terça-feira, setembro 20, 2016

Literatura policial

“Um australiano que teve vontade de viver a vida e que viveu”, eu dizia ao meu amigo.

“Quem é o autor?”

“Simenon, George Simenon.”

“Ah, interessante”, mostrou admiração.

Estávamos em Rio das Ostras, sentáramos na areia e olhávamos o mar.

“Literatura policial, você não gosta?”

“Gosto”, afirmou, “Mas o que há de mais nessa história?”, ele quis saber.

“Um caso de amor.”

“Casos de amor? Casos de amor sempre são interessantes.”

“E nesse há um assassinato.”

“De quem?”, ele estava curioso.

“Do australiano. Ele não era jovem, tinha uma amante da mesma idade, bebiam juntos, faziam muitas coisas juntos.”

“Só isso?”

“Não, mas acho melhor você ler o livro”, falei e me viverei para ele, “acho que está aqui na bolsa.”

“Não, por enquanto não, prefiro que você me conte o principal dessa história.”

“Vocês homens são práticos, não?, sempre o principal, nada de leituras.”

Passou um ambulante vendendo cerveja, fiz sinal a ele. O homem parou, pedi uma long neck. Paguei e ele se foi. Tomei um gole. Meu amigo disse que queria saber da história.

“Ele arranjou uma mulher mais jovem, A amante então o seguiu e o matou, com uma faca.”

“E não foi presa?”

“Não. Contando assim pode não ter graça. Mas o inspetor achou melhor poupá-la, tinha poucos meses de vida, tanto menos quanto mais bebesse.”

“Bebesse?”, surpresa da parte dele.

“Isso. E era ao mesmo tempo um caso de alcoolismo.”

“Então, acho que você também gosta de facas”, meu amigo falou.

“E você de mulheres nuas, não?”

“Acho que todo homem gosta.”

“Então, você também tem uma história.”

“Tenho. Ambientada nessa praia.”

“Agora sou eu que quero ouvir, pois conte.”

“Aconteceu com uma amiga.”

“E como foi?”, a curiosa agora era eu.

“Não foi uma história de detetives, mas ela teve de se esconder, por pelo menos uma hora e meia.”

“Pouco tempo.”

“Na situação dela, o tempo foi imenso.”

“Por quê?”

“Porque ela estava nua, dentro d’água, nessa mesma praia. O namorado sempre quis vê-la tomando banho de mar nua. Ele pediu o biquíni e ela deu. Tirou e deixou nas mãos do homem. Só que não contava que ele sairia d’água e guardaria o biquíni na bolsa. Ela coberta apenas pela capa provisória das ondas e espumas, e as pessoas passando pra lá e pra cá, um dia de sol, de tardinha.”

“Poxa, mau esse namorado. Eu é que não queria saber dele.”

“Verdade? Olha que você ia gostar. Toda mulher gosta de andar nua.”

“Há mulheres que gostam, mas não é o meu caso, me sinto desconfortável quando estou nua.”

“Mas não era o caso dela. No início, ela gostou muito. Mas quando viu que ele não voltava, começou a ficar preocupada. E no final...”, meu amigo parou de contar para fazer suspense. “No final, uma moça parou para falar com ela, era uma amiga que a reconheceu.”

“Ela então pediu ajuda.”

“Nada disso, diz que até teve vontade, mas ficou caladinha.”

“E aí?”

“Gostou, não? Está curiosa.”

“Quem não ficaria?’

“A amiga não notou que ela estava nua. Aí, depois que a tal amiga se foi o namorado voltou, devolveu o biquíni, ela o vestiu e tudo acaba bem. Disseram que até foram comer uma pizza!”

“E quem contou a história?”

“Ela mesma. Mas não para mim. Para uma amiga, que me contou. Mas me pediu silêncio. Como você não a conhece, estou contando.”

“Então, acabou bem.”

“Sim. Sem facadas. Um caso de amor, de amor e de tesão. E uma pizza de muzarela!”

Ri. Ele riu também. Então olhou para os lacinhos do meu biquíni, e pediu um gole de cerveja.

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