segunda-feira, janeiro 15, 2018

Depois eu te digo onde enfiar a cabeça

Estou me sentindo nua com este vestido, Karen.

No começo é assim, depois você acostuma, e olhe que a festa vai ser ótima.

Mas, Karen, eu mal consigo me mover, se eu sentar vai aparecer tudo...

Eu era como você, usava uns vestidões, daqueles bem compridos, quando vesti um mini morri de vergonha. Mas logo me acostumei, as outras meninas andam quase nuas. Perto delas, nós vamos estar até muito vestidas.

Tive um namorado, Karen, que adorava que eu andasse ao lado dele nua, me levava de carro à noite, ou na madrugada, certa vez me deu de presente um vestido impossível.

Vestido impossível, Lu?

Isso mesmo, impossível, só saí com ele uma vez e fiquei traumatizada, acho que por isso voltei aos vestidões.

Traumatizada, como assim?

Ele trouxe o vestido de presente, disse que adorou e fez que eu o vestisse.

E depois?

Depois, saímos. Ele ainda afirmou: é um vestido para a noite, a gente volta enquanto estiver escuro. E lá fui eu, morrendo de medo que a noite terminasse logo e todo mundo me encontrasse nua.

Lu, que vestido foi esse?

Mais ou menos igual ao que você mandou eu vestir agora, acho que também se trata de uma roupa para usarmos apenas enquanto estiver bem escuro. Já pensou a gente aparecer na rua durante o dia com um vestido curto assim. Só se for para ir à praia, com o biquíni embaixo.

Nada disso, Lu, acabe logo de se arrumar que já estamos em cima da hora.

Mais um pouquinho só, Karen, vamos já.

A festa vai ser ótima, maior azaração, os homens muito bonitos, musculosos, você não gosta de homens musculosos?

Não fala, amiga, não fala que nem posso contar isso.

Contar o quê?

Sobre homens musculosos, Karen, um deles me deixou nua.

Cruzes, só desgraça, Lu.

Desgraça nada, até que foi bom, mas não conta pra ninguém.

Contar? Como? Nem sei o que aconteceu.

O caso da praia, vai dizer que não contei?

Não contou não, você deve ter comentado com a Ana ou com a Cláudia, comigo não.

Jurava que foi a você a quem falei. Mas ouça, espere, deixa eu acabar de pintar os olhos.

É melhor você contar pelo caminho, Lu.

Pelo caminho, mas não vem alguém pra levar a gente?

Vem, sim.

Então, Karen, como vou contar, foi um escândalo.

Então conte rápido.

Fui à praia de madrugada, você acredita, cismei que queria tomar banho de mar debaixo da luz da lua.

E daí?

Daí que entrei no mar nua.

Acho que todas nós já fizemos isso ao menos uma vez na vdia, Lu.

Jura? Mas ouça, entrei nua e saí nua, no final voltei no carro do Marcos, o musculoso, ainda nua.

O que aconteceu com sua roupa.

Não sei, nem me lembro, acho que bebi demais.

Lu, vamos embora, você está de conversa fiada, vive andando nua por aí e diz estar com vergonha dese vestiddinho. Não acredito.

Pois acredite, estou morrendo de vergonha e olha que vim até de sutiã.

O que tem isso? Todas atualmente usamos sutiã.

É mesmo, tinha esquecido. Mas o biquíni...

Isso, Lu, vamos embora, o biquíni também é necessário, ouviu, eles só gostam se estamos de biquíni, alguns falam que depois devolvem. Outro dia, a Marcia, a mãe do Heitor, veio falar comigo. Disse que nós éramos garotas vulgares, que o filho dela não tinha de guardar a minha calcinha na gaveta dele. Foi ele que quis, respondi toda inocente.

Karen, a mãe do Heitor falou isso? Que vergonha, eu não teria onde enfiar a cabeça.

Vamos, Lu, já estamos atrasadas, e alguém buzinou lá embaixo. Depois eu te digo onde enfiar a cabeça.

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