Ainda bem que não foi como das outras vezes, quando um
arrepio me percorre o corpo e um friozinho toca fundo o meu estômago. Bastou
que eu pedisse ei, menino, pega aquela blusa ali pra mim. Ele me olhou, pareceu
intimidado com a ordem, como se eu fosse ralhar com ele ou lhe fazer algum mal,
fechou a cara, correu e voltou com a blusa. Obrigada, completei, agora pode ir
brincar. Mas ele ficou a me olhar, desconfiado, sabia que tinha alguma coisa a
mais. Nunca viu uma mulher nua, não?, sorri para ele, só não conte a ninguém.
Mostrei meu corpo, de frente e de lado, ri mais uma vez. Ele olhou
espantado, porém não arredou o pé. Ficou a me admirar. Depois, já dentro da
roupa que ele trouxera, dei um adeusinho e corri para o carro.
Manuel é fogo, adora situações arriscadas. Sempre me
telefona Márcia, vamos sair, venha vestida assim ou assado. Mas, Manuel,
replico, não posso andar nua pela cidade. Você não vai vir nua, lembre-se que
vestirá uma blusa sobre o corpo, sobre essa tua pele branquinha e
apetitosa, diz. Obedeço. Venho exatamente como ele pede. É lógico que venho
de carro. Desta vez, quis que eu subisse a serra. É uma cachoeira linda,
afirmou, você vai se deliciar. E lá fui eu, apenas a blusa a roçar-me a pele, o
mapa nas mãos e dirigindo o carro um ponto zero, que demora nas subidas. Mas
encontrei a cachoeira. Manuel não tardou. Tive de trabalhar antes, falou depois
de me beijar e conferir se eu vestia conforme o seu desejo.
Nada sei da vida de Manuel. Evito perguntas. Não sou sua
mulher, muito menos namorada. Conheci-o numa festa. Fui levada por uma
amiga. Há cada homem bonito, falou. Estava certa, havia homens bonitos e
agradáveis. Melhor assim, homens apenas para os momentos de felicidade. Não é
necessário saber coisa alguma a respeito deles, basta que sejam solícitos e...
vigorosos, ponto imprescindível. Assim está bom. Minha amiga de vinte e seis
anos sempre diz saio com Fulano de Tal, mas não é meu namorado. Sair quer dizer
o que mesmo? Todos sabem, não preciso traduzir. Assim surgiu Manuel. Resolvi
acompanhar suas loucuras. Quando estamos juntos, dedica-se inteiramente a mim,
não fala de mais ninguém. Como ia dizendo, acompanho suas loucuras. Porque a
marca registrada de Manuel é que ele adora mulher nua. Ou melhor, adora me
ver nua. Quer que eu vá nua ao seu encontro, me quer saindo nua do carro, me
quer nua o tempo todo. E como a transa é boa com ele...
A água da cachoeira estava muito gelada. Mas logo acostumei.
Quando Manuel entrou, já nadava nua. Ele fez a festa. Mergulhou sob o meu
corpo, me beliscou à vontade, me tocou, acariciou os locais que mais me excitam.
E a gente vai crescendo no gosto e no tesão. Mas Manuel adora outras
brincadeiras. Há momentos em que parece um garoto travesso. Então se esconde,
esconde minha blusa, me deixa nua. Sempre fala há uma maneira de você ficar
invisível. Eu, invisível?, me surpreendo. Isso mesmo, continua, caso alguém
apareça e você esteja nua há um modo de se manter oculta aos olhos alheios.
Olhos alheios?, repito. Isto, basta treinar o olhar, a sensibilidade, como
num sonho, diz. Curiosa, desejo logo aprender. Há um jeito de se portar, algo
oriental, um tipo de meditação que nos distancia das outras pessoas, daí você
pode ficar nua à vontade que ninguém vai perceber, não é concentração,
concentração atrapalha, trata-se de um tipo de entrega, ele conclui.
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