Meu telefone
toca o dia inteiro. Quanto as mensagens, nem fala. Cada hora é um homem
querendo falar comigo. Você não se confunde?, perguntaria uma amiga. Não, não
me confundo; quando se trata de homens, tenho certeza de tudo.
O dia
marcado transcorreu tranquilo. No final, recebi a mensagem do enamorado, de
saída pra me encontrar. Desta vez eu não iria desmarcar, não posso fazer um
papel desses. Quando o encontrei na saída do metrô Carioca, sorriu e me beijou.
Até que
enfim, suspirou.
Estou feliz
também, revidei.
Andamos o
quarteirão da Treze de Maio.
Espera um
pouco, vamos tomar um café na livraria, sugeri.
Ele me
olhou, circunspecto.
Desde quando
você é de livrarias?
Sou de café,
resoluta respondi.
Quem sabe lá
ele encontra uma amiga? Dá pra eu escapar.
Fomos à
Cultura. É lindo lá dentro. Um café simpático, requintado, cheio de pedaços de
torta. Que delícia. O importante é o homem, Marília, diria uma amiga. Mas eu já
tenho quatro! Este meu admirador queria mesmo era me levar pra um hotel. Já até
tinha insinuado. E eu não ia sair com alguém pra ficar dando passinhos pela
rua. Ele havia dito que eu não tenho intimidade com livrarias, mas agora
lembrei um livro, uma história de amor, ou de desejo e sexo, sei lá, acho que
assim fica mais próxima; no livro dizia que a escrita é um prazer, lia-se e
gozava-se com a leitura. Que bom!, orgasmos sem homens, sem ninguém pra nos
enganar. Uma história de se escorregar, marmelada, goiabada e catupiry. Além
disso, na hora de sair da Cultura, vi na bancada da frente os quatro romances
iniciais de Machado de Assis. Eu que não gostara dele na época do colégio, mas
por quem me apaixonei anos depois. Arre, os professores de literatura!
Chegamos ao
hotel. Bonitinho. Este eu não conhecia. Ai, meu Deus, tenho quatro namorados e
um marido, vai que dou com um deles por aqui. Ninguém é santo, é preciso
compreender. Mas quando se descobre a traição, venha de onde vier, não se pode
deixar passar.
Meu
admirador quis que eu fizesse um strip-tease. Não tenho habilidade pra essas
coisas! Eu, nua, nos braços dele. Lembra o pedaço de torta, querido?, estava
uma delícia. Lambi os lábios. Isso mesmo, meus lábios
molhadinhos.
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