Ele me telefonou e disse que queria dar um beijo na minha
orelha, um beijo bem molhado. Não lhe dou tais confianças, eu poderia ter dito,
mas sua voz tinha certo carinho, certa inocência. Acabei dando um sorrisinho,
como admirasse seu desejo. Acho que se sentiu estimulado pelo meu silêncio,
já que não podia ver meu rosto e o tal sorriso. Continuou: “vou apertar você
num abraço gostoso, um abraço quente como seu corpo; há ainda uma coisa”,
fiquei curiosa para ouvir a ressalva, “no momento do abraço você vai estar nua,
isso mesmo, nua, nuazinha, sua pele se juntando à minha...” Nua?, repeti
assustada. Ele nada acrescentou, disse mais algumas palavras de sedução e
despediu-se, deixando marcado o dia em que iria me encontrar.
Suas palavras deixaram-me preocupada ou, quem sabe, até
mesmo nervosa. Como poderia falar aquelas coisas para mim, sem vexo algum?
Sentei na poltrona da sala, peguei uma revista que ficara sobre a mesa e me pus
a folheá-la. Uma revista de moda, muitas mulheres bonitas, modelos. Fiz a pose
de uma delas, que também estava sentada numa poltrona. Mas ela tinha as pernas
de fora. Puxei um pouco o vestido até um palmo acima do joelho e tentei imitar
a modelo. Será que essas mulheres aceitam os homens com facilidade? Uma
profissão em que desfilam quase nuas, em que se deixam fotografar de calcinha e
sutiã, não deve ser difícil viverem de mão em mão, ou de pênis em pênis. Surpreendi-me com este pensamento.
Quando fiz odonto na UFRGS tinha amigas que transavam com
quase todos os homens que conheciam. Levavam para o alojamento os namorados,
que muitas vezes nem eram da universidade. Uma delas saiu, certa vez, nua, de
madrugada, agarrada a um deles, e foi namorar no bosque, atrás do alojamento.
Tive um ou dois namorados entre meus pacientes, não posso
deixar de confessar. Um deles chegou mesmo a me enganar. Contava histórias
fascinantes, envolveu-me numa relação de seis meses. Acabei num quarto de
hotel, nos braços dele. Mas o resultado não foi bom. Descobri que era casado.
Nunca foi meu objetivo namorar homens casados. Quando tudo parecia ir
extremamente bem, eis que descubro que o tal vivia com a mulher. Não adiantou
me dizer que não transava com ela. Não acredito em contos de fada.
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