quarta-feira, abril 05, 2017

Há muitos hotéis por aí

Ele me telefonou e disse que queria dar um beijo na minha orelha, um beijo bem molhado. Não lhe dou tais confianças, eu poderia ter dito, mas sua voz tinha certo carinho, certa inocência. Acabei dando um sorrisinho, como admirasse seu desejo. Acho que se sentiu estimulado pelo meu silêncio, já que não podia ver meu rosto e o tal sorriso. Continuou: “vou apertar você num abraço gostoso, um abraço quente como seu corpo; há ainda uma coisa”, fiquei curiosa para ouvir a ressalva, “no momento do abraço você vai estar nua, isso mesmo, nua, nuazinha, sua pele se juntando à minha...” Nua?, repeti assustada. Ele nada acrescentou, disse mais algumas palavras de sedução e despediu-se, deixando marcado o dia em que iria me encontrar.

Suas palavras deixaram-me preocupada ou, quem sabe, até mesmo nervosa. Como poderia falar aquelas coisas para mim, sem vexo algum? Sentei na poltrona da sala, peguei uma revista que ficara sobre a mesa e me pus a folheá-la. Uma revista de moda, muitas mulheres bonitas, modelos. Fiz a pose de uma delas, que também estava sentada numa poltrona. Mas ela tinha as pernas de fora. Puxei um pouco o vestido até um palmo acima do joelho e tentei imitar a modelo. Será que essas mulheres aceitam os homens com facilidade? Uma profissão em que desfilam quase nuas, em que se deixam fotografar de calcinha e sutiã, não deve ser difícil viverem de mão em mão, ou de pênis em pênis. Surpreendi-me com este pensamento.

Quando fiz odonto na UFRGS tinha amigas que transavam com quase todos os homens que conheciam. Levavam para o alojamento os namorados, que muitas vezes nem eram da universidade. Uma delas saiu, certa vez, nua, de madrugada, agarrada a um deles, e foi namorar no bosque, atrás do alojamento.

Tive um ou dois namorados entre meus pacientes, não posso deixar de confessar. Um deles chegou mesmo a me enganar. Contava histórias fascinantes, envolveu-me numa relação de seis meses. Acabei num quarto de hotel, nos braços dele. Mas o resultado não foi bom. Descobri que era casado. Nunca foi meu objetivo namorar homens casados. Quando tudo parecia ir extremamente bem, eis que descubro que o tal vivia com a mulher. Não adiantou me dizer que não transava com ela. Não acredito em contos de fada.

Nos últimos tempos surgiu outro homem que diz gostar de mim. Não sei como esses homens podem me fazer declarações de amor. Não dou confiança nem deixo margem para se aproximarem, mas acontece. Ele tem um apartamento em Santa Teresa. Mas me falou que alugou o apartamento e foi morar com uma mulher, na casa dela. De tanto vir ao consultório e me convidar para um café, acabei dizendo: “você poderia ter deixado o apartamento vazio, a gente iria lá namorar de vez em quando.” Olhou para mim demonstrando alguma surpresa e disse: “não precisa ser no meu apartamento, há muitos hotéis por aí!”

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