espera, recebi uma bolsa. Ficar é desertar, tenta explicar.

Ah, sim, estrangeiros não desertam. Lembro que pode ser eu a estrangeira.

Você me quer sensual?, pergunto nua em seus braços, na cama de seu hotel.

Sensual, repete e beija meus lábios.

Do jeito das outras brasileiras. Quer a mim como prostituta?, pergunto em meio ao amor.

Prostituta, como assim?, o homem não entende.

Levanto, faço de conta que visto um vestido curtinho, frente única, nada embaixo.

Quer passear comigo? Eu, prostituta, falo e aponto a porta.

Ele olha o relógio, são duas da manhã. Eu nuinha, o vestido invisível. Parece gostar da ideia.

Vamos, diz.

Abre a porta, saímos. Quem sabe? Quero casar. Pode ser que assim ele fique. Estrangeira, eu, e pelada...

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