Ele me telefonou. E toda vez que telefona sinto um
arrepio. Perguntou se eu já tinha me separado.
“Você falou que estava se separando”, afirmou.
“Sim, falei, lembro, já me separei, sim.”
“Então...”, ele pronunciou e se calou.
Ele estava querendo encontrar comigo já fazia tempo, certa
vez falou que viria aqui roubar minha calcinha, como fez certa vez quando
namoramos. Eu sorri na ocasião, sorria de novo por causa do tal pensamento,
enquanto segurava o telefone.
“Então”, repeti, “você quer falar comigo de perto, não é
mesmo?, sugeri.”
“Isso, sim.”
“Então”, foi minha vez.
Como nada falava, achei que perdera o interesse. Quando eu
estava casada o homem me telefonava, me convidava para sair, lembrava o tempo
que fôramos namorados. Agora, ali, eu segurava o telefone, numa ligação
interurbana, nada de confirmar as palavras que dissera outras vezes. Achei
melhor tomar a iniciativa.
“Quando a gente se encontrar, vou sem calcinha.”
“Roubo tua saia”, rebateu e riu.
Outro arrepio, agora bem fundo. Não pela ameaça, mas porque
o roubo já acontecera, além do sumiço da calcinha. Namorávamos à noite em um
lugar deserto (gostávamos de aventura), um desvio da estrada, escuro, muitas as
árvores, e ele a correr atrás de mim. Tirei a saia e pendurei num galho, a
esmo, quis surpreendê-lo. Ele acabou me descobrindo, me abraçando. Beijou-me,
um beijo demorado. A saia? Falou que se havia perdido, que não encontraríamos o
galho que servia de cabide. A transa foi tão boa, que eu queria mesmo era ficar
nua. Voltei para casa apenas de blusa. Ainda bem que ninguém pelo caminho. Dois
dias depois descobri que a saia não se havia perdido coisa nenhuma, ele a
trouxera escondida consigo, quis me pregar uma peça. Sua ação acabou por me excitar ainda mais. Ao parar o automóvel diante de minha casa, pedi que me
comesse mais uma vez, ali mesmo, depois entrei em casa, na maior naturalidade. Isso
já era passado, mas um passado que ainda me provoca frisson enquanto digito no
teclado do computador. Talvez seja este o prazer do texto sobre o qual tanto
fala Roland Barthes.
Talvez seja melhor sugerir ir ao encontro dele, pensei. Seria
demais a ação? Estava sendo ousada? Afinal, o telefonema fora dele.
“Vou mandar umas fotos”, falei, “agora não há mais problema.”
“Fotos, que bom”, pareceu muito feliz. Imaginei sua face
radiante, o telefone numa das mãos. “Mas como serão as fotos?”
“Não sei, vou pensar”, fiz mistério, “você vai gostar,
comprei um telefone novo, faz self, as fotos ficam lindas.”
Enquanto esperava a voz dele, comecei a pensar nas fotos.
Sou tão criativa, mas na hora de fotografar morro de vergonha.
“Isso”, ele disse.
“Isso o quê?”, assustei-me, será que ouvira o meu
pensamento?
“Isso, as fotos, e bem bonitas, vou verificar, vou escrever
uma história, você como personagem, levo pra você ler, nada de mensagem.”
“Ok”, concordei, “quando?”
“Amanhã ligo pra dizer o dia, tenho que resolver um problema
de trabalho, mas é coisa rápida.”
Despedimo-nos. Sentei à beira da cama, uma vontade louca de
ficar nua. Ele vai gostar, algumas fotos diante do espelho. A primeira com um vestido comprido, o vestido e a blusa de alcinha. A segunda, um vestido mais curto, ou mesmo uma saia, saia e camiseta. A terceira, de shortinho e top. Outra, de biquíni de praia. Já pensaram, o homem vai morrer de tesão. Mais uma, vestida apenas com a parte de baixo do biquíni; meus seios são rijos e pequenos, ele sempre adorou. A última foto, eu nua, apenas os olhos cobertos
pelo telefone. Se a foto cair em mãos alheias, não vão saber que sou eu. Que arrepio, eu nuazinha, só o telefone a cobrir meus olhos, ele vai me amar!
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