No dia seguinte fui à farmácia comprar lubrificante. Isabela
adora cremes e óleos, tanto mais quando os espalho sobre todo o seu corpo com
mãos cada vez mais ágeis. Descobrimos que, assim, ela goza, e como. Aprendi a
dar, apesar de, segundo ela, ter sido dotada para receber. A funcionária da
farmácia, ao reparar que eu estava perdida em meio a tantos produtos, perguntou
se me podia ser útil. Claro, procuro lubrificante. Não chegou a rir, pois
manteve o profissionalismo, mas percebi que minhas palavras produziram algum efeito
sobre sua pele. Entregou-me o produto, indicou-me a caixa e, acho, engoliu em
seco.
O corpo de Isabela deslizava sob minhas mãos, ela deitada
sobre o tapete da sala. Aproveitávamos uma toalha antiga, para não deixar que o
óleo manchasse o próprio tapete, o estofado, o chão, enfim, tínhamos cuidado de
não deixar rastros daquele nosso recente amor em toda a sala. Nossa relação
sexual úmida e escorregadia atingia as raias da alegria. Ela
pressionava-me os seios, eu abria as pernas, meu grelo úmido, meu gozo; depois,
a vez dela, o corpo untado, minhas mãos a usurpá-la, seu gozo.
Até que surgiu um homem. Acho que teria sido melhor se eu contasse por que comprava lubrificante à funcionária da farmácia. Quem sabe ela viria encontrar comigo e com Isabela, assim, seríamos felizes.
Mas um homem é um homem e a gente não consegue dividir números
primos, a não ser por um ou por ele mesmo. A funcionária da farmácia junto a
mim e a minha amiga não constituiria também um número primo? Não sei, mulher é desdobrável, multiplicável. Quanto a mim e à Isabela, éramos heterossexuais,
descobrimos quase ao acaso nossa homossexualidade, ou melhor, o amor que sentíamos uma pela
outra. Pouco a pouco comecei a esquecer os homens, às vezes me
lembrava de sentir o pênis de um namorado ocasional a me penetrar, mas eram lembranças que tinham a tendência de se perder no tempo. Isabela
penetrava-me da mesma forma que um homem, eu gozava como junto a um homem. Mas minha namorada trouxe um
homem, e um homem é um homem. Disse que era um
velho amigo, que frequentava a casa dela, saíam juntos, trocavam confidências. Contou
a ele nossa relação, relatou como tudo começou, descreveu nossas preferências. Confesso
que achei aquilo um tanto doentio. Aconteceu, então, de um dia, ela começar a
me acariciar na frente dele. No começo, fez de conta que nada de surpreendente acontecia,
mas quis que ele nos visse trepar. Não, por favor, não é justo, protestei. O
amor é justo, e podemos namorar assim que sentimos vontade, como agora, retorquiu.
Vamos para o quarto, pedimos licença ao nosso amigo, sugeri. Dentro do quarto,
porém, não foi a mesma coisa, estávamos acostumadas a namorar a sós, sobre o
tapete da sala, a toalha ajudando-nos a não derramar o óleo, os móveis a nos espreitar silenciosos. Léo ficará em silêncio, será como a poltrona, o estofado,
ou a mesa de centro.
Ela voltou à sala. Seu amigo lia uma revista. Disse qualquer
coisa a ele. Chamou-me, pediu que, assim como ela, viesse nua. Eu gostava muito
dela, por isso acatei o pedido. Apareci na sala, em pele e sem saber onde posar as mãos. Léo fez de conta que não me viu. Sentei-me no estofado e esperei
por Isabela.
Depois do gestual de sempre, ela esperava que eu ficasse
excitada, mas isso não aconteceu. Tanto mais tentava, tanto mais eu esfriava. Estava
travada, eis a palavra certa. Com um gesto de cabeça, fez que o amigo se
aproximasse. Isabela desceu a calça dele e tirou seu pênis. Olhei
aquilo ainda assustada, sem ter o que dizer. Por que alguém que dizia gostar
tanto de mim segurava com tanto ardor o pênis de um homem? Trouxe o homem
para junto de si, segurando seu sexo enfiou-o na própria vagina, em pé, com uma
das pernas flexionada sobre a mesinha. Transaram ali mesmo. Ela fechava os
olhos, quase transtornada, e dizia daqui a pouco será a tua vez, a tua vez,
espere um pouquinho, e se mexia alucinadamente. Após dois ou três minutos, interromperam
abruptamente os movimentos, minha amiga afastou-se. Pude reparar que Léo
gozara, a boceta de Isabela babava toda a porra que ele despejara dentro dela.
Não suportei ver aquilo. Não por causa do ato sexual em si, mas por constatar que uma
mulher que eu amava tanto não me correspondia em seus sentimentos. Corri dali e me tranquei no quarto. Como estava em meu apartamento, não tinha satisfações a
dar.
Isabela foi embora junto com seu amigo. Tentou falar comigo
algumas vezes, deixou recados. Não respondi a nenhum nem a procurei mais. Para
me sentir mais segura, troquei a fechadura da porta do apartamento. Voltei à
vida de antes de conhecê-la. Desde então não tive mais relacionamentos.
Aliás, outro dia fui à farmácia, comprei lubrificante e
sorri para a funcionária que já me conhecia.
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