Lucélia abriu distraída a revista, e na penumbra mal se
reconheciam as figuras.
“Quero uma foto como esta”, mostrou ao namorado, “é de uma
atriz de telenovela”, falou e sorriu com o ar de futilidade, que sempre trazia
no rosto. Marcos olhou a mulher, entortou um pouco a cabeça numa posição que
revelava certo esforço para enxergar a foto.
“Mas ela está vestida, e parece com um Versace”,
terminou a frase e lhe beijou uma das bochechas.
“Estou nua por sua causa. Quem por acaso deslizou as mãos
por baixo do meu vestido no escurinho da boate?, quem depois me convidou para
esse apartamento? ”
“Você tem razão”, ele continuou, “gosto de você, acho
atraente sua silhueta. Faço a foto sim, basta que fique na mesma posição, e
acho até mais instigante que lhe falte a roupa.”
Lucélia cruzou as pernas, levantou o tronco e sorriu. Fez de
conta que olhava para algo distante, abstrato, assim como a mulher da foto. Marcos clicou duas vezes. Ela esperou que o homem viesse com um novo beijo, ou mesmo que a carregasse no colo
e a levasse para a cama. Quanto ao vestido curto desaparecido, que usara na
discoteca, não se importava, ainda era noite, faltavam duas ou três horas para
o amanhecer, aproveitaria o amor proporcionado pelo recente namorado, depois
arranjaria uma maneira de se safar. Já que gostava tanto do próprio corpo, das
sensações táteis, e do sexo masculino a lhe roçar as pernas, o prazer que transpirava era maior do que o temor. Além de tudo, os homens adoram jogos e
fantasias. A revista com as fotos das artistas jazia agora ao seu lado, sobre a
poltrona.
“Já aconteceu isso alguma vez com você?”, Marcos quis saber.
Ele aproximou-se e a abraçou.
“Isso?”, fez de conta que não entendeu.
“O caso do vestidinho. Você está tão tranquila, dona de si”,
acrescentou ele.
“Claro que não. Quanto ao estado de espírito, sempre fui muito tranquila.”
Ela havia roçado uma das mãos sobre a capa da revista,
voltou o rosto para o namorado, que aproveitou para lhe beijar os lábios.
Deitaram e mergulharam num longo amor. Depois adormeceram.
Ao acordar, por volta das nove da manhã, Lucélia se deu conta de que era domingo. Amaram-se mais uma
vez.
Foram embora duas horas depois. Ela sempre fora uma mulher fútil, tanto suas amigas quanto os vários homens que já haviam
estado com ela não duvidavam disso, mas sabia se arranjar. Do apartamento, entraram direto no automóvel de Marcos. A moça, bonita como sempre: o sorriso discreto; o cabelo castanho claro úmido, espetado para cima; e o vestido preto, curto, coladinho ao corpo, em contraste com a pele branquinha. Guardaria boas lembranças
da noite que ficava para trás.
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