Ele me pediu para contar histórias. Mas não histórias
quaisquer. Aquelas que se diz ao pé do ouvido no momento do amor.
– Você tem jeito de ser muito levada, não é mesmo? –, sorriu
após a última palavra. – Então me conte uma história, das bem ardidas, povoada
de fatos que você saboreou e lembra com saudade até hoje. Peço, porém, uma
ressalva. O seu par nessas histórias tem de ser eu, nada de mencionar outros
namorados.
Esperou minha reação. Contar histórias de sacanagem, daquelas que me arrepiaram intensamente...
Esperou minha reação. Contar histórias de sacanagem, daquelas que me arrepiaram intensamente...
– Não é difícil – sorri, – mas acho que vou ficar vermelha,
tenho vergonha.
– É uma questão de exercício –, ressaltou, – basta começar
que vão sair macias da sua boca, como o teu corpo pleno de óleo, deslizando nas
minhas mãos, tua boca escorregadia, sem encontrar resistência.
– Não fale assim –, intervi, – não gosto, fica parecendo que
abro as pernas pra todos os homens escorregarem pra dentro de mim. Lembre-se,
nenhuma mulher gosta de se sentir fácil.
Fechei o rosto, virei para o lado. Como estava nua, de
pernas cruzadas, sentada na poltrona, puxei a perna que estava por cima na
direção do meu ventre, cobri assim alguns de meus pelos que me escapavam e acirravam
o apetite do homem.
– Não me leve a mal, lhe dou um presente como pedido de
desculpas.
Foi até a pasta que trouxera à mão e tirou um envelope, o
papel branco, imaculado. Voltou pra junto de mim, beijou-me os lábios e me
entregou. Sorri, já sabia do que se tratava. Agradeci discreta e pedi que não
mais falasse daquele modo. Desci um pouquinho a perna que estava por cima, fiz
um movimento vagaroso e fiquei com as duas coxas juntas, paralelas, acentuando
minha nudez. Pousei o envelope na extremidade superior das coxas. Depois abri
as pernas e o prendi numa posição vertical, como se estivesse prestes a ser
lançado dentro de uma caixa de correio. A seguir, voltei-me ao namorado e
sorri.
– Você falava sobre histórias, tenho muitas, sim, você vai
adorar, aliás, ninguém escapa ao feitiço de boas histórias. Para narrá-las, no
entanto, faço uma exigência.
– Estou pronto a te atender – disse.
– Jura? – eu não acreditava.
– Juro!
Sua voz foi resoluta.
– Então – avisei – você precisa ficar sentadinho, sem me
tocar, ok?
– Mas que maldade – chegou a se lamentar.
– Você jurou, repeti. E vai ficar vestidinho, a nua aqui sou
eu.
Comecei a contar minha história.
Eu estava no centro de M. e não vinha o ônibus. Quero dizer,
será que não vinha mesmo ou esperava que você passasse e parasse pra me
oferecer carona. Chovia, eu tinha uma sombrinha pequena, que não me protegia do
clima de inverno. Você veio devagar e piscou os faróis. Quem será?, pensei,
não era possível avistar o motorista. Você encostou, sob os olhares de algumas
pessoas que também esperavam o ônibus. Desceu a janela da porta do carona. Foi
então que vi que era você. Sorriu oferecendo o banco vazio, vamos, levo você.
Naquela época nos conhecíamos apenas de vista. Como chovia, entrei no carro,
agradeci. Você deu a partida. Não vou me alongar nos detalhes. Você seguiu em
direção à saída da cidade, a caminho da serra. Ficamos em silêncio durantes
muitos minutos. Enquanto isso, eu pensava: não tenho namorado, e ele é tão
bonito, será afetuoso? Você guiava sem adivinhar o que eu tinha em mente. Como
uma mulher pode desejar e conseguir um homem como este, sem se fazer de
oferecida?, continuava eu mergulhada em reflexões amorosas. Você então me
mostrou a lua, entre duas nuvens fugidias. Uma lua bonita, quase cheia, tornava
a noite mais cálida, apesar da chuva que ainda persistia. No meio do caminho,
não sei se por causa da chuva, ou se porque eu me ardia, fiquei com vontade de
fazer xixi. Tentei aguentar o máximo que pude, mas a vontade foi aumentando à
medida que você subia a serra, que fazia as curvas. Por favor, pedi, preciso de
fazer xixi. Está tudo tão molhado, você ainda contrapôs. Não vou aguentar, pare,
por favor, supliquei. Você obedeceu. Saltei segurando a sombrinha. Como vou
fazer xixi segurando uma sombrinha? Como estava de vestido, foi mais fácil. Agachei-me
à lateral do automóvel e baixei a calcinha. Mas o xixi resolveu não sair. Quer
alguma ajuda?, ouvi sua voz. Segure a sombrinha pra mim, por favor?, pedi. Você
veio, eu agachada, a calcinha nos joelhos, que vergonha! Mas estava muito
apertada. Foi então que o xixi começou a jorrar, um jato fraquinho que pouco a
pouco foi aumentando de fluxo, até atingir uma espessura tal que me fez corar,
ainda havia o ruído, e depois o escorrer de um pequeno córrego. Aconteceu,
porém, algo inesperado. Um movimento em falso de minha parte fez que eu
molhasse a calcinha. Ai, não, isso não podia acontecer, deixei escapar. O que
foi?, você olhou curioso. Eu não queria dizer, deixa, não foi nada. Levantei os
pés, um de cada vez, tirei a calcinha e a guardei dentro da bolsa. Você acabou
descobrindo do que se tratava. Dirigiu até onde eu pedi que me deixasse, com
uma mulher sem calcinha ao seu lado. Desastrada, eu pensava comigo, esse cara
jamais vai me desejar. Saltei do carro e, naquela noite, corri pra casa sem
olhar pra trás. Foi no final de semana seguinte, porém, que a história ficou
mais quente.
Resolvi descer a serra para ir à praia. A gente mora na serra e gosta de praia, tudo sempre ao contrário. Quando chego ao ponto, quem
passa antes do ônibus? Você! Estava descendo sozinho, não sabia ao certo o que
faria naquele domingo. Ofereceu-me carona. Eu, ainda constrangida por causa da
carona desastrada, sorri meio sem graça e entrei no automóvel. Tocava uma
música lenta, em inglês, dessas músicas famosas, não sei o nome. Respirei fundo
sem que você notasse. O ar da manhã sempre me provoca arrepios, ou uma alegria
difícil de explicar. Naquela manhã, senti algo mais vibrante, lá no fundo de
mim, meu biquíni pequenino, por baixo da canga comprida, não foi
suficiente para segurar o meu prazer. Acho que tudo se misturou, o prazer do
dia de sol, o ar fresco, o ato de estar ao seu lado e certa curiosidade sobre o
que aconteceria dali em diante. Lembrei-me, enquanto você dirigia, de uma amiga
muito assanhada. Ela diz que ao ir à praia ao lado de um homem sente vontade de
descer o biquíni. Veja que atitude, só a canga sobre a pele, o corpo nu. Mas eu
aguentei caladinha, mesmo que me rondasse um pouco de excitação. Você me
perguntou em que lugar da praia eu queria ficar. Demorei a responder. Não
queria que você partisse e me deixasse só. Quando parou, você disse: caso fique aqui mesmo, procuro você, não demoro; isto é, caso não tenha
compromisso e a minha presença não seja inoportuna. Claro que não, respondi de
imediato. Depois, achei que deveria ter demorado um pouco na réplica. Uma
mulher não pode ser tão dada. Logo ajeitei minhas coisas sobre a areia, abri o
guarda-sol e fiquei me bronzeando. Quando a pele esquentou, aliás, eu já estava
quente desde que encontrei você, mergulhei e fiquei um pouco de molho. Acho que
se passou uma hora, você então chegou. Ficou ao meu lado o dia inteiro.
Passamos o dia juntos. Bebemos, comemos uns petiscos e acabamos por nos abraçar,
nos beijar e, à tarde, fiquei peladinha nos seus braços, louquinha, meladinha!
Eu, que não sou de trepar com qualquer um, naquele dia estava cheia de fogo,
lembra? Engoli você inteirinho. Voltei pra casa enrolada na canga, sem o
biquíni. Você adorou. Fiz como na vez do xixi, antes de entrar no carro, tirei
e guardei a pequena peça na bolsa!
Volto ao momento em que escrevo esta história. Vocês lembram
que ele havia me pedido pra falar sacanagem no seu ouvido, um conto picante
que eu tivesse vivido, mas que não falasse de outros homens, ele tinha de ser o
protagonista? Mas, como tudo era fingimento, ele me interpelou:
– Quem foi esse que viveu esta aventura de domingo com você?
– Foi você, meu amor –
respondi solícita.
– Não, por favor, fale a verdade, quem foi?, eu o conheço?
– Foi você, meu amor.
Fiquei vermelhinha. E agora, como saio dessa? Lembrei outra
amiga que dizia você não mude de opinião diante de um homem, mesmo que seja a
maior mentira do mundo mantenha a sua afirmação.
Ele acabou acreditando que era ele. No domingo seguinte,
levou-me à praia. Adivinhem o que aconteceu? Vivemos quase o mesmo da minha
história. A única diferença foi que, no final, ele quis o meu biquíni pequenino
dentro da sunga dele!
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