quinta-feira, janeiro 04, 2018

Brincar com o fogo

Eu queria brincar com o fogo, mas não me queimar. Explico. Não desejava mais namorados na minha cidade, lugar onde quase todos se conhecem e falam demais. Mas como sou atrevida, cruzei várias vezes com o novo vizinho e dava um sorrisinho malicioso. Ele ficou a mil, embora não tenha demonstrado. Fiz de conta que saía para algo importante. Como ando bem arrumada, finjo ir a uma reunião de trabalho. Todo dia a mesma ação, o mesmo sorriso, intenção desmedida. Num sábado dei com ele de novo, encontro inesperado: como eu ia à praia, vestia apenas camiseta e biquíni! Senti uma ponta de vexo. Passou mais uma semana e o homem veio falar comigo. Bateu à minha porta convidando-me para uma festa. Você gosta de praia, já percebi, falou, vai ser ótimo, a festa vai ser lá no fim do Pecado, no próximo sábado ao entardecer, mas vamos antes pra tomarmos um banho de mar.

O que tem de mais ir a uma festa, tanto mais do tipo como ele me descrevia e, o principal, acompanhada por alguém novinho na cidade? O problema é que eu havia prometido não mais sair com homens do local. Ah, mas ele não é do local! Na tarde do dia em que falou comigo pela primeira vez, senti uma felicidade inexplicável. Aceitei o convite. Lembrei-me da Aninha, ela aceita sair com todos os homens que a convidam, e a relação não acaba apenas num passeio. Outro dia descobri que está saindo com um homem casado, e logo neste lugarejo de tantos fofoqueiros. Deixa a porta sem trancar, ele entra sem bater,  parece que tudo corre às mil maravilhas. O negócio é a mulher do homem não descobrir. Já tive vários namorados no entorno, cada um mais louco que o outro. Houve um que me queria levar passear nua! Namorar homens casados por aqui, negativo, suas mulheres são muito bravas.

Chegou, enfim, o dia da festa. Ele veio me buscar, 15h00 de um sábado. Parou o carro, abriu a porta e, com um largo sorriso, disse entre meu amor. Como não desejava me mostrar atrevida, vestia um vestido comprido de malha, o biquíni por baixo. Afinal, era uma festa à beira mar mas poderia terminar tarde, não ficaria bem permanecer nua após anoitecer. Entrei, fechei a porta, dei-lhe um beijo e ele deu a partida. Após vinte minutos, estacionava. Devíamos caminhar uns oitocentos metros sobre a areia da praia até onde havia um trecho reservado para a festa.

O local estava rodeado por mesas, cadeiras e alguns guarda-sóis. Havia som, com DJ, como nas competições de surf. Alguns rapazes e muitas mulheres conversavam em pequenos grupos. Aproximamo-nos, ele me apresentou a seus amigos, que logo vieram em nossa direção. Jovens, homens e mulheres, trabalhavam como garçonetes; ao fundo, havia uma grande barraca de onde vinham salgados e bebidas. Reparei que todos estavam em trajes de banho, fazia calor, apressei-me em tirar a roupa. Não se passaram cinco minutos quando dei com a única pessoa da cidade que eu conhecia naquela festa. Ela não se aproximou de mim, mas fez um sinal e sorriu. Era Laísa, mulher metida a pudica, que frequentava a praia de maiô, no entanto, ali, vestia um minúsculo biquíni, talvez por isso tinha tantos rapazes à sua volta. Aceitei uma bebida que vinha com bastante gelo, depois descobri que se tratava de uma mistura de frutas com tequila. Meu amigo não me deixou só, pegou-me pelo braço diversas vezes e agiu como se fosse meu namorado. Muitas moças estavam perto do DJ, pediam músicas diversas, dançavam com muito entusiasmo, quase num transe. É uma festa patrocinada pela empresa, disse-me o namorado, como muitos dos empregados são de outras regiões, às vezes se faz uma festa dessas para que todos permaneçam alegres, mesmo longe de casa; sobre as moças, algumas também trabalham na empresa, enquanto outras são convidadas, como você.

Conforme a bebida foi sendo consumida, quase todos começaram a experimentar um grande entusiasmo. Ninguém se cansava. Alguns entravam n’ água e chamaram os amigos para acompanhar. Quando anoiteceu, viam-se inúmeros casais abraçados, as mulheres quase nuas e um pouco de pilequinho, contribuíam para criar uma atmosfera erótica. Mas, apesar de alguns exageros, a festa transcorreu sem incidentes. Tive a impressão de que duas ou três mulheres mergulharam nuas, mas ninguém deu muito atenção a elas. A maior parte das pessoas, porém, mantinha-se satisfeitas em abraçar, beijar, beber, comer os salgados e os pratinhos que as garçonetes traziam. Num dos raros momentos em que estive só, Laísa  veio falar comigo. Com um sorrisinho dissimulado, pediu não conta pra ninguém, viu, não gosto de fofoca, essa cidade é muito provinciana. Já era noite, ela cruzou os braços por trás das costas salientando seu corpo de biquíni. Você imagina o sacrifício que se faz para manter um corpo como o meu, ela disse orgulhosa. É bonita, não se pode negar, pena estar se perdendo neste lugarejo, pensei. Você veio com o homem mais desejado pelas mulheres que estão na festa, sabia?, sussurrou quase no meu ouvido, felizarda, acrescentou. Estou doidinha por aquele ali, apontou, está do lado esquerdo da mulher que fala ao DJ, já fiz de tudo, mas ele não me repara, acho que tenho de ficar nua!, sorriu e moveu os braços como se não encontrasse outra solução. Ao ver que me acompanhante voltava, ela despediu-se, lançou-me um beijo e correu para junto das moças que dançavam. Toda vez que a reparei, Leísa tinha um copo às mãos, quase não comia, acho que era para manter o corpo. A música ficou mais alta, mais envolvente e quase todos fomos dançar, ora uma espécie de forró, outra, samba, adiante lambada. Mas o bom mesmo foi quando se tocou uma música bem lenta, romântica.

Às dez da noite, meu recente namorado abraçou-me bem apertado, beijou-me longamente na boca e perguntou o que eu mais desejava. Acho que estou satisfeita, resumi. Ele despediu-se dos amigos, abraçou-os e beijou as moças que restavam. Caminhamos, então, de volta para o automóvel. Ao nos afastarmos do local da festa, reparei o brilho exagerado das estrelas. Por causa da escuridão local, podia-se apreciar melhor o céu. Ele abraçou-me, ficamos os dois a apreciarmos a noite não sei por quanto tempo.

Percebi, pelo seu carinho e por suas palavras, que ele não queria me deixar em casa, talvez, quem sabe, levar-me a um hotel. Mas seguiu o caminho de volta, até a porta da minha casa. Antes de saltar, levantei o vestido até acima dos joelhos, vestira-o para voltar para casa. Ele apreciou minhas coxas e pousou uma das mãos sobre elas. Incomodo se entrar um pouco?, perguntou.

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