Como você sabe, trabalho em M. faz muito tempo, muitos anos
mesmo. Toda semana venho à cidade, presto serviços como professor até quarta à noite,
depois pego o carro e volto ao Rio. Há três semanas aconteceu algo
surpreendente. Sei que você é uma pessoa vivida, conhece muita gente, mas o que
vou contar você jamais deve ter ouvido.
Dirigia às dez da noite pela BR, estrada escura, apenas os
faróis do carro. De repente, depois de Rocha Leão, vejo alguém fazendo sinal à
beira da estrada, uma mulher e, para minha surpresa, estava nua. Isso mesmo, nua
por inteiro. Por instinto, diminuí a velocidade. Depois me veio à mente o
perigo que eu corria. Aquilo podia ser uma armadilha. Uma mulher faz sinal, paro,
bandidos vêm me assaltar. Mas não consegui guiar por mais de duzentos metros. Liguei
a seta e parei no acostamento. Esperei. Passaram-se uns cinco minutos até eu
ver o vulto da mulher se aproximando de onde eu parara. Ela caminhava rápido,
também no acostamento. Em algum momento, antes que chegasse, o farol de um
caminhão varreu a pista. Ela desapareceu, acho que se atirou no mato enquanto o
veículo trafegava. Quando chegou ao meu carro, bateu com o nó de um dos dedos
no vidro da porta do carona. Antes de abrir, reparei se não vinham outras
pessoas junto com ela, ou se tinha alguém escondido. Não vi alma viva, apenas a
mulher. Bateu mais uma vez e esperou que eu abrisse. Desci um pouco o vidro e
perguntei o que tinha acontecido. Deixa eu entrar, ela pediu esbaforida, depois
conto. Abri a porta, ela entrou, eu imediatamente dei a partida. Era magra, alta, o cabelo louro preso num coque, trazia uma
pequena bolsa e estava calçada, uma sandália de meio salto. Não parecia sentir vergonha. Cheguei a perceber algum entusiasmo no seu jeito de se expressar. Nada falei naquele momento, tentava primeiro entender o que acontecia. Foi ela quem contou. O namorado me deixou nua, só tem doente nesse lugar. O namorado?, perguntei.
Isso mesmo, e o pior foi que caí na brincadeira dele. Você acha isso brincadeira,
nua à beira de uma estrada, poderia acontecer o pior a você? Sei, mas na hora a
gente não pensa; ele pediu para eu saltar nua, queria ver se eu tinha coragem,
acabei aceitando; tenho uma amiga que faz essas brincadeiras, acho que para excitar
o homem, lembrei dela; só que não sei o que houve, estou faz meia hora
esperando e ele não volta. Você mora onde?, perguntei. Casimiro. E como você vai
chegar nua em casa? Aí é que está o problema, ela respondeu, vamos pensar um
pouco, não guie tão rápido, preciso me refazer. Diminuí a velocidade, olhei
então para as coxas dela, eram bonitas, ela, em si, era muito bonita, o
que destoava era a voz, um tom de alguém do interior. Você mora sozinha?, eu
disse. Não, com minha mãe, mas não posso chegar nua em casa, tenho de arranjar um jeito. Contei que tinha, na mala, uma camisa, não estava suja,
apenas usada, poderia emprestar. Ela pediu que eu entrasse numa estrada
lateral. Pare logo ali, não acenda nenhuma luz, por favor, não vamos chamar
atenção. Saltamos. Ela experimentou a camisa. É melhor do que nada, mas está
muito curta, nunca vesti nada assim. Não vai querer? Acho que por enquanto,
sim, pelo menos não fico nua do teu lado. Entrou no automóvel, sentou e cruzou as pernas. Dei a
partida. Vá devagar, tenho de ligar pra uma amiga, mas aqui o telefone não
funciona, tem de ser próximo da cidade. Quando passaram os primeiros postos de
serviço e se anunciou a cidade de Casimiro, ela pediu que eu entrasse na
estrada que leva a Lumiar. Tirou o telefone da bolsa e ligou para a amiga.
Senti que ficou um pouco vexada a contar aquela situação, então saí do
carro e a deixei à vontade. Quando acabou, pediu se eu podia
dirigir até a casa da amiga. Me ensinou
o caminho. Aqui conheço todo mundo, sabe, ainda bem que não dá pra ver que
estou dentro deste carro. Cruzamos a parte da cidade que fica à esquerda de
quem vem de Campos, ela pediu para eu entrar numa pequena estrada de chão, depois que
parasse junto a um portão de sítio. Temi de novo a armadilha, quem sabe ladrões
viriam lá de dentro para me pegar. Mas não aconteceu nada disso. Passaram uns
dez minutos e veio a amiga. Mas você está de mãos vazias, disse a passageira. É
que não estou acreditando na tua história, e você nem está nua! Só visto a
camisa, e é dele. falou apontando para mim. Ouvimos uma voz: quem está aí, Vera? Ela olhou para dentro do
caminho que levava à casa e disse é a Valda. Fala pra ela entrar, fiz uma
comida que está uma delícia. E agora, Vera?, só falta tua mãe aparecer aqui e
me ver nua. Vera parecia estar gostando da situação. Vamos fazer uma coisa, vou
tirar a calça e emprestar a você, disse de repente. Reparei que a moça usava
uma dessas calças de ginástica. Você vai ficar nua? Não faz mal, estou em casa,
e minha mãe está acostumada comigo nua, nem vai reparar. Tirou a calça e
ofereceu à passageira. Ela a vestiu ali mesmo, ao meu lado, ainda sentada no
banco do carona. Virou-se e me olhou nos olhos, obrigada, vou dar o meu número, depois você me
liga e a gente sai pra conversar, você parece ser um cara legal, obrigada, de
coração. Me deu um beijo nos lábios, ainda fechou os olhos enquanto me beijava. Depois que se afastou, enquanto abria a porta, reparei a amiga toda serelepe ao lado do carro. As duas seguiram o caminho bordeado de vegetação, ultrapassaram o portão e desapareceram. A nua, agora, era a moradora do sítio.
Aqui termina a narração dele. Então, perguntei você ligou?
Claro.
O que aconteceu?
Adivinha.
Vocês namoraram, ela gozou e contou uma porção de histórias
de sacanagem, não foi assim?
Foi, como você sabe?
Acho que já sei quem é essa mulher.
Marcamos de sair de novo semana que vem.
Ela laçou você, esperta, viu?, aqui as mulheres fazem tudo
pra arranjar namorado. Um segredinho: se você quiser consegue trepar com moradora do sítio, a amiga que desfilou de calcinha!
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