“Cris, chega aqui que quero lhe pedir um favor.”
“Fala, Lena, o que foi?”
“Você tem uma calcinha pra me emprestar?”
“Uma calcinha, por quê?”
“Ah, Cris, depois te conto, você arranja uma calcinha pra
mim?”
“Hum, deixa eu ver, já até imagino o que aconteceu, você com esse
vestido coladinho ao corpo e com a fama de namoradeira que só, esses garotos,
essa festa concorrida.”
“Vai, Cris, você arranja; se não, tenho de ir embora.”
“Vou procurar no armário de mamãe, no meu quarto vai dar na
pinta, tá cheio de gente.”
“Tanto faz, Cris, o importante é você me ajudar.”
Ela se foi e eu fiquei esperando, no corredor que dava
acesso à escada do segundo piso. Não via a hora de o Eduardo mostrar minha
calcinha para os outros garotos.
Ainda bem, Cris voltou logo.
“Pegue, Lena, foi o que eu consegui.”
“Cris, tua mãe usa calcinhas menores do que a minha.”
“Pois é, o que vou fazer? Minha mãe também gosta de
vestidinhos tubinhos, bastante curtos, e deve viver perdendo a calcinha por aí.”
Voltei para junto de alguns convidados. Mas, dessa vez, para
a varanda.
Chegaram novas pessoas, dois rapazes e três moças. Elas
também usavam roupas extravagantes, saias curtas, tops que mais pareciam uma
faixa a cobrir os seios. Como eu já os conhecia, fiquei entre eles. Mas não
demorou a surgir o Eduardo.
“Oi”, falou, “você por aqui?”
“Não gostei, Eduardo, não vou mais ficar com
você, isso não é brincadeira que se faça.”
“Que brincadeira?”, ele fez de conta que não entendeu.
“Você e seus amigos não gostam de mulher, não sabem
aproveitar as garotas, querem apenas disputar entre vocês quem rouba mais
calcinhas. Outro dia a mãe do Marcos veio me perguntar se eu também deixava que
os rapazes roubassem as minhas. ‘Por quê?’, perguntei a ela. ‘Porque o Gustavo
sempre tem uma calcinha guardada na gaveta de roupas dele. Diz que é da
namorada’, disse ela com um sorrisinho de escárnio.”
“Vou te dizer uma coisa, bem baixinho”, retomou Eduardo, “não
é só você que ficou sem, há três outras meninas na mesma situação.”
“Três outras?”, fiz cara de surpresa.
“Isso mesmo, três, e não duvido que daqui a pouco vai ter
quatro ou cinco. Todas como você, todas sem.”
“Quem disse que estou sem?”
“Você agora traz calcinha reserva?”, perguntou com os olhos
bem abertos.
“Quem sabe”, dissimulei.
Eduardo pediu licença, chegou a Sheila, também de vestido
curtinho.
Fiquei na festa, até aceitei dançar. Os garotos olhavam para
mim, para Sheila, para Jéssica, para Carla, não afastavam os olhos nem por um
minuto. Num determinado momento, passaram também a assediar a Cris, a dona da
festa. Notei nela um sorrisinho irônico.
Algum tempo depois, Eduardo me pegou pelo braço e disse:
“Vem cá rápido, por favor, quero falar com você.”
“O que é dessa vez?”
“Quero devolver tua calcinha?”
“Não precisa, pode ficar, guarde de lembrança.”
“Não, não, quero devolver.”
Sem que eu pudesse reagir ele tirou minha calcinha de um dos
bolsos e a colocou na minha mão. Durante alguns segundos fiquei segurando
aquele pedacinho de pano vermelho. De repente, virei de costas, e enfiei a
calcinha dentro do top, fazendo-a desaparecer como num toque de mágica.
Lá pelas tantas, vi a mãe de Cris. Os garotos também olhavam pra ela com uma intensidade que me causou desconfiança.
“Lena, a Cris está te procurando”, disse Marta.
“Ah, ainda bem que eu te encontrei Lena”, disse Cris, “você
precisa me devolver a calcinha, por favor, caso contrário vou ter problemas.”
“O que aconteceu, Cris?”, fiz de conta que não entendi o
motivo daquele desespero.
“Sabe como é a minha mãe”, ela ficou com o Gustavo, nos
fundos da casa, perto da piscina. Imagina o que aconteceu?”
“Ela também?, Cris.”
“Ela é humana, como qualquer uma de nós. Já teve até um
namorado da nossa idade. E foi um namoro sério. Vamos ao banheiro e me devolva,
por favor, na gaveta em que eu a peguei tinha apenas essa, que eu te emprestei.
Acho que ela não vai querer ficar sem durante toda a festa, vai acabar procurando
pela única calcinha que estava na gaveta.”
“Tudo bem, devolvo, mas você pode me dizer algum lugar dessa
casa onde eu possa ficar sozinha?”, minha perguntou revelou toa minha ansiedade
“O sótão, ninguém vai lá?”
“Obrigada, mas não fale a ninguém, por favor.”
Fomos ao banheiro. Tirei a calcinha e lhe entreguei. Quando
saía do banheiro, encontrei o Eduardo.
“Eduardo, me siga, quero falar uma coisa com você.”
Ele não pensou duas vezes. Entramos os dois no sótão.
Tranquei a porta.
“Tire minha roupa, vai, quero trepar. Esse negócio de roubar
calcinha não me satisfaz.”
Ele arregalou os olhos como se dissesse é pra já!
“Vou te ensinar pra que serve uma mulher”, soprei no ouvido
dele.