quarta-feira, março 26, 2014

Gosta de ver mulher nua?

Ainda bem que não foi como das outras vezes, quando um arrepio me percorre o corpo e um friozinho toca fundo o meu estômago. Bastou que eu pedisse ei, menino, pega aquela blusa ali pra mim. Ele me olhou, pareceu intimidado com a ordem, como se eu fosse ralhar com ele ou lhe fazer algum mal, fechou a cara, correu e voltou com a blusa. Obrigada, completei, agora pode ir brincar. Mas ele ficou a me olhar, desconfiado, sabia que tinha alguma coisa a mais. Nunca viu uma mulher nua, não?, sorri para ele, só não conte a ninguém. Mostrei meu corpo, de frente e de lado, ri mais uma vez. Ele olhou espantado, porém não arredou o pé. Ficou a me admirar. Depois, já dentro da roupa que ele trouxera, dei um adeusinho e corri para o carro.

Manuel é fogo, adora situações arriscadas. Sempre me telefona Márcia, vamos sair, venha vestida assim ou assado. Mas, Manuel, replico, não posso andar nua pela cidade. Você não vai vir nua, lembre-se que vestirá uma blusa sobre o corpo, sobre essa tua pele branquinha e apetitosa, diz. Obedeço. Venho exatamente como ele pede. É lógico que venho de carro. Desta vez, quis que eu subisse a serra. É uma cachoeira linda, afirmou, você vai se deliciar. E lá fui eu, apenas a blusa a roçar-me a pele, o mapa nas mãos e dirigindo o carro um ponto zero, que demora nas subidas. Mas encontrei a cachoeira. Manuel não tardou. Tive de trabalhar antes, falou depois de me beijar e conferir se eu vestia conforme o seu desejo.

Nada sei da vida de Manuel. Evito perguntas. Não sou sua mulher, muito menos namorada. Conheci-o numa festa. Fui levada por uma amiga. Há cada homem bonito, falou. Estava certa, havia homens bonitos e agradáveis. Melhor assim, homens apenas para os momentos de felicidade. Não é necessário saber coisa alguma a respeito deles, basta que sejam solícitos e... vigorosos, ponto imprescindível. Assim está bom. Minha amiga de vinte e seis anos sempre diz saio com Fulano de Tal, mas não é meu namorado. Sair quer dizer o que mesmo? Todos sabem, não preciso traduzir. Assim surgiu Manuel. Resolvi acompanhar suas loucuras. Quando estamos juntos, dedica-se inteiramente a mim, não fala de mais ninguém. Como ia dizendo, acompanho suas loucuras. Porque a marca registrada de Manuel é que ele adora mulher nua. Ou melhor, adora me ver nua. Quer que eu vá nua ao seu encontro, me quer saindo nua do carro, me quer nua o tempo todo. E como a transa é boa com ele...

A água da cachoeira estava muito gelada. Mas logo acostumei. Quando Manuel entrou, já nadava nua. Ele fez a festa. Mergulhou sob o meu corpo, me beliscou à vontade, me tocou, acariciou os locais que mais me excitam. E a gente vai crescendo no gosto e no tesão. Mas Manuel adora outras brincadeiras. Há momentos em que parece um garoto travesso. Então se esconde, esconde minha blusa, me deixa nua. Sempre fala há uma maneira de você ficar invisível. Eu, invisível?, me surpreendo. Isso mesmo, continua, caso alguém apareça e você esteja nua há um modo de se manter oculta aos olhos alheios. Olhos alheios?, repito. Isto, basta treinar o olhar, a sensibilidade, como num sonho, diz. Curiosa, desejo logo aprender. Há um jeito de se portar, algo oriental, um tipo de meditação que nos distancia das outras pessoas, daí você pode ficar nua à vontade que ninguém vai perceber, não é concentração, concentração atrapalha, trata-se de um tipo de entrega, ele conclui.

Transamos. A pedra forrada com a minha blusa, ou com a camisa de Manuel. Gozos e mais gozos. O corpo ardendo de tesão e de sol. Manuel é imbatível, quer sempre mais. No final? O banho, a água fria a correr rápida pelo corpo, a compensar o calor do sol, o calor do sexo. A cachoeira dá uma sombra boa, próxima de onde vem a queda d’água, e ali nem concentração nem entrega são necessárias, apenas o ato de me largar na água. Mas, cadê Manuel? Escondido Manuel, invisível Manuel. E o garoto de repente... De onde veio o garoto? Menino, por favor, apanhe ali aquela blusa pra mim? O que está olhando? Gostou? Mulher nua é sempre agradável de ver. Menino, por favor, deixe de ser sapeca, viu, volte aqui, não fuja com a minha blusa! As crianças, sempre as crianças. Diante delas, não é possível ficar invisível. Ei, garoto, não vá me deixar pelada!

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