No começo achei aquilo estranho, mas pouco a pouco fui me
acostumando. Ele tirava toda a minha roupa, pedia para eu ficar deitada,
imóvel, então começava a me acariciar. Primeiro os seios, depois o ventre, a
seguir ia descendo, vagaroso, sem demonstrar pressa alguma; um pouquinho mais
abaixo tocava meu sexo com a ponta dos dedos. Já excitada, queria que ele logo
viesse sobre mim, precisava sentir-me invadida por seu sexo rijo. Chegava a me
mover, pequeno sinal de desconforto, queria dizer sem palavras que suas mãos
não me bastavam. Quando tudo parecia se consumar, quando eu pensava que
subiria, ágil, sobre meu corpo, ele pedia para me contar uma história. Uma história?,
eu replicava impaciente, uma história logo agora? Uma
história de tesão, de excitação, se é que as duas palavras não se igualam, você
vai arder ainda mais, ele sentenciava. Mas já estou ardendo, daqui a pouco não
vou mais querer, perco a vontade, contra-argumentava. Nada disso, sua fala
lenta, a voz clara tentava me convencer, você vai adorar, não desejará outra
vida. Começava a desfiar uma narrativa. História bobinha, chegava eu a sussurrar, mas não demorava a pedir continue, continue, estou gostando, quero saber
como vai acabar.
As mulheres gostam de andar nuas, e você não é exceção. Em
casa fica sempre nua, principalmente no verão. Como mora sozinha, não sente
necessidade de vestir-se, sai de um cômodo, entra noutro, a nudez lhe proporciona forte tesão, desejaria ter
alguém ao seu lado, mas não é sempre que isso é possível. Muitas mulheres dizem
que está difícil arranjar namorado nos tempos atuais, tanto mais um namorado
fiel, que as ame. Você, sempre nua, senta na poltrona da sala de estar, cruza
as pernas e pensa na questão. Acaba por lembrar uma amiga que, por sua vez, narrou
uma situação de arrepiar. Ela, que também adora andar nua, sentiu
urgência de arranjar um namorado; apelou, como rápida saída, para as relações
virtuais. Depois de alguma conversa, o homem a convenceu a um encontro real.
Ela de início sentiu-se intimidada. Mas respirou fundo e decidiu ousar, era
tudo ou nada. Planejou, com muitos detalhes, uma surpresa que, segundo ela, tornaria
o namorado seu prisioneiro, uma espécie de cárcere de amor e de tesão. Marcou
na ponta da praia, às dez da noite. Na ponta da praia?, o homem perguntou
surpreso. Por que a surpresa? Lá é totalmente escuro, nenhum poste de luz. Isso
mesmo, confirmou ainda segurando o telefone, na ponta da praia. Diana chegou de
carro, não foi difícil identificar aquele que a esperava, afinal não havia
outra pessoa no local. Ele, que se identificara como Jorge, permaneceu imóvel
ao ver o veículo encostar. Ela, da mesma forma, não se deslocou um centímetro
sequer do assento do motorista; esperou que ele se aproximasse. Ao olhar
através da janela, pensou a princípio que ela estivesse nua, uns segundos a
mais percebeu que a mulher viera de biquíni. Isso mesmo, de biquíni de praia, e
apenas com a parte inferior. Tentou não demonstrar surpresa; cumprimentou-a e
esperou que ela tomasse a iniciativa. Entre, por favor, ouviu a voz melodiosa
da mulher. Contornou o automóvel pela parte dianteira, parou diante da porta do
carona, abriu, pediu licença e entrou. Reparou o rosto de Diana, sorriu,
percorreu com os olhos os seios, o ventre e as pernas da mulher, movendo um
pouco a cabeça. Como era bonita! Apesar de entrada pelos quarenta, tinha o
corpo bem delineado. Ela retribuiu o sorriso e, sem palavras, não demorou a
abraçá-lo. Minutos mais tarde, subiu por cima do homem. Era menor e
bem mais leve do que ele. Agarrou-o com força e deixou que ele agisse. Depois
de namorarem e treparem com voracidade, ela pediu vamos até à beira d’água,
preciso dar um mergulho. Os dois saíram do carro, cada um de seu lado, deram-se
as mãos e caminharam até a beira da praia. Por que você veio de biquíni?, enfim,
ele perguntou. Para que você o tirasse, ela respondeu com naturalidade.
Depois da tal história, você ficou a mil. Seria verdade?
Como a amiga poderia agir de tal modo, arriscar-se a ser surpreendida por algum
morador da cidade, e quase todos conhecem seu carro. Levava em conta que o tal
Jorge era desconhecido, alguém de outra cidade. Mas quem sabe ele seria um
morador dali, alguém que lhe pregaria uma peça? Segundo ela, porém, tudo
terminou bem. Ele maravilhado com a ousadia da mulher, ela satisfeita plenamente,
com o prazer em dia. Você, após ouvi-la, pensou numa maneira de também
satisfazer seu tesão. Como agiria? Da mesma forma que Diana? Não teria coragem,
não é mesmo? Poderia sair nua de casa, isso mesmo, nua, dirigindo, daria umas
voltas pela cidade, sentiria na pele o ar noturno, o calor do verão, mas voltaria direto para casa, nada de descer nua a areia da praia. Era o que você tinha a intenção de fazer. Mas,
como estava trêmula, não sabia dizer se de temor ou de excitação, tomou uma
dose de vodca antes de sair de casa. Foi o que lhe deu coragem. Não fez as
coisas conforme planejou, foi além. Saiu, entrou no carro e deu a partida,
seguiu a sua rua no sentido sul, contornou o larguinho do Bosque, pegou a Avenida
das Rosas e depois o entroncamento que divide a saída da cidade com a via que
leva ao litoral. Lá, acelerou, jamais viu o velocímetro marcar tanto,
estava doidinha para chegar à orla marítima. Depois da meia noite, a orla é
quase deserta, apenas alguns cães vagam pelo local, a ponta da praia sem postes
de luz. Arrepios a mais. Encostou o automóvel no mesmo lugar onde a amiga
deixara o seu. Pena que não posso escondê-lo, seria muito ruim alguém ver esse
carro sozinho, estacionado aqui a esta hora da madrugada, você pensou. Mas não
houve jeito, o melhor seria deixá-lo ali mesmo e caminhar até à beira d’água. Foi
então que aconteceu o inesperado. Quer que eu conte mesmo? Você já
tem a história, não preciso dizer mais. Quer que eu conte? Está gostando? Ok,
vou narrar. Enquanto descia a faixa de areia, você sentiu-se molhada,
encharcada, mas não por algum respingo da forte maré, foi na verdade tomada por
intenso gozo, mesmo que homem algum não a agarrasse. Após vinte minutos de
idílio, a surpresa. Forte ronco de motor chegou aos seus ouvidos. O que será
isso?, você se perguntou. Virou rápida para ver se o automóvel estava no
mesmo lugar. Sim, ninguém por perto, suspirou aliviada. Outro veículo, no
entanto, estacionou atrás do seu. Você voltou-se novamente para o mar e tentou
esquecer o que acontecia lá em cima. Será ele?, você se perguntou. Mas não
marquei com ninguém. Será ele?, continuou a imaginar. Continuou a descer a
areia, o gozo, ao invés de interrompido, cada vez mais forte, mais quente. Foi
então que sentiu alguém a agarrando pelas costas. Ah, Jorge, que bom, vieste rápido, já estou nua, pelada pra você, estou molhada, encharcada, você
gemeu tais palavras numa voz de ardor, enfia, enfia logo, tira o meu gozo,
estou faz tempo sem namorado.
Jorge, vem, sobe sobre mim, sua história é ótima, mas agora quero
sentir teu pau, nada melhor do que ele, falei em meio ao meu delírio de prazer proporcionado pelo pequeno conto.
Vem, demora bastante dentro de mim.
Dei-me conta, não muito tempo depois de conhecê-lo, de que
não viveria sem suas histórias. Mesmo quando estou só e nua em casa, quando
muitas vezes sou tomada pelo arrepio de tesão, penso nelas. Não posso negar que muitas,
se não me fazem gozar, me deixam no ponto. O que também não deixa de ser um
grande prazer.