Entre lençóis e almofadas acordo na casa do namorado. Oito horas, silêncio, manhã que começa dourada. Pouco a pouco vou recompondo o dia
anterior, a noite de amor, as horas de prazer. Espreguiço-me, fecho os olhos,
tento mais um pouquinho de sono, não quero renunciar ao paraíso. Mais um quarto
de hora sinto vontade de tomar café, café fresco e bem quente, começar meu dia
com disposição. Sento à beira da cama, os pés a tocar o chão, nua por inteiro,
como costuma acontecer quando durmo com o namorado. Enfim, levanto-me, arrasto
comigo um dos lençóis, como um grande manto, começo a juntar minhas roupas.
Calça, calcinha, meias, top, casaquinho. Onde a blusa? Tenho problema com blusas,
elas desaparecem sem deixar o menor vestígio. Há pessoas que não sabem, nós,
mulheres, podemos perder algumas peças de roupa, mas morremos de vexo caso não
encontremos a blusa. É certo que gostamos de exibir os seios. Mas há momentos
próprios para isso. Ficar de seios à mostra ao inesperado é duro, muito duro.
Junto a roupa toda sobre a poltrona do canto do quarto. Com meus
próprios movimentos, deixo escorregar o lençol. Não há problema, melhor ir à
cozinha, o café espera-me. Após dez minutos, estou sentada na mesinha da
própria cozinha, xícara à frente, um pedaço de queijo, uma torrada, manteiga.
Mas onde enfiei a blusa?, eu a pensar com os meus botões, aliás, a pensar sem
pano e sem botões. Uma lembrança me vem à memória. Devia ter dezoito ou
dezenove anos, uma festa como as que aconteciam naquele tempo. Acho que quando
eu era bastante jovem todos eram loucos, isso mesmo, totalmente pirados. Não
sei se a ideia fora tramada por antecipação ou alguém a gerou naquele mesmo
momento. As garotas podem tirar a blusa, vamos apagar as luzes, todas ganham um
prêmio. Caímos na história. Mas até que foi engraçada aquela noite. Tiramos
blusas, tops, sutiãs, e houve quem ficasse nua por inteiro. De mais detalhes,
não lembro. No final da tal festa, lá pelas quatro e tanto da madrugada, onde a
minha blusa? Eu e Aninha sem a blusa. Como volto pra casa com os peitos de
fora?, o que vou dizer à minha mãe?, Aninha desesperada. Suas palavras serviam
para mim. Não sei de quem fora a brincadeira, mas eu e ela não encontramos o
menor vestígio de nossas blusas. Tempos depois houve outro fato semelhante, mas com um
homem com quem tive um caso. Ele me roubou a calcinha, o que me deixou furiosa durante alguns dias, mas depois esqueci. Melhor sem calcinha do que sem blusa!
quarta-feira, abril 12, 2017
À noite apareço pra devolver
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