quarta-feira, março 23, 2016

Levada

“Olá, tudo bem? Que saudades. Quero encontrar você, dar uma mordidinha. Está assustada com a proposta? Ou com a palavra? Talvez esteja surpresa. Ninguém nunca falou assim? Você sabe o que significa dar (ou levar) uma mordidinha. Deve estar arrepiada, você sempre se desmancha quando envio uma mensagem ou quando ligo, pensa que não sei? Lembra quando nos encontramos ao acaso, naquela tarde de outubro? Estava magra, corpo mignon. Estou fazendo dieta, escutei sua voz, disse que se tratava de um probleminha de saúde. Agora sei que já está bem, não sofre de mal algum, e seu desejo, seu tesão, sempre foi grande, então lembrei a mordidinha. Você vai gostar, tenho certeza, e não será a primeira vez. Uma mulher muito levada, é assim que sempre imagino você. Mas também, pudera. Você lembra, ficou nua na praia, dentro d’água, deixou que eu levasse seu biquíni. Depois voltei para namorarmos, banhados pelas águas do mar. Não se preocupe, eu disse, caso apareça alguém estamos abraçados, você está vestida na frente pelo meu corpo e atrás pelas minhas mãos. Você riu, adorou a brincadeira, nem pensou que poderia ter de sair pelada de dentro d’água. No final, uma pizza. Assanhada, comendo a pizza e o biquíni dentro da bolsa. Agora convido de novo, que tal?, quero dar uma mordidinha, vai ser tão gostoso, garanto que vai gozar muito, muito mesmo, impossível representar com palavra. Num primeiro momento, as mulheres recusam, mas não demoram a deixar que lhes roubem a saia. Vamos fazer assim, você vem à minha cidade, não precisa se preocupar, não haverá custos, tudo por minha conta, e ainda vai ganhar um presente e tanto. No nosso último encontro, você falou sobre seu casamento. Eis as palavras: não temos nada, apenas amizade; além disso, ele fica na casa da serra e eu na da cidade, ele não consegue viver em M., de modo algum, eu é que vou à serra de quinze em quinze dias encontrar com ele, mas apenas para nos vermos e conversarmos um pouquinho; sexo, nem pensar. Portanto, disse eu, nada de consciência pesada, isso não é casamento, e se não é casamento, não há traição. Você riu, me deu razão. Espero você. Sei que está doidinha. Vou te sacudir e vais te renovar, por dentro e por fora. Não há o que o gozo não cure. Às vezes, desconfio, do jeito que você é levada, e como faz muito calor, quem sabe vai a Cavaleiros e lá, dentro do mar, uma mãozinha que sempre paquera você rouba o teu biquíni. E você a sorrir, a gostar, a namorar... Será?”

Que e-mail comprido. Ele a me convidar, a querer me deixar nua!, a desconfiar de mim. Que arrepio. Ainda bem que ele não está vendo, morro de tesão, verdade. Quanto a outro, não sei. Bem que, um dia desses, vi um homem tão bonito, não pude controlar meus pensamentos (só os pensamentos?). Voltando ao autor do e-mail, o homem que me faz o convite. Assim que eu estiver na cidade dele e ele me tocar, vou virar os olhos, vai poder fazer comigo o que quiser. Estarei pro que der e vier. Lá ninguém me conhece, posso até sair nua do apartamento. Vou levar minha caixa de surpresas: um vestido curtinho, desses que ficam coladinhos ao corpo; duas calcinhas pequeninas, uns fiapinhos à toa, uma saia de baianinha, uma camiseta curta, e também um vestido de odalisca; um biquíni de praia (fio dental), mas nada de top, apenas a calcinha, pra fechar uma lingerie de corpo inteiro, como uma meia que desce do pescoço às pontas dos pés, pra passear depois da meia noite. Todas essas surpresas pra desfilar pra ele e com ele. Ai, tomara que esse dia chegue logo. Até que enfim vou poder gozar, e gozar muito! Nada de ficar só no conto, quero também o corpo... Às vezes penso, em vez de ir à cidade dele, posso chamá-lo para vir à minha, vamos então pra uma praia deserta e, depois, pra um hotel. Ele vai adorar. Que show!

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