quarta-feira, maio 13, 2015

Deixo que me fotografe

Essas viagens ao exterior são emocionantes, principalmente quando se viaja sozinha. Estou em Santiago do Chile, num hotel muito bom. Um prédio alto, de entrada luxuosa, com um balcão comprido revestido de madeira e aço, luminárias prateadas, funcionários solícitos. No foyer há várias poltronas ao lado direito de quem entra, enfileiram-se até a parte mais interna do prédio. Neste mesmo lado, localiza-se a entrada do bar e restaurante do hotel. Ao fundo do corredor há os elevadores e à esquerda é possível ver a escada que conduz a uma espécie de mezanino, onde se situa um dos centros de convenção, mas o que se percebe à primeira vista é uma cabine com vários computadores, todos para uso dos hóspedes. O hotel possui ainda piscina e academia, no décimo oitavo andar, de onde se tem uma vista panorâmica do bairro e de parte da cidade.

Observo as pessoas com a liberdade de uma aventureira, e posso até sorrir para os homens. Todos correspondem. Um deles olha para mim no momento em que saio do café da manhã. Aproveito então para sentar por alguns minutos numa das poltronas. Começamos a travar um animado diálogo. Ele quer saber de onde venho. Respondo-lhe. Diz adorar o meu país, já o visitou diversas vezes.

Estás a turismo?, pergunta.

Viajei com a intenção de descansar.

Muito importante descansar, completa numa mistura de português e espanhol. Não vai passear, fazer city tour?

Não sei, ainda não decidi.

Estou a trabalho, mas quando venho a Santiago não deixou de visitar o centro histórico, é muito interessante. Há também bairros boêmios, com muitos bares e vida cultural.

Sorrio e agradeço a sugestão. Digo que preciso subir, despeço-me desejando-lhe boa estada na cidade.

No quarto aproveito para relaxar, ler algumas páginas do livro que trago comigo e lembrar-me do homem recente. Ele deu mostras de interesse por mim. Por que não ajo como as garçonetes, ou as camareiras de hotel? Sei que todas elas são mulheres de respeito, mas encantam-se quando se descobrem amadas por um homem, seja ele quem for. E aproveitam. Gostam de presentes, cada um mais caro que o outro. Numa conversa recente, uma amiga falou-me de sua empregada doméstica. Esta lhe contou como faz em relação aos homens que a desejam. Trabalhou certa vez num hotel. Gostou do serviço, mas o patrão cismou com ela. Não ficou muito tempo. Mas enquanto trabalhou deu-se bem nas finanças e no amor. Ganhava gorjetas dos hóspedes e, quando eles a apreciavam... Adivinha? Certo dia um deles pediu que ela fosse até o quarto onde estava hospedado. Queria que ela o fotografasse. Um pedido até certo ponto surpreendente. Pegou a câmera, ensinou-lhe o manejo e fez várias poses. Depois perguntou se ela gostaria de aparecer em uma ou duas fotos. A mulher respondeu que nas horas vagas era modelo.

Modelo?, realçou a palavra o homem surpreso.

Isso mesmo, modelo. Não reparou como tenho o corpo perfeito?

Ah, acho que não reparei devido à roupa de funcionária do hotel, ele desculpou-se.

Deixo que me fotografe, ela afirmou.

Ele fez as duas fotos.

O senhor não deseja se certificar de já fui modelo mesmo?

Gostaria, mas não sabia como lhe pedir.

Não precisa pedir, espere um instantinho só.

Ela entrou no banheiro e saiu de lá enrolada numa toalha.

Pode deixar que depois trago outra para o senhor, ela disse.

Não, não há problema, pode usar a toalha o tanto que quiser.

O homem fez várias fotos da mulher. No final, ela soltou a toalha e posou nua.

Contou à patroa que os dois fizeram uma festa. E o homem, antes que ela batesse a porta do quarto e retomasse o trabalho, ainda lhe enfiou no bolso do vestido duas notas de cem dólares.

Após ler durante uma hora e meia, decido sair pela cidade. Não sou camareira nem garçonete, mas tenho o fogo das mulheres que gostam de amar. Num city tour, e ainda mais com um estrangeiro, quem sabe?

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