Recebo um
telefonema às três da madrugada. É um namoradinho de ocasião. Está
acostumada a me convidar com investidas surpreendentes.
Está muito
tarde, respondo.
Ou muito cedo,
quem sabe, ele insiste.
Onde pretende
me levar?
Adivinha?
Concordo que
venha me buscar à porta de casa.
Está frio, falo
quando chega.
Entro no carro
e fecho a porta. Dou-lhe um beijo molhado.
Aonde vamos?,
pergunto.
Ele dá a
partida. Num primeiro momento, nada responde. Dirige dentro da madrugada silenciosa.
Vamos a um
lugar bem escuro, quero você nua.
Não seria
melhor dentro de casa, no calor do quarto?
Não, nada
disso, prefiro o sabor da aventura.
Damos algumas
voltas pela cidade. Na orla, a avenida principal está clara, ainda é possível
encontrar os últimos empregados dos restaurantes. Olhamos o mar, que desliza
com ondas uniformes sobre as areias da praia. No final, meu namorado dobra à
direita e seguimos para a rodovia.
Tire a roupa,
ele pede.
Mas assim?
Você já
prometeu que ia ficar nua dentro do carro, lembra? Então, hoje é a
oportunidade.
Mas está frio.
Fica apenas de
casaco.
Tiro toda a
roupa e a coloco no banco traseiro, menos o casaco. Visto-o novamente depois de
tirar a blusa. Começo a sentir excitação. Ele, ainda dirigindo, me acaricia o
ventre.
Sai da rodovia,
entra por uma avenida lateral e segue até a rodovia estadual. Quando começa a
trafegar nela, tudo está muito escuro, apenas os faróis do automóvel exploram o
caminho por algumas dezenas de metros. Nas laterais, a vegetação e, vez ou
outra, alguma névoa. Depois de guiar por um quarto de hora, para no
acostamento e me abraça, me beija e pergunta:
Você teria
coragem de descer?
Nua?, completo.
Isso.
Faço que sim
com a cabeça. Sorrio. Contenta-me a aventura noturna.
Vamos fazer
assim, diz, dou a partida, dirijo por mais dois ou três quilômetros, depois
faço o retorno e volto pra pegar você, quando estiver na direção contrária venho
com o alerta ligado. É o sinal de que me aproximo.
Faço de novo
que sim com a cabeça, deixo que ele me dê um longo beijo na boca. Desço do
carro, sempre tentando manter a elegância.
Será que ele volta?
Logo que
entro ele reclina o banco do carona e vem por cima de mim. Abro as pernas. Meu
corpo ainda traz o frio que faz do lado de fora. Há muito estou toda molhada. Não
sei se de nervoso ou tesão. Ele me percorre o pescoço com a
língua, me beija com ardor, seu pênis procura o meu sexo, o encontro é
instintivo. Enquanto me penetra, grito de prazer, grito pelo encontro fortuito,
grito por estar nua nos seus braços, ou numa rodovia, não sei; clamo pelo
prazer do risco que corro, chamo seu nome como se procurasse por ele, como se não
tivesse voltado e me deixado nua à beira da rodovia. Seu sexo agita-se dentro de mim, mergulha cada vez mais fundo, lateja, eleva-me às estrelas que ainda
vejo através do para-brisa quando abro os olhos. Quero o momento eterno, momento
de prazer máximo. Aperta meus peitos, sussurro, aperta. Ele obedece. Você
adivinhou o meu desejo, falo ao mesmo tempo que procuro sua boca com meus
lábios grossos, a boca úmida. Você sabe que eu quero sempre trepar,
que quero ficar nua pra você... Arfo. O gozo se aproxima, mas não quero perdê-lo.
Desejo que dure, que permaneça horas a fio, que vença os dias, que jamais
acabe. Meu corpo todo treme. O ardor me sacode com impetuosidade. Quero sentir
seu sexo no mais fundo do meu corpo, da minha alma. Vai, me esporra, me esporra
agora, vai, grito, gemo, choro. Desejo-me nua por mais tempo, desejo que se vá
de novo, que volte e tudo comece outra vez. Não quero o tempo a passar. Não
quero o sol. Ardo para que a madrugada dure. Que dure a sombra, que a rosa permaneça
em botão, que perdure a névoa e que eu goze mais uma, duas, três vezes, cada
vez mais, e que ele me deixe pelada, que desapareça, que volte de novo e que
tudo se repita até não mais pudermos, até que já não nos equilibremos sobre o fio tênue da razão...
E o frio, e eu pelada.
Será que ele volta?
Será que ele volta?
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